A duas semanas do início da Copa do Mundo 2022, a busca pelo prazer de colar a última figurinha no álbum permanece entre os adeptos do futebol e da brincadeira. Desde seu lançamento, no dia 19 de agosto, as vendas movimentaram consideravelmente o mercado de brinquedos no Brasil e já alcançam a primeira posição no top 10 do setor, de acordo com a NPD Group. O hábito de colecionar e trocar figurinhas une crianças, adolescentes e adultos.
“A partir dessa onda, é possível focar no desenvolvimento de habilidades sociais”, afirma Filipe Colombini, psicólogo e fundador da Equipe AT. “A troca de figurinhas pode ser um momento importante de interação social e comunicação, ajudando as pessoas a formarem grupos de amizade”, completa o especialista.
Pensando nisso, a Equipe AT incorporou os encontros de trocas de figurinhas no QG do Rolê, iniciativa que reúne pessoas com dificuldades em desenvolver habilidades sociais para diferentes atividades. Todos os encontros do QG do Rolê são mediados por psicólogos especialistas em Acompanhamento Terapêutico, modalidade em que a terapia é feita fora do consultório.
“O objetivo desses encontros é que, a partir da troca de figurinhas e outras atividades lúdicas, exista um interesse em comum que possa juntar um grupo para interagir e melhorar a capacidade de comunicação”, diz Filipe Colombini.
Confira a seguir quatro bons motivos, segundo o psicólogo, para que seu filho embarque nessa nova onda:
1. Participar do assunto do momento
“Todo ano de Copa, sabemos que o álbum de figurinhas é um dos assuntos mais comentados. Por isso, incentivar que seu filho participe desse movimento faz com que ele amplie suas oportunidades de contato social”, diz o psicólogo. “Muitas vezes, só um assunto ou interesse em comum com outra pessoa pode diminuir muitas ‘travas’ para alguém que tem alguma dificuldade para interagir em grupos, socialmente”, afirma.
2. Desenvolver a organização
“Fazer coleções também ajuda a desenvolver as funções executivas, responsáveis pela capacidade de planejar e se organizar. O interesse em completar o álbum pode fazer com que a criança passe por situações de resolução de problemas e crie estratégias, aprimorando muitas funções cognitivas”, explica Filipe Colombini.
3. Conhecer novas pessoas
“Essas trocas também juntam grupos de pessoas que talvez nem se conhecessem em outras ocasiões. Isso é importante para ampliar as turmas de convívio social, o que ajuda a desenvolver habilidades sociais e garante mais oportunidades de lazer e diversão para seu filho”, diz o especialista.
4. Ensinar a paciência
“O objetivo final é completar o álbum, porém, para isso é necessário todo um processo. Isso é importante para inserir noções importantes para seu filho, como a paciência e a autorregulação. Além disso, fazer essa coleção também ajuda a criança a lidar com algumas frustrações, potencializando a inteligência emocional e outras capacidades importantes no desenvolvimento”, conclui Colombini.
Sobre o mercado de figurinhas
Segundo o NPD Group, empresa de inteligência de mercado que monitora o comércio de brinquedos no Brasil, somente nos primeiros 12 dias de vendas o segmento de figurinhas cresceu 70 posições e tornou-se o quarto tipo de brinquedo com mais vendas unitárias. No mês de setembro as vendas de figurinhas foram responsáveis por colocar o segmento na primeira posição, com dois produtos no top 10 de itens mais vendidos do mercado de brinquedos.
Atualmente o canal físico é o que mais se destaca nas vendas de figurinhas, representando 98% das vendas. Ainda segundo o NPD Group, com a queda no volume de vendas nas bancas, o canal de lojas generalistas, que vendem outras categorias além de brinquedos, ganhou espaço e representa quase 80% das vendas. Nos dois casos, os números são consideravelmente superiores às vendas da categoria de brinquedos como um todo.
Ainda que agora siga em um ritmo menos acelerado do que no seu lançamento, o mercado ainda segue aquecido. Na primeira quinzena de outubro, este segmento como um todo já caiu algumas posições, principalmente considerando a sua competição com outros produtos para o dia das crianças, porém o top item mais vendido do mercado, continua sendo o Blister Cartela C/ 10 Envelopes de Figurinhas da Copa Do Mundo Qatar 2022.
Palavra de Especialista
Álbum educativo: Saiba como o álbum de figurinhas da Copa do Mundo
pode ser o melhor recurso para retomar a socialização pós-pandemia!
Por Claudia Siqueira*
Crianças, jovens e adultos se encontram para simplesmente trocarem figurinhas! Espaços públicos tornam-se pontos de encontro, shoppings abrem espaços para a troca para não ficarem de fora, praças ganham uma nova função!
É isso! Competências sociais na veia! Frustração, expectativa, negociação, resiliência, argumentação são algumas das soft skills que esta turma está ativamente exercitando.
Mas como a escola que é o 2º núcleo social de convívio de uma criança pode usar a seu favor esse fenômeno como uma oportunidade de aprendizagem?
Sim! O álbum de figurinhas da Copa do Mundo pode e deve ser uma ferramenta para trazer mais sentido e significado para o ato de aprender.
Pesquisas recentes sobre a exposição e tempo em frente à tela mostram que a pandemia potencializou o uso recreativo da tecnologia, mas o excesso tem causado muitos prejuízos que já existem grupos de reabilitação de dependência tecnológica. Diante desse cenário, porque não pensar que um ritual quase que primitivo de colecionar e trocar é hoje o melhor recurso e aliado nesta grande batalha que tem como foco a reabilitação social, após estes dois anos de pandemia.
É isso mesmo! Estamos hoje conseguindo restabelecer o contato humano com uma atividade extremamente simples.
Escolas deveriam olhar para este fenômeno mundial e usá-lo com mais intenção e assertividade já que é indiscutível que o engajamento dos estudantes seria um bom indicador. Até porque já existem muitas evidências que o álbum está tirando as crianças e jovens de suas casas, fazendo com que eles conheçam novas pessoas, acordem mais cedo para irem aos pontos de troca, e descubram outros lugares da cidade, entre outros benefícios.
Imaginem se a escola absorver o álbum como recurso para aprender diferentes conteúdos e abordar temas como numeração, conceito de par e impar, geografia física, história dos países participantes, política antirracista, estimativas… e a lista não para por aqui, na realidade, começa! E não usando o álbum como pretexto para aprender, mas como contexto, porque seria uma evidência relevante mostrar que a escola pode e deve dialogar com a realidade, com a atualidade e escolher educar para a vida.
Que bom que temos a Copa para nos ajudar a retomarmos a nossa humanidade, para nos relembrarmos que interagir, integrar e socializar são necessidades humanas.
E você? Topa um “bafo”? Tenho um monte de repetidas!
Cláudia Siqueira é historiadora e pedagoga, fez magistério com especialização em gestão escolar. É pós-graduada em “Aperfeiçoamento de Docentes de Ensino Fundamental” pela PUC e em “Pedagogia de Projetos e Tecnologias Educacionais” pela USP. Tem como foco de pesquisa e estudo “Inovação em Educação”. Fez especialização em Primeira Infância em Harvard. É aluna Alumni da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, participando do grupo de estudos de Primeira Infância pela Fundação. Foi aluna do programa de formação docente (ISTEP) da Universidade de Stanford e, desde 2016, visita com frequência a Universidade para se aprofundar nos conceitos de EpE (Ensino para Equidade) e Mentalidades Matemáticas. É autora de livros (“Autoestima e Esporte” / “Beleza na Escola? Uma relação mais consciente e positiva com sua autoimagem” /etc.), palestrante e consultora na área de educação. Atualmente é Gestora Pedagógica do Colégio Sidarta e Gestora Geral do Instituto Sidarta (www.sidarta.org.br).
Com assessorias