No Brasil, em 2024, o AVC foi a causa de 84.878 óbitos, de acordo com o Portal da Transparência dos Cartórios de Registro Civil do Brasil. Já de 1º de janeiro até 5 de abril de 2025 (última atualização disponível), 18.724 brasileiros morreram vítimas da doença, o equivalente a uma morte a cada sete minutos.
O multi-instrumentista, cantor e compositor sofreu um AVC hemorrágico em março de 2017, depois de passar mal em casa, e ficou quase um ano e meio internado. Desde então, ele lidava com as complicações da doença e passou por várias internações longas. O artista não se apresentava mais.
Talvez hoje seja um dos dias mais leves que estou tendo, apesar de ainda desnorteado. Ver meu pai vivo, com dor, sofrendo, era algo que me fazia questionar tantas coisas”, disse o também cantor. “Ele precisava descansar. Ver meu pai sofrendo era muito pior do que qualquer outra coisa. Um pai tão maneiro, tão inteligente”, contou.
Desfile na cadeira de rodas na Sapucaí
Em seu legado musical, Arlindo Cruz deixa 847 composições e 1.844 gravações cadastradas no banco de dados da gestão coletiva da música no Brasil. Ele escrevia com o coração e a alma. Suas letras entoavam o amor, a fé e a luta, traduzindo o cotidiano de milhares de brasileiros. Entre os maiores sucessos estão O Show Tem que Continuar, Meu Lugar e Bagaço de Laranja.
Arlindo era ‘o sambista perfeito’
Fiel à sua religião, o candomblé, e aos Orixás, Arlindo era defensor fervoroso da cultura popular, foi torcedor apaixonado do Flamengo e lutava contra a intolerância. Em comunicado publicado nas redes sociais, a família informou a morte e agradeceu as mensagens de amor, apoio e carinho que receberam nos últimos anos, e em especial agora na hora da partida.
Arlindo parte deixando um legado imenso para a cultura brasileira e um exemplo de força, humildade e paixão pela arte. Que sua música continue ecoando e inspirando as próximas gerações, como sempre foi seu desejo”, diz a nota.
Ele era apelidado por admiradores e amigos de “o sambista perfeito”, em referência a uma de suas composições, em parceria com Nei Lopes. O apelido acabou virando título de uma biografia lançada este ano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou nesta sexta-feira (8) a morte do sambista Arlindo Cruz. Segundo Lula, Arlindo foi um dos compositores e artistas mais talentosos e respeitados do Brasil.
Em essência, o Sambista Perfeito. Arlindo nos deixa um legado de talento, poesia e generosidade, que ficará para sempre na nossa memória. Minha solidariedade à família, aos amigos e a todos que foram tocados por sua arte”, disse o presidente, em nota.
Prefeitura do Rio decreta luto e dá nome de Arlindo Cruz ao futuro Parque Piedade
A Prefeitura do Rio decretou luto oficial de três dias pela morte do mestre do samba carioca Arlindo Cruz. Outra homenagem prestada ao genial compositor foi a decisão de dar o seu nome ao futuro Parque Piedade, que fica no bairro de mesmo nome, na Zona Norte. As homenagens já foram publicadas em edição extra do Diário Oficial.
Batizar o Parque Piedade com o nome de Arlindo Cruz teve por motivação a sua profunda identificação com o subúrbio carioca. A previsão é a de que o novo espaço público seja inaugurado até o fim deste ano”, informou a prefeitura.
O Parque Piedade Arlindo Cruz foi erguido em uma área de aproximadamente 18 mil metros quadrados, onde funcionava a antiga Universidade Gama Filho. Ele terá áreas de lazer, além de um centro cultural, esportivo e educacional. Estão ainda previstos parcão, academia e campo de futebol. Além disso, os frequentadores poderão contar com parque infantil e uma área com aparelhos de ginástica.
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Trajetória coroada em Madureira
Nascido em 14 de setembro de 1958, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Arlindo Domingos da Cruz Filho cresceu embalado pelo batuque das rodas de samba. Além de escrever e cantar, Arlindo ficou famoso por tocar cavaquinho e banjo. Ganhou o primeiro cavaquinho aos 7 anos. Aos 12, começou a tocar músicas “de ouvido” e aprendeu violão ao lado do irmão Acyr Marques.
Ainda muito jovem, começou a trabalhar como músico, ao lado de grandes artistas, como Candeia. Mais tarde foi para a Escola Preparatória de Cadetes do Ar, mas sem jamais abandonar a música. Quando deixou a Aeronáutica, Arlindo Cruz passou a frequentar as rodas de samba do Cacique de Ramos, ao lado de Jorge Aragão, Beth Carvalho, Almir Guineto, Zeca Pagodinho e Sombrinha, que viria a ser seu grande parceiro.
Ali, recebeu o convite para participar do grupo Fundo de Quintal. em substituição a Jorge Aragão. Foi nesse tempo que o samba ganhou nova forma, com uma sonoridade moderna, mas sem perder a essência dos quintais e terreiros. Suas composições logo passaram a figurar nas vozes de Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Alcione e tantos outros. Foram, então, 12 anos de trabalho, deixando o grupo em 1993, para se lançar em carreira solo.
E como diria Arlindo, o show em que continuar. Agora, é missão da família de cuidar do legado de Arlindão, como era carinhosamente conhecido. A Lei dos Direitos Autorais (9.610/98) determina que os herdeiros de Arlindo Cruz receberão os rendimentos em direitos autorais por suas músicas por 70 anos após sua morte (ou de autores parceiros, no caso de músicas feitas em parcerias).
Com informações da Agência Brasil e Ecad