Com os casos de dengue crescendo em todo o país, qualquer sintoma relacionado à doença já acende uma luz vermelha – febre, dor de cabeça, dores no corpo, dor atrás dos olhos, fadiga, manchas vermelhas, entre outros – e merecem atenção. E um dos erros mais comuns é que pessoas, por desconhecerem as consequências, tentam amenizar os sintomas com a automedicação, que é um grande risco, especialmente se, de fato, o diagnóstico for positivo para a dengue.
Por isso, especialistas alertam sobre os medicamentos contraindicados para casos de suspeita de dengue. Na dúvida, o mais correto é sempre buscar auxílio em um Pronto Atendimento, Unidade Básica de Saúde e outros serviços do gênero. Afinal, os índices do Ministério da Saúde (MS) ressaltam que a proliferação da doença em nosso país segue em ritmo acelerado: desde janeiro deste ano foram registrados mais de 920 mil casos prováveis de dengue, com 184 óbitos,
Uma combinação de fatores reacendeu o alerta sobre o avanço da dengue no Brasil. Período chuvoso, com temperaturas elevadas, combinado com o ressurgimento, nos últimos anos, dos sorotipos 3 e 4 do vírus no país, forma um cenário preocupante. Segundo o Ministério da Saúde, a estimativa é que, neste ano, o número de casos da doença chegue a 5 milhões.
Além de adotar medidas de prevenção e controle da dengue, como eliminar criadouros do Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença, e tomar a nova vacina disponível, outra recomendação importante é buscar cuidados médicos imediatos e realizar os exames para diagnóstico desde os primeiros sintomas para evitar agravamentos.
Anti-inflamatórios não são indicados para dengue
Clínica geral e coordenadora do Pronto Socorro do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), Carla Roballo Bertelli destaca que uma das principais classes de medicamentos a serem evitados são os anti-inflamatórios, que muitas vezes são comercializados sem receita médica e podem levar a sérias complicações.
“Por interagirem com as plaquetas (que atuam no sistema de defesa do corpo e têm função de coagular o sangue), diminuem a função plaquetária e reduzem a coagulação sanguínea. Com isso, os anti-inflamatórios podem aumentar o risco de hemorragia, agravando a doença”, explica.
Ela destaca que as hemorragias desencadeadas podem ser internas, levando a um risco maior de complicações pela doença. Por isso, ela também alerta que as pessoas que fazem uso de ácido acetilsalicílico, o popular AAS (também conhecido pelo nome comercial de aspirina), cuja função é analgésica e antiagregante, precisam de atenção especial, principalmente nos pacientes que fazem uso rotineiro.
“Nesses casos, temos que fazer um acompanhamento clínico diário, para avaliar plaquetas e ver se há a necessidade de suspensão da medicação”, esclarece.
“A automedicação deve ser evitada, principalmente os medicamentos à base de ácido acetilsalicílico e anti-inflamatórios, que aumentam o risco de sangramentos”, ressalta a infectologista do São Cristóvão Saúde, Michelle Zicker.
Cuidados devem ser mantidos em casa
Em casa, a recomendação é ingerir muito líquido, para garantir uma boa hidratação. “A dengue provoca inflamação e faz o líquido ‘escapar’ dos vasos sanguíneos e, por isso, a hidratação deve ser muito rigorosa. Além de água, chás, água de coco e suco, é importante ingerir soros, encontrados em farmácias e postos de saúde, para repor os sais perdidos pelo corpo”, salienta a médica.
A dengue é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti contaminada pelo vírus. Os sintomas iniciais são febre alta, com duração de dois a sete dias; dores de cabeça, no corpo, nas articulações e atrás dos olhos; fadiga; e manchas vermelhas pela pele. Em casos mais graves, são acompanhados de dor abdominal intensa e contínua, vômitos, acúmulo de líquidos, sangramento de mucosa e irritabilidade.
“Em qualquer uma dessas situações, o mais adequado é não se automedicar e se dirigir a um serviço médico para uma avaliação mais profunda. Serão colhidos exames de sangue, para ajudar a identificar a gravidade do quadro, e o paciente receberá informações de quando voltar ao serviço médico em casos de agravamento e evolução da doença”, conclui.
Quando os sintomas podem se agravar
Michelle explica que os sintomas da dengue são facilmente confundidos com o de uma gripe e aparecem de 3 a 15 dias após a picada do mosquito. Incluem febre, dores de cabeça e atrás dos olhos, nos músculos e articulações, cansaço intenso e podem aparecer manchas avermelhadas no corpo.
Ao apresentar febre (acima de 38º C) e dois desses sinais ou sintomas, o paciente deve procurar um serviço de saúde para avaliação médica.
Nos casos de dengue grave, entre o 3º e 7º dia de infecção, surgem novos sintomas como sangramentos das mucosas, dor abdominal intensa, vômitos persistentes, dificuldade de respirar, sonolência e confusão mental.
“Aos primeiros sintomas, a pessoa deve buscar uma unidade de saúde imediatamente. Quanto mais cedo o paciente buscar ajuda médica, maiores são as chances de uma rápida recuperação”, alerta a infectologista.
Segundo a médica, o diagnóstico é essencialmente clínico, mas existem exames laboratoriais específicos que podem confirmar a suspeita da doença.
Diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações
Entre os exames disponíveis, o teste rápido NS1 se destaca por identificar a infecção em estágios iniciais, quando os sintomas podem ser sutis, mas o vírus está ativo.
A detecção precoce é fundamental para iniciar um tratamento adequado e evitar complicações e desfechos mais graves da doença. Para isso, o médico infectologista do Sabin Diagnóstico e Saúde, Alexandre Cunha, destaca o teste rápido, que faz esse diagnóstico na fase aguda e ativa da doença.
“Especialmente indicado nos primeiros dias de sintomas, o exame tem como diferencial identificar a presença da proteína NS1 (Non-Structural Protein 1) durante os estágios iniciais da infecção”, detalha.
Uma das principais vantagens deste teste é a rapidez com que fornece resultados. “O exame de Dengue NS1 oferece diagnósticos em um tempo significativamente menor, permitindo intervenções médicas mais rápidas e eficazes, importantes devido à urgência do diagnóstico”, explica.
Além da rapidez, com o resultado entregue no mesmo dia, o teste de NS1 segue as melhores práticas em análises clínicas.
Certificações, como o CAP, do College of American Pathologists; e PALC, do Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos, da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial asseguram que as amostras são coletadas por profissionais capacitados e analisadas por técnicos com formação e experiência para emitir laudos que auxiliam os médicos nos diagnósticos mais precisos.
Cunha explica, ainda, que o método permite diagnosticar a dengue independentemente do tipo do vírus que infectou o paciente (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4 – todos em circulação atualmente no Brasil). A sensibilidade do teste NS1 é mais alta no terceiro dia de febre e diminui gradualmente até que se inicie a produção de anticorpos e, com isso, a neutralização do antígeno.
Outros exames tradicionais de sorologia podem identificar a infecção depois do quinto dia de sintomas até o período de recuperação da doença. Eles são realizados com base na detecção dos anticorpos IgM e IgG, que só são produzidos pelo organismo contaminado após o 4º ou 5º dia do aparecimento dos primeiros sintomas.
“Quando o NS1 já não está mais presente e há a suspeita da doença persistente ou em pessoas com mais de cinco a sete dias de sintomas, recomenda-se a pesquisa de anticorpos IgM”, esclarece.
Segundo o infectologista, nos exames tradicionais, os anticorpos IgM não ficam positivos em uma infecção por um segundo sorotipo, que são justamente os casos de maior risco de complicações.
Com Assessorias