Carla Claudia de Rezende, de 47 anos, notou uma lesão na língua e procurou atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de São José do Rio Preto (SP). O diagnóstico foi positivo para câncer e o tratamento foi feito integralmente no Sistema Único de Saúde (SUS), de forma gratuita.  “O diferencial do tratamento foram as pessoas, que te olham com carinho e com amor para efetuar o trabalho que elas estão fazendo. Isso foi essencial para o meu tratamento”, diz Carla. 

Morador de São José do Rio Preto (SP), Valdecir de Aguiar Silva, 51 anos, já foi diagnosticado duas vezes com câncer de boca. Ele buscou atendimento odontológico na Atenção Básica após descobrir uma lesão indolor na boca e hoje faz acompanhamento a cada três meses. 

No Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), o doutor achou melhor fazer uma biópsia, pois a lesão estava estranha. Feita a biópsia, veio o resultado positivo. Fiz a cirurgia no hospital, mas três meses depois veio uma nova lesão. Aí fui encaminhado para quimioterapia e radioterapia. Terminei o tratamento em janeiro”, conta Valdecir.

Na Semana Nacional de Prevenção do Câncer Bucal, que acontece no início de novembro, o Ministério da Saúde reforça as orientações sobre a importância do atendimento odontológico para o diagnóstico rápido, assim como orienta sobre a adoção de hábitos saudáveis para prevenção da doença. Esse é o 5º ano de realização da semana, que foi instituída por Lei Federal Lei nº 13.230/2015, e que coloca no calendário nacional a relevância de discutir os desafios e soluções para enfrentamento do câncer de boca. 

No Brasil, o câncer de boca é o quinto tipo de câncer mais incidente entre os homens. Entre as mulheres, ocupa a 13º posição. A estimativa é de que mais de 15 mil novas pessoas tenham a doença entre 2020 e 2022. Em 2018, ocorreram 6.455 mortes por câncer de lábio e cavidade oral, sendo 4.974 em homens e 1.481 em mulheres. 

O câncer bucal, também chamado de câncer de lábio e cavidade oral, pode aparecer nos lábios, língua, bochechas, entre outros. No estágio inicial, pode ser confundido com aftas. Os sintomas começam a se manifestar com a evolução da doença, como úlceras que não cicatrizam, dor, crescimento da lesão e sangramento. A depender do curso e estágio da doença, as pessoas afetadas podem ter comprometimento de áreas da face, necessidade de cirurgia mais invasiva, eventual perda de dentes, rouquidão, dificuldade para engolir, entre outros. 

Embora a boca seja uma região de fácil acesso para o diagnóstico, evidências mostram que a maior parte dos casos de tumores malignos nessa região é diagnosticada de forma tardia, o que pode comprometer o tratamento. Por isso, a descoberta rápida da doença é primordial para o prognóstico favorável à qualidade de vida do paciente. 

Uso de álcool e cigarro aumenta os riscos

Os casos de câncer de boca são mais comuns em homens a partir dos 40 anos. Os principais fatores de risco envolvem o consumo de tabaco (cigarro, narguilé), de bebidas alcoólicas em excesso, exposição ao sol na região dos lábios sem proteção e diagnóstico positivo para HPV. 

Os sinais mais evidentes de alerta são feridas nos lábios e na boca que não cicatrizaram após 15 dias, manchas e placas vermelhas ou esbranquiçadas na boca e sangramentos sem causa conhecida na cavidade oral. Caso o paciente identifique qualquer sintoma da doença, deve procurar atendimento médico-odontológico. 

Se você tem alguma lesão indolor por um tempo já mais estendido, que ultrapasse 15 dias, você já tem que ficar atento. Além dos hábitos que você precisa adotar para prevenção: sempre que estiver exposto ao sol estar com proteção, como um chapéu que tenha aba para cobrir a face, a boca, lábios, e evitar o consumo excessivo de álcool e de tabaco”, orienta Sumaia Coser, técnica de saúde bucal do Ministério da Saúde. 

Mais de 80 mil dentistas atendem hoje pelo SUS, sendo mais de 53 mil na Atenção Primária à Saúde, atuantes nas Equipes de Saúde da Família e Atenção Primária. Os profissionais estão preparados para fazer o diagnóstico correto e orientar a população sobre o tratamento. 

O cirurgião-dentista possui um papel fundamental na detecção e na prevenção do câncer de boca. Ele pode realizar a biópsia diretamente na unidade de Atenção Primária à Saúde ou encaminhar para um hospital. O profissional também incentiva o paciente a participar de grupos que estimulem sua vida saudável, como de cessação do tabagismo, por exemplo”, afirma Sumaia Coser. 

Bons resultados em programa no Estado do Rio

Na Semana Nacional de Prevenção do Câncer Bucal, de 1 a 7 de novembro, a gestora da Área Técnica de Saúde Bucal (ATSB) da Superintendência de Atenção Primária à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Regina Varoto, foi convidada a apresentar seu trabalho no 1º Webinar Nacional de Prevenção e Controle do Câncer de Boca.

Regina fará uma apresentação tendo como tema “Do desafio da confirmação diagnóstica ao monitoramento de Casos, como o Estado pode colaborar”. O evento é parte do 23º Encontro Nacional de Administradores e Técnicos do Serviço Público Odontológico (ENATESPO).

O convite para o webinar nasceu da admiração dos organizadores do evento pelo trabalho de Regina na SES. Desde 2015, a Área Técnica de Saúde Bucal da pasta vem auxiliando os municípios do Rio de Janeiro a identificar sinais de câncer de boca ainda nos atendimentos da atenção primária. Além disso, a secretaria contribui para a elaboração de um fluxo de atendimento que garanta o acompanhamento do paciente desde o diagnóstico até o tratamento.

Regina conta que este trabalho nasceu de um “incômodo”. Durante um encontro promovido por médicos de câncer de cabeça e pescoço, foi apontada a grande quantidade de casos avançados de câncer de boca que estavam chegando para serem tratados nas unidades de referência.

Assim, foram traçados dois desafios a serem superados. O primeiro, era a dificuldade da Atenção Primária à Saúde (APS) de identificar indícios de câncer de boca. O segundo, era a falta de uma unidade de referência com laboratório e patologista bucal para realizar o exame chamado anatomopatológico, que confirma este tipo de diagnóstico por meio de avaliação de tecidos e células do corpo.

Isso despertou a atenção da equipe da área técnica de saúde bucal. O câncer de boca é um câncer evitável e, quando diagnosticado precocemente, é tratável e curável. Então, nós começamos a trabalhar em algo que pudéssemos fazer a nível estadual para facilitar o diagnóstico precoce”, afirma Regina.

Diante deste cenário, as equipes da Área Técnica de Saúde Bucal da SES e da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do Instituto Nacional de Câncer (INCA) organizaram um curso intitulado “Manejo Odontológico do Paciente com Câncer”. O objetivo era realizar a qualificação de dentistas que atuam na Atenção Primária à Saúde (APS).

O curso é composto por duas etapas: uma virtual intitulada “ABC do Câncer” e uma presencial, coordenada pela equipe do professor e dentista estomatologista do INCA, Héliton Spíndola Antunes. Durante a etapa presencial, a aula de abertura é realizada por um representante da ATSB da SES e o conteúdo técnico ministrado pelos professores de universidades de odontologia no estado.

Regina conta que, no decorrer do curso, alguns desafios foram identificados. Entre eles, a alta rotatividade de profissionais na atenção primária e a dificuldade em pactuar laboratórios com profissionais patologistas que tenham conhecimento específico em câncer de boca para realizar os exames necessários. Outro obstáculo era a diversidade dos protocolos utilizados pelos hospitais de referência para a solicitação da vaga para tratamento.

Para enfrentar estes desafios, a Área Técnica de Saúde Bucal da SES instituiu como produto final do curso uma apresentação do fluxo para o atendimento aos pacientes com câncer de boca. Os alunos, junto às coordenações municipais de saúde bucal apresentam como é feita esta organização em seus municípios.

 “Assim, a gente vai estimulando e orientando o município a elaborar uma rede de atenção”, explica Regina.

A etapa também é conduzida pelo INCA e pela ATSB, que oferecem apoio institucional e contribuições à organização do fluxo e pactuação para referência laboratorial. Para realizar a distribuição das vagas aos municípios foi utilizado como critério o número de óbitos por câncer de boca e a cobertura de saúde bucal.  

Prevenção do câncer de boca

Além da melhora do atendimento nas unidades de saúde, o paciente também pode se prevenir do câncer de boca. O professor e doutor Helinton Spíndola Antunes, ressalta a importância de se consultar com o dentista regularmente.

“Os pacientes devem ir ao dentista sempre que acharem que há qualquer alteração na boca. Os profissionais da Atenção Primária estão lá para atendê-los e podem verificar se houver indícios da doença”, explica Spíndola.

O dentista também aponta a importância de evitar os agentes etiológicos do câncer, que são os fatores que causam a doença. Entre eles, o doutor cita o tabagismo e o etilismo, isso é, o consumo de cigarro e álcool. Uma boa dieta, rica em vitaminas A e E, também ajuda na prevenção.

O webinar será nesta quarta (4/11), às 11h. Ele estará disponível para o público em transmissão online. Para assistir acesse o canal no Youtube do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Ou clique no link: bit.ly/Webinario2020CancerDeBoca

Semana Nacional de Prevenção e Controle do Câncer de Boca

O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) promove dez webinares versando sobre variados assuntos. No dia 3, às 19h, Israel Chilvarquer, mestre e doutor em Clínicas Odontológicas, vai abordar o tema “Novos paradigmas do uso das tomografias de alta resolução na Endodontia”.

Já no dia 5, no mesmo horário, a proposta será orientar sobre abertura de empresa e gestão, com o contador Ricardo Lemos Coelho, na palestra “Pensando em ser uma Pessoa Jurídica? Orientações de um Contador para abrir e manter uma empresa da melhor forma!”.

Por ocasião da Semana de Prevenção do Câncer Bucal, nos dias 6 e 7, às 18h e às 10h, respectivamente, vários palestrantes irão discutir temas pertinentes ao assunto. Todos os webinares poderão ser acessados no canal da TV CROSP no canal do YouTube.

No dia 10, às 19h, por sua vez, Denise Tibério, presidente da Câmara Técnica de Odontogeriatria do CROSP, e Antonio Carlos Moura, especialista em Gerontologia, discutirão atendimento a domicílio de pacientes idosos e os cuidados a serem tomados, na palestra “Odontologia domiciliária – atividade promissora”.

Além das palestras acima, serão transmitidas “Publicidade Odontológica e a Ética Profissional”, no dia 12, às 19h; “Fiscalização do CROSP”, “Como evitar um processo ético” e “Próteses Cirúrgicas: do planejamento à reabilitação”, nos dias 17, 19 e 24, às 18h, respectivamente; e “O trabalho fundamental do Auxiliar e do Técnico em Saúde Bucal na Biossegurança em tempos de pandemia”, no dia 26, às 19h.

Da Agência Saúde, com Redação

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