O dia 29 de outubro traz um alerta vital para a saúde pública do Brasil. A data marca o Dia Mundial e Nacional de Prevenção e Combate ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame. E por que essa data é tão crucial? Porque, como você confere em nosso especial aqui no Portal Vida e Ação, o AVC é, atualmente, a segunda principal causa de morte no Brasil e incapacidade no país.
É isso mesmo: a doença mata mais do que o infarto. Dados recentes mostram que a cada 6 ou 7 minutos, uma pessoa morre vítima do AVC no nosso país. Em 2024, por exemplo, foram mais de 85 mil óbitos. O AVC foi o tema do quadro Vida e Ação desta segunda-feira, no programa Painel, da Rádio Roquette Pinto (94,1 FM).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o AVC é a segunda principal causa de morte e a terceira de incapacidade no mundo. No mundo, são mais de 12 milhões de casos anuais, com quase sete milhões de óbitos. O relatório Global Burden of Diseases mostra que, entre 1990 e 2021, o número de casos aumentou 70%.
No Brasil, o cenário é igualmente preocupante. O país registra, em média, um novo caso de AVC a cada dois minutos e seis mortes por hora. Dados do portal avc.org.br indicam 84.878 mortes por AVC em 2024, número superior ao de óbitos por infarto no mesmo período. A incidência anual varia entre 232 mil e 344 mil novos casos, com destaque para o avanço entre pessoas com menos de 50 anos.
O alerta para os jovens
A incidência de acidente vascular cerebral (AVC) entre jovens tem aumentado no Brasil e no mundo. Segundo estudo publicado pela revista científica Neurology Journals, da American Academy of Neurology, jovens adultos, com idades entre 15 e 34 anos, correspondem a 15% do total de casos globalmente. Em território nacional, de acordo com a Rede Brasil AVC, o número aumenta para 18%.
Tradicionalmente, associamos o AVC à idade avançada, mas o cenário está mudando de forma alarmante. O Vida e Ação destaca que o AVC em jovens — pessoas entre 18 e 45 anos — está crescendo no Brasil. Nos últimos cinco anos, houve um aumento de mais de 20% nos casos em adultos jovens”, enfatizou a jornalista Rosayne Macedo, editora do Vida e Ação.
Eles não estão imunes! Entre os jovens, os fatores de risco incluem doenças cardíacas não diagnosticadas, o uso de anticoncepcionais combinado com o tabagismo e, principalmente, o estilo de vida contemporâneo: estresse crônico, noites mal dormidas, alimentação ultraprocessada, e o uso excessivo de álcool e drogas ilícitas.
A coordenadora da Unidade Neurológica do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), Mariana Vidal, explica que, embora o “derrame” seja mais comum em idosos, pode atingir até crianças, conforme demonstram recentes análises que apontam aumento na incidência entre pessoas com menos de 55 anos.
Os dados são alarmantes e refletem o estilo de vida pouco saudável, com aumento dos fatores de risco como hipertensão arterial, obesidade, diabetes, colesterol elevado, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e uso de drogas ilícitas. Vale ressaltar que, controlando esses fatores, é possível reduzir em até 90% o risco de ter um AVC”, destaca.
Entre os fatores mais preocupantes estão o sedentarismo, agravado pelo uso excessivo de telas, o consumo de álcool e cigarro, além da alimentação ultraprocessada e pobre em nutrientes. Esses hábitos favorecem o desenvolvimento de hipertensão, obesidade, colesterol alto e diabetes. O estresse excessivo e a má qualidade do sono também aumentam o risco.
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Prevenção, diagnóstico e reabilitação
A boa notícia, reforçada por neurologistas, é que até 90% dos casos poderiam ser evitados com hábitos de vida saudáveis, como controlar a pressão arterial, ter uma dieta equilibrada e praticar exercícios. A prevenção é o caminho mais eficaz.
Estima-se que nove em cada dez AVCs poderiam ser prevenidos com o controle de fatores de risco. A hipertensão arterial é o principal deles, seguida de diabetes, colesterol elevado, tabagismo, obesidade e sedentarismo.
Para o neurologista Jamary Oliveira (foto acima), coordenador da UTI Neurológica e do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS)., a abordagem preventiva deve começar cedo. “O AVC não é mais uma doença exclusiva dos idosos. Há um aumento expressivo entre adultos jovens, muitas vezes por hábitos de vida inadequados e falta de acompanhamento médico”, alerta.
A revolução no tratamento pelo SUS
Felizmente, o Brasil deu um passo gigantesco no tratamento. Desde 2023, o Sistema Único de Saúde, o SUS, passou a oferecer a Trombectomia Mecânica. Este é um procedimento minimamente invasivo, onde um cateter é usado para remover o coágulo que está bloqueando o fluxo sanguíneo no cérebro.
Estudos, inclusive liderados por pesquisadores brasileiros, mostram que esta técnica pode aumentar em até três vezes a chance de o paciente ser independente após um AVC grave, com menos sequelas e menor mortalidade. É uma tecnologia que devolve a capacidade funcional e minimiza o impacto social da doença.
Para ter sucesso, a Trombectomia Mecânica precisa ser realizada o mais rápido possível, idealmente até 8 horas, e no máximo, até 24 horas do início dos sintomas. A expansão desse tratamento para mais hospitais do SUS é um desafio contínuo, mas representa um avanço inquestionável para a saúde pública.
E depois do AVC?
A reabilitação multidisciplinar é fundamental para todas as idades, mas tem impacto ainda maior entre os jovens, que muitas vezes estão em fase produtiva, de estudos, trabalho e vida social.
O acompanhamento com fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia e terapia ocupacional é essencial para a recuperação funcional, emocional e cognitiva, ajudando o paciente a retomar suas atividades e autonomia”, ressalta Mariana.
Após o diagnóstico por tomografia ou ressonância magnética, o tratamento pode envolver uso de medicamentos anticoagulantes, controle da pressão arterial e, em alguns casos, intervenção neurocirúrgica. A reabilitação multidisciplinar — com fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional — deve começar o quanto antes para minimizar sequelas motoras e cognitivas.
Apesar dos avanços tecnológicos e da existência de centros especializados, a realidade brasileira ainda é marcada por desigualdades no acesso. Muitas regiões não dispõem de unidades com tomografia 24 horas, o que compromete o diagnóstico e o tratamento precoce.
Investir em redes regionais de atendimento, campanhas de conscientização e capacitação das equipes de saúde é considerado essencial por especialistas para reduzir o impacto da doença”, afirma o especialista.
Rapidez no socorro médico é fundamental no prognóstico
O derrame cerebral ocorre quando há interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro, seja por entupimento (AVC isquêmico) ou rompimento de um vaso (AVC hemorrágico). Sem a chegada de sangue e oxigênio, as células cerebrais começam a morrer em poucos minutos, o que pode causar sequelas neurológicas graves, como dificuldade para falar, mover-se ou enxergar.
Quando o AVC isquêmico ocorre — que corresponde a 80% dos casos, ou seja, quando uma artéria cerebral é obstruída —, a cada minuto perdido, o paciente perde cerca de 1,9 milhão de neurônios. Por isso, a rapidez é tudo.
O tempo é um fator determinante no prognóstico. Cada minuto perdido pode significar milhões de neurônios comprometidos. Quanto mais rápido o diagnóstico e o início do tratamento, maiores as chances de recuperação funcional”, afirma o neurologista Jamary Oliveira, coordenador da UTI Neurológica e do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS).
OAVC ocorre quando há interrupção ou ruptura do fluxo sanguíneo cerebral, provocando morte de células nervosas. Especialistas chamam a atenção para a importância da prevenção e do reconhecimento precoce dos sintomas. A médica neurologista Mariana Vidal, reforça que os sintomas de alerta não devem ser ignorados e exigem atendimento imediato.
Os sinais mais comuns são perda súbita de força ou sensibilidade em um lado do corpo, desvio da boca, fala enrolada, alterações visuais, desequilíbrio ou dor de cabeça muito intensa”, detalha.
O neurologista Jamary Oliveira afirma também que os sintomas surgem de forma súbita e devem ser reconhecidos rapidamente. Fraqueza ou dormência em um dos lados do corpo, dificuldade para falar ou compreender, perda de visão súbita, tontura, desequilíbrio ou dor de cabeça intensa sem causa aparente são sinais de alerta.
Nesses casos, a orientação é acionar imediatamente o SAMU (192) ou serviço privado de ambulância e informar o horário exato em que os sintomas começaram”, pontua.
Sinais de alerta: como salvar uma vida
O fator que mais salva vidas no AVC é o tempo. Tempo é vida! Por isso, você e sua família precisam conhecer o método simples de identificação, o acrônimo SAMU:
- S de Sorriso: Peça para a pessoa sorrir. O sorriso está torto ou caído?
- A de Abraço/Braço: Peça para a pessoa levantar os dois braços. Um braço perde a força e cai repentinamente?
- M de Mensagem ou Música: Peça para a pessoa cantar ou falar uma frase simples. A fala está enrolada, confusa ou ela não consegue se expressar?
- U de Urgência: Se qualquer um desses sinais aparecer, chame o serviço de emergência imediatamente ligando para o 192.
Reconhecer os sinais e agir rápido faz toda a diferença entre a recuperação e uma sequela grave, ou a morte. Portanto, neste Dia Mundial do AVC, a mensagem do Vida e Ação é clara: Prevenção, Informação e Ação Rápida. Cuide da sua saúde e fique atento aos sinais.
Para aprofundar-se nos números, riscos e no avanço no tratamento do AVC no SUS, acesse o nosso Especial AVC no portal Vida e Ação.
Com Assessorias






