Urticária e dor abdominal em casos leves; anafilaxia, com risco de parada respiratória e até óbito em casos graves: essas são algumas possíveis reações de quem possui alergia alimentar, resposta do sistema imunológico a proteínas específicas. A condição afeta cerca de 8% das crianças até dois anos e 2% dos adultos e reforça a importância do diagnóstico precoce e correto, do acompanhamento profissional e das medidas de prevenção.
Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) mostra a prevalência de alergia alimentar (AA) em idosos. O levantamento concluiu que nas últimas décadas houve um aumento na prevalência de AA (e de outras doenças alérgicas) na faixa etária acima dos 60 anos, com mecanismos patogênicos e sintomas peculiares que, muitas vezes, dificultam o correto diagnóstico.

Diversos fatores influenciam a perda da tolerância imunológica e a maior suscetibilidade à AA no idoso. O consumo exagerado de álcool, infecções crônicas, multimorbidade, polimedicação e efeitos colaterais de medicamentos podem ser citados como fatores de risco adicionais para a sensibilização a alérgenos alimentares em idosos.

Destacam-se as alterações na composição da microbiota intestinal, o declínio na função de barreira intestinal e a mudança da resposta imune adaptativa para um padrão Th2 (imunosenescência), levando a dano persistente e inflamação do epitélio intestinal”, explica o Professor Dr. José Laerte Boechat, que coordenou a pesquisa, e com a participação de vários alergistas e imunologistas brasileiros.

Quanto aos alimentos mais comumente envolvidos destacam-se os frutos do mar, leite de vaca e frutas frescas. Já as manifestações clínicas envolvendo a pele e o trato gastrointestinal são as mais frequentes. Não foram observadas diferenças na prevalência de alergia alimentar nos idosos em relação a nível de escolaridade ou região de residência (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul).

“Apesar de sabermos que estudos epidemiológicos baseados no auto-relato tendem a superestimar os achados, nossos resultados estão em linha com estudos semelhantes realizados em outras regiões do mundo (nomeadamente nos EUA). Além do mais, trata-se do primeiro estudo nacional sobre o tema, lançando luz sobre um assunto não estudado até o momento em nosso País”, ressalta o coordenador da pesquisa.

Até o momento, quase todos os estudos sobre prevalência de AA em adultos e idosos foram realizados na Europa ou nos Estados Unidos. Utilizando questionário padronizado e validado para a língua portuguesa, Dr. Boechat realizou um estudo brasileiro epidemiológico transversal pioneiro, com o objetivo de conhecer a prevalência de AA auto-relatada em idosos (≥ 60 anos).

Os questionários foram aplicados por médicos alergologistas associados à ASBAI em todas as cinco regiões do Brasil, no período de outubro de 2022 a outubro de 2023, envolvendo um total de 632 idosos.

Os resultados preliminares mostram que a prevalência de AA auto-relatada em idosos brasileiros varia entre 5,5% e 18,8% (dependendo dos critérios considerados), predominando no sexo feminino e em idosos com história pessoal e familiar de alergia.

Leite, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar são os principais alimentos desencadeadores de alergia alimentar. No entanto, vários outros alimentos vêm paulatinamente ocupando espaço na lista dos alérgenos, caso das sementes (destaque para o gergelim) e algumas frutas. A frequência de alergia a amendoim e castanhas aumentou entre a população pediátrica brasileira nos últimos anos.

“Chamo atenção para as festas de fim de ano, quando é muito comum o consumo de nozes e outros tipos de castanhas”, alerta Lucila Camargo, Coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Asbai. 

Os sintomas da alergia alimentar são bastante variados, destacam-se os sintomas cutâneos, gastrointestinais, respiratório e cardiovasculares, incluindo a anafilaxia, a reação alérgica mais grave e que pode levar à morte caso o tratamento de emergência não seja aplicado – a adrenalina. “Para os sabidamente alérgicos é importante carregar um kit de medicamentos de emergência e um plano de ação, prescrito por especialista, para o caso de reações por contato inadvertido”, ressalta Dra. Lucila.

No Brasil não há estatísticas oficiais sobre alergia alimentar, porém, a prevalência parece se assemelhar com a literatura internacional, que mostra cerca de 8% das crianças, com até dois anos de idade, e 2% dos adultos com algum tipo de alergia alimentar.

Como lidar com as alergias alimentares sazonais

Nutricionista explica como a alimentação pode fortalecer o sistema imunológico e reduzir reações alérgicas

Dia Mundial da Alergia, comemorado em 8 de julho, é uma data importante para a conscientização da população sobre como lidar com as alergias sazonais, especialmente durante as épocas mais frias. A alimentação tem papel crucial na prevenção e no alívio dos sintomas dessas alergias, pois uma dieta balanceada pode influenciar diretamente o sistema imunológico, reduzindo inflamações e melhorando a saúde intestinal.

De acordo com a nutricionista Carla Fiorillo, coordenadora de Conteúdo do Professional HUB da Puravida, “uma dieta rica em alimentos naturais, com diversidade de nutrientes e fibras, tem um efeito positivo sobre a flora intestinal e, por consequência, fortalece a barreira imunológica. Isso é fundamental para reduzir a incidência e a gravidade das alergias sazonais”, explica.

A especialista ressalta que alimentos ricos em vitaminas A, D, E, zinco, ferro e selênio são poderosos aliados na modulação do sistema imune. “Alimentos anti-inflamatórios como frutas, vegetais, nozes e sementes, além de fontes de ômega 3 e fitoquímicos, podem reduzir a inflamação alérgica e melhorar a resposta do corpo frente aos agentes externos”, explica a nutricionista.

Além de uma alimentação saudável, a suplementação de certos nutrientes pode ajudar a amenizar os sintomas de alergias sazonais. “A vitamina D, por exemplo, tem mostrado efeitos positivos na modulação da resposta imunológica, sendo indicada para quem sofre com alergias sazonais”, diz Carla, que também indica nutrientes como vitamina A, zinco e selênio, contribuindo para o bom funcionamento do sistema imune e para a prevenção de quadros de alergia sazonal.

A fibra prebiótica, também pode ser uma excelente opção, já que contribui para o equilíbrio da flora intestinal, favorecendo o crescimento de bactérias benéficas e reduzindo a inflamação no corpo. “Com a saúde intestinal em dia, o sistema imunológico funciona de forma mais eficiente, o que ajuda a reduzir a intensidade dos sintomas alérgicos”, acrescenta a nutricionista.

Ou seja, para Carla, a chave para ajudar a controlar as alergias sazonais pode estar em uma alimentação balanceada, rica em nutrientes anti-inflamatórios e, se necessário, na suplementação com produtos que favoreçam o sistema imunológico e a saúde intestinal. E vale reforçar que o ideal é ter um acompanhamento de um nutricionista, para que cada caso seja avaliado individualmente.

A nutricionista Lígia Vieira Carlos, também do Vera Cruz, reforça que a conscientização da família e o planejamento alimentar são essenciais para garantir a segurança e o bem-estar dos pacientes. O tratamento mais eficaz continua sendo a exclusão total do alimento alergênico, e medidas como ler rótulos com atenção, higienizar utensílios e separar os alimentos são fundamentais para prevenir acidentes.

A especialista ainda destaca a importância de diferenciar alergia de intolerância alimentar. “A intolerância é causada por uma deficiência enzimática, como no caso da lactose, e não envolve o sistema imunológico. Já a alergia provoca uma reação imunológica, que pode ser confirmada por exames específicos”, explica.

Tratamento com dessensibilização amplia possibilidades e melhora a qualidade de vida

Ovo é um dos alimentos mais comuns na alergia alimentar (Foto: Freepik)

 

Os alimentos mais comuns incluem leite e ovo (especialmente entre crianças), além de trigo, amendoim, castanhas, nozes, camarão, mariscos e peixes. Mesmo traços mínimos desses ingredientes — presentes em receitas ou em utensílios contaminados — podem desencadear reações severas.

“É uma reação muito rápida, e o principal perigo está em subestimar os sintomas. A pessoa pode parecer bem e, em poucos minutos, desmaiar ou ter uma crise grave de asma”, alerta o alergologista Celso Henrique de Oliveira, do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP). “O contato mínimo com o alérgeno pode provocar uma resposta intensa. Por isso, é essencial evitar a contaminação cruzada, tanto em casa quanto em locais como restaurantes e escolas”, explica.

A boa notícia, de acordo com o médico, é que em alguns casos é possível recorrer à dessensibilização oral — um tratamento realizado sob supervisão médica, com a introdução gradual e controlada do alimento causador da alergia, a fim de reeducar o organismo. “Embora eficaz para alergias como as de leite e ovo, o método ainda não é indicado para todos os casos, como os de alergia a amendoim e frutos do mar”, pondera.

A legislação brasileira também é uma aliada: ela exige a rotulagem clara de alérgenos em alimentos industrializados, o que contribui para a segurança dos consumidores. “Conviver com alergia alimentar exige uma mudança de mentalidade e de hábitos. Mas, com informação, apoio da equipe de saúde e conscientização das famílias, é possível levar uma vida saudável e segura”, conclui o alergologista.

Com Assessorias

 

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *