A popularização de medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro nas redes sociais gerou uma corrida desenfreada às farmácias e, consequentemente, a abertura de um mercado paralelo perigoso. Diante do aumento de casos de falsificação e do uso indiscriminado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e as principais sociedades médicas do país emitiram alertas rigorosos para proteger a saúde pública.

O uso dessas substâncias, conhecidas como agonistas de GLP-1, sem orientação médica e com procedência duvidosa, é considerado um risco grave. Segundo a Anvisa, a comercialização de versões falsas desses fármacos é, inclusive, tipificada como crime hediondo no Brasil.

Golpes na internet e sites falsos

Em outubro, a agência identificou uma rede de anúncios fraudulentos que utilizavam, inclusive, domínios falsos simulando o site oficial do governo (como o endereço inexistente gov.anvisa.org). Os criminosos oferecem os medicamentos com preços abaixo do mercado ou prometem distribuição gratuita via Governo Federal após um cadastro de dados.

A Anvisa reforça: a agência não vende medicamentos nem serve como intermediária. A orientação é clara: nunca clique em links suspeitos e compre apenas em farmácias e drogarias regularizadas, exigindo sempre a nota fiscal.

O risco das versões manipuladas

Um dos pontos de maior tensão envolve as farmácias de manipulação. No dia 1º de dezembro, entidades como a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) protocolaram um pedido de suspensão cautelar nacional da fabricação e venda de versões manipuladas de semaglutida e tirzepatida.

César Eduardo Fernandes, presidente da AMB, alerta que o cenário atual ultrapassa a irregularidade pontual: “O que vemos é um sistema estruturado de fabricação e venda clandestina, com risco real e imediato para a saúde dos pacientes”.

Os médicos destacam que esses peptídeos são moléculas complexas que exigem processos industriais sofisticados e cadeia fria (refrigeração) ininterrupta. Entre os riscos clínicos do uso de versões “piratas” ou manipuladas sem rigor estão:

  • Toxicidade por superdosagem ou ineficácia por subdosagem;

  • Contaminação bacteriana, causando infecções graves;

  • Pancreatite e desidratação severa;

  • Reações alérgicas graves devido a impurezas.

O que diz a regra: o que pode e o que não pode ser manipulado

Para sanar dúvidas sobre a legalidade da manipulação, a Anvisa publicou a Nota Técnica 200/2025. A regra principal diferencia a origem do insumo (IFA):

  1. Origem biotecnológica (ex: Semaglutida/Ozempic): A manipulação não está autorizada. Como a segurança depende de um banco de células único e processos industriais específicos, não se pode replicar o produto em farmácias magistrais. Só é permitida a importação do insumo se ele for exatamente do mesmo fabricante registrado na Anvisa.

  2. Origem sintética: A manipulação só é permitida se já existir um medicamento de referência registrado no Brasil com aquela mesma molécula sintética.

Fiscalização rigorosa: A Anvisa determinou que a importação desses insumos passará pelo “Canal Amarelo” da Receita, com retenção dos lotes para testes de qualidade em solo brasileiro antes da liberação para o comércio.

Além disso, a Anvisa proibiu especificamente a entrada no país de produtos sem registro como T.G. 5, Lipoless e Tirzazep. Se encontrar esses nomes, denuncie imediatamente às autoridades sanitárias.

Dicas para o consumidor: como identificar o produto original

A farmacêutica Natally Rosa orienta que o paciente deve ser o primeiro fiscal da sua saúde. Antes de aplicar o medicamento, observe:

  • O idioma: A embalagem e a bula devem estar obrigatoriamente em português. Se estiver em língua estrangeira, o produto é ilegal.

  • Dados de rastreio: Lote e validade devem estar visíveis e legíveis na caixa e no corpo da caneta.

  • Preço: Desconfie de valores muito abaixo dos praticados por grandes redes de farmácias.

  • Receita médica: O estabelecimento que vende esses produtos sem exigir e reter a receita médica está cometendo uma infração sanitária.

Com informações da Agência Brasil e AMB

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