O câncer de testículo também pode acometer mulheres trans, travestis e pessoas de gêneros não binários. A cantora e ativista Linn da Quebrada – que participou do Big Brother Brasil 2022 –  passou por uma cirurgia para a remoção do testículo afetado pelo câncer e, em seguida, foi submetida a sessões de quimioterapia.

raça é um fator a ser considerado, uma vez que os homens brancos têm de 5 a 10 vezes mais chances de desenvolver câncer testicular do que os homens de outras raças. Herança genética também é um fator de risco para este e outros cânceres. Ou seja, quando há história familiar de câncer de testículo, o risco é aumentado.

No Twitter, Linn chegou a comentar sobre o ocorrido em respostas a alguns seguidores. “Doenças ensinam tanto. Tive um câncer e descobri que era mortal e podia morrer”, escreveu, em outubro de 2021.

Segundo informações do Gshow, a doença ocorreu em 2014, quando Linn tinha 23 anos, e, após três anos, ela conseguiu se curar do câncer —em geral, um paciente é considerado curado se depois de cinco anos continuar sem sinais da doença.

A artista ressaltou, por meio de documentário e das redes sociais, a importância do acolhimento dos profissionais de saúde para a comunidade LGBTQ+, além de estimular a realização de exames por todas as pessoas suscetíveis.

Dessa forma, ao perceber alguns sinais e irregularidades nos testículos, é necessário procurar ajuda especializada de urologistas para investigar as causas das dores e das anomalias.

Linn da Quebrada, que participou do BBB 22, se curou de um câncer de testículo que teve aos 23 anos (Fotos: Reprodução de internet)

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Câncer de testículo supera leucemia entre tumores pediátricos

Ao todo, são 74 mil novos casos anuais de câncer de testículo no mundo (35 mil deles entre 15 e 34 anos). Os dados são do Globocan 2020, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS). A Sociedade Americana de Câncer  afirma que 1 em cada 250 homens serão acometidos pela doença ao longo da vida.

No Brasil, o câncer de testículo, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca),  representa cerca de 5% de todos os casos de cânceres em homens. É o tumor mais frequente entre homens de 20 a 40 anos, ou seja, em idade produtiva, e o segundo mais comum entre adolescentes entre 15 e 19 anos, ficando atrás apenas da leucemia, que é o câncer pediátrico mais comum.

O principal fator de risco compreende a idade. Entre 15 aos 34 anos, há chance de ser confundido, ou até mesmo mascarado, por orquiepididimites (inflamação dos testículos) e dos epidídimos (canais localizados atrás dos testículos e que coletam e carregam o esperma) geralmente transmitidas sexualmente.

Comparativamente, ao contrário da faixa etária de maior incidência e prevalência, quando considerados os homens a partir de 35 anos, o câncer de testículo aparece apenas na 22ª posição, o que equivale a ser 35 vezes menos comum que o câncer de próstata.

Por que a doença acomete mais os homens mais jovens?

O urologista Heleno Diegues Paes, que atende na cidade de Santos (SP), diz que a principal explicação para comprometer principalmente os homens mais jovens é pelo fato de ser um tumor originado de células que têm um grande processo de multiplicação, que são as células germinativas. A maior atividade dessas células ocorre justamente no adulto jovem, que está no auge da sua capacidade reprodutiva.

“Como são células que se multiplicam com grande frequência e intensidade, esse tipo de câncer geralmente aparece como um nódulo no testículo de crescimento muito rápido. Alguns homens não têm uma percepção muito boa do seu genital e acabam, às vezes, descobrindo o tumor quando tem alguma pancada ou uma dor súbita”, explica.

O principal fator de risco para essa doença é uma situação chamada criptorquidia, onde algumas crianças, no desenvolvimento embrionário, não têm a descida completa dos testículos até a região da bolsa escrotal. Dessa forma, o testículo é encontrado na região das virilhas ou dentro do abdome.

“Algum histórico de trauma, o uso materno de estrogênios e também se o homem já tem algum tipo de atrofia testicular, que pode sugerir alteração celular, também pode aumentar a chance de desenvolver o tumor”, explica Heleno, que atua como médico assistente das subespecialidades Uro-oncologia e Transplante Renal do Hospital Santa Marcelina, o maior hospital da Zona Leste de São Paulo.

O mês de abril é reconhecido como o Abril Lilás, para a conscientização do câncer de testículo. Como esse tumor importante reforçar os cuidados com a saúde dos homens desde a puberdade. Visitas ao hebiatra, médico que trata da saúde dos adolescentes, acompanhadas de exames de rotina são sempre bem-vindas.

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Não dá para prevenir, só diagnosticar o mais cedo possível

A prevenção do câncer de testículo, na verdade, não existe. A principal medida que impacta na sobrevida é o diagnóstico precoce. Por isso, é fundamental realizar a palpação rotineira dos testículos, procurando um médico urologista caso observe alguma nodulação que não existia ou que vem crescendo. Felizmente, é uma doença com bom prognóstico, com taxas de cura ultrapassando os 90%.

Os cânceres de testículo não são tumores preveníveis, por isso, o diagnóstico precoce é tão importante. Como é um câncer de crescimento rápido, quanto antes for iniciado o tratamento melhores serão os resultados. Para Heleno Paes, a mensagem principal é não demorar para buscar ajuda médica.

“Homens e meninos, palpem seus testículos. Se perceberem algo estranho, procurem um urologista”, diz o Dr Heleno, que atua também preceptor do internato médico e da residência médica e dá aulas na Faculdade de Medicina Santa Marcelina. Ele ainda ressalta uma curiosidade importante sobre o autoexame.

“Muitos homens acham que no escroto só existe o testículo, mas isso não é verdade. Existem outras estruturas dentro do saco escrotal e alguns homens comparecem em consulta para averiguação, com receio de estarem com câncer. Atendo muitos homens que apalparam alguma coisa que julgaram estranha e normalmente são estruturas naturais. Mas, de fato, é prudente ir ao médico nessa situação”.

Exames de imagem, como ultrassom da bolsa escrotal e exames de sangue, que podem mostrar aumento de proteínas que são produzidas por células tumorais, são algumas das formas de identificação do tumor, mas o diagnóstico definitivo é dado pela análise direta do testículo doente pelo patologista, após cirurgia.

Baixos índices de mortalidade se houver diagnóstico precoce

Apesar dos riscos, o câncer de testículo é facilmente curado quando detectado precocemente e apresenta baixo índice de mortalidade. Mesmo com taxas de cura muito boas, existem pessoas que acabam morrendo.

Entre 2010 e 2020, cerca de 4 mil homens morreram em decorrência do câncer de testículo, e apenas 816 tinham mais de 50 anos – faixa etária de maior prevalência dos tumores urológicos.

Dados exclusivos do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da saúde e obtidos pela Sociedade Brasileira de Urologia mostram que mais de 60% das mortes pela doença acomete jovens adultos.

“A biópsia do testículo pode ser indicada quando há suspeita de uma anomalia na região, como a presença de nódulos. O procedimento deve ser realizado em ambiente de centro cirúrgico, e consiste na retirada de fragmentos teciduais para análise. Quando a suspeita do câncer de testículo é confirmada, o órgão pode ser removido no mesmo ato cirúrgico”, explica Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP-A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Tumor raro pode ser fatal ou deixar sequelas graves se negligenciado

Um tumor raro, mas que apresenta grandes chances de cura quando diagnosticado precocemente. Não é à toa que o câncer de testículo é considerado por muitos um tumor “bonzinho”. No entanto, é preciso ter atenção aos sintomas que podem identificar a doença, que pode matar ou deixar sequelas para a vida toda, se não for tratado corretamente desde o início.

O câncer de testículo se apresenta de diferentes formas: seminoma, carcinoma embrionário, teratoma, tumor de saco vitelino. Esse tipo de tumor é mais comum em homens jovens, entre os 20 e 30 anos. E, nessa faixa etária, outras doenças benignas, como inflamações ou torções de testículo são muito mais comuns.

Os sintomas podem ser muito vagos, leves e de progressão lenta, o que pode atrasar o diagnóstico, como explica o oncologista Vinícius Conceição. “Podem começar com um pequeno incômodo em um dos testículos, aumento de tamanho e volume, sensação de peso. A dor, geralmente, não é muito comum e, quando acontece, costuma ser de fraca a moderada intensidade”, reforça o médico.

Por que os homens ignoram os sinais?

O autoexame regular, o check-up periódico e a identificação dos sintomas em pessoas jovens podem propiciar o diagnóstico precoce do câncer de testículo. Por isso, estimular o diagnóstico precoce é uma das metas do Sistema Único de Saúde para garantir tratamento mais seguro.

Segundo o urologista e cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, falar sobre a saúde do pênis e dos testículos ainda é resistência para muitos homens: “Além do receio de falar sobre o assunto, os homens tendem a associar alterações nos testículos com doenças venéreas ou até mesmo traumas, e ignoram os sinais”.

Dessa forma, os principais sintomas do câncer de testículo envolvem:

Nódulo pequeno, duro e indolor

Mudança na consistência dos testículos

Sensação de peso no saco escrotal

Dor incômoda no baixo ventre ou na virilha

Desconforto no testículo ou no saco escrotal

Crescimento da mama ou perda do desejo sexual

Crescimento de pelos faciais e corporais em meninos muito jovens

Dor lombar

Tratamento inclui cirurgia, quimioterapia e radioterapia

O tratamento do câncer de testículo tem basicamente duas etapas. Quando o testículo é comprometido pelo tumor, ele precisa ser retirado imediatamente. Em alguns casos, o tratamento está associado à necessidade da retirada de um dos testículos.

Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP-A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que a biópsia do testículo pode ser indicada quando há suspeita de uma anomalia na região, como a presença de nódulos.

“O procedimento deve ser realizado em ambiente de centro cirúrgico, e consiste na retirada de fragmentos teciduais para análise. Quando a suspeita do câncer de testículo é confirmada, o órgão pode ser removido no mesmo ato cirúrgico”, explica  o médico.

O paciente passa por uma cirurgia chamada orquiectomia radical, onde o médico faz uma incisão, geralmente pela virilha, e remove ali todo o testículo comprometido e o cordão espermático. “É importante destacar que a retirada de um testículo não interfere necessariamente na capacidade de ter filhos, pois o testículo remanescente permanece funcionante”, diz Dr Heleno.

A segunda etapa do tratamento é determinada pela análise do tumor no exame anatomopatológico e pelos exames de estadiamento, onde é vasculhado o corpo à procura de metástases. “Outros tratamentos podem ser necessários, em alguns casos, como quimioterapia e radioterapia, principalmente se o tumor já tiver se espalhado para outros órgãos”, explica o oncologista Vinícius Conceição.

De acordo com os resultados, poderá ser preciso fazer a quimioterapia ou a radioterapia que, segundo o especialista, têm resultados excelentes. “É um tipo de quimioterapia capaz de promover a cura”.

Embora as chances de cura sejam altas, o tratamento, muitas vezes feito por quimioterapia, pode trazer sequelas como a infertilidade.  “Por isso, os pacientes precisam ser sempre orientados sobre esses riscos e, quando desejarem, fazer o congelamento de espermatozoides, para uma possível fertilização in vitro no futuro, já que a população mais atingida é a de homens na faixa dos 20 e 30 anos, que ainda não tiveram filhos”, explica Dr Vinicius.

Retomada no diagnóstico de câncer de testículo após queda de 31% na pandemia

Número de diagnósticos da doença reduziu em 31% em 2020 comparado com 2019. Mesmo com retomada, o número de casos em 2022 não atingiu patamar de antes da Covid-19

O Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) levantou o número de diagnósticos de novos casos dos últimos quatro anos e analisou o impacto da pandemia na realização deste procedimento no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2019, o SUS registrou 565 procedimentos de orquiectomias (retirada cirúrgica do testículo), procedimento fundamental para o diagnóstico e direcionamento do tratamento do câncer de testículos e outras doenças que acometem as gônadas masculinas.

 

No ano seguinte, a pandemia de Covid-19 afetou a continuidade de diversos serviços hospitalares devido às medidas de restrição, assim, a quantidade de diagnósticos sofreu redução em 31%, com 390 procedimentos realizados em 2020. Desde então, houve esforços dos serviços de saúde para a retomada dos diagnósticos e dos tratamentos importantes em diversas áreas médicas. Em 2021, foram registrados 409 diagnósticos de câncer de testículo; em 2022, 466 por todo o país.

Com Assessorias

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