Com os resultados, o Brasil pleiteia a certificação internacional de eliminação da transmissão vertical do HIV. O ministro destacou que o dossiê afirma claramente que o Brasil é o maior país do mundo a ter alcançado a eliminação da transmissão vertical do HIV.
Essa conquista também é fruto do trabalho incansável de profissionais da saúde, estados, municípios e da reconstrução do SUS, liderada hoje com firmeza pelo presidente Lula e pela ex-ministra Nísia Trindade”, disse Padilha.
O representante da OPAS no Brasil, Cristian Morales, reforçou a conquista dos resultados pelo país, que pode se juntar a outros 19 pelo mundo que eliminaram a transmissão vertical.
E o que é mais importante: tem milhares de mulheres agora que podem realizar o sonho de ser mães e poder trazer ao mundo crianças sem o perigo de viver com HIV. Mas temos desafios agora de manter o financiamento constante para manter esses resultados”, complementou.
Risco de transmissão de mãe para bebê é praticamente zero
Para o ginecologista e especialista em reprodução humana Vamberto Maia Filho, a conquista é motivo de celebração, mas também de conscientização. Ele reforça que, com diagnóstico precoce e adesão ao tratamento, a mulher que vive com HIV tem todo o direito e respaldo clínico para engravidar com segurança.
É fundamental quebrarmos o estigma de que mulheres com HIV não podem ser mães. Isso é uma inverdade que ficou no passado. Hoje, com o tratamento adequado, o risco de transmissão do vírus para o bebê é praticamente zero”, afirma o médico.
Estratégias no Brasil para reduzir os casos
Segundo o Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade por AIDS no Brasil foi de 3,9 óbitos em 2023, a menor desde 2013. Em 2023 e 2024, o país registrou mais de 95% de cobertura de pelo menos uma consulta pré-natal, testagem de HIV em gestantes e tratamento de gestantes vivendo com HIV e/ou AIDS.
Também foram lembradas as estratégias de prevenção, como Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que teve 184.619 usuários em 2025. Para o ministério, a distribuição gratuita nos Sistema Único de Saúde (SUS) é essencial para prevenir a infecção pelo HIV. Outro destaque é a expansão dos testes rápidos do tipo duo HIV e sífilis, em que gestantes tem prioridade.
Brasil avança na eliminação da transmissão vertical da doença; entenda
Apesar de grande tabu, com apoio médico e tratamento adequado, mulheres que vivem com HIV podem realizar o sonho da maternidade com saúde e segurança; Dr. Vamberto Maia Filho, ginecologista especialista em reprodução humana, explica.
Informação é vida
O Brasil vem fortalecendo ações que garantem a saúde de gestantes vivendo com HIV, como a testagem no pré-natal, o uso de antirretrovirais durante a gestação e o acompanhamento contínuo com equipes de saúde. Em 2023 e 2024, o país registrou mais de 95% de cobertura em pelo menos uma consulta de pré-natal, testagem para HIV e início de tratamento para gestantes soropositivas.
Com o acompanhamento correto desde o planejamento da gravidez até o parto, é possível garantir não só a saúde do bebê, mas também a qualidade de vida da mãe. Ser mãe é um direito, e a medicina está aqui para apoiar isso com segurança”, defende Dr. Vamberto.
Além da redução na transmissão vertical, o Brasil também viu a taxa de mortalidade por aids cair para 3,9, a menor desde 2013. A ampliação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e dos testes rápidos também são fatores que ajudam a frear o avanço do vírus.
Romper o silêncio para romper o ciclo
A eliminação da transmissão vertical é mais do que uma conquista sanitária: é um marco social. Ainda hoje, muitas mulheres enfrentam preconceito, desinformação e medo de falar sobre o HIV, o que pode atrasar o diagnóstico e comprometer o tratamento. “Quando falamos de HIV, ainda enfrentamos muito tabu. É preciso desmistificar o vírus e entender que viver com HIV não é uma sentença. É uma condição de saúde que, com responsabilidade e apoio, pode ser perfeitamente compatível com uma vida plena, inclusive com a maternidade”, finaliza o especialista.
O Brasil agora aguarda a chancela oficial da OMS para se juntar a outros 19 países que já receberam o certificado de eliminação da transmissão vertical do HIV. Mas, mais do que reconhecimento, o avanço significa um novo capítulo para milhares de mulheres: o da maternidade livre de medo.
Os riscos da transmissão vertical do HIV via amamentação,
Uso de preservativos e PrEP para mães e pais podem ajudar a revenir a infecção de crianças
A transmissão vertical do HIV, que ocorre de mãe para filho durante a gestação, parto ou amamentação, continua sendo uma das maiores preocupações de saúde pública no Brasil e no mundo. Embora os avanços nos tratamentos antirretrovirais tenham reduzido consideravelmente o risco de transmissão durante o parto, a realidade é que a transmissão vertical não acaba no nascimento. O perigo persiste no aleitamento materno, especialmente em mães que, após o parto, não realizam os testes regulares para HIV e nem fazem uso de preservativos ou da PrEP e sem saber, contraem o vírus HIV.
O Projeto Criança AIDS (PCA) alerta para a necessidade urgente de testagem regular e uso de proteção para todas as mulheres que amamentam, independentemente da idade do bebê, para que não haja surpresas no futuro. Muitas mulheres optam por amamentar até os seis meses, mas há casos em que o aleitamento se estende or até os dois anos de idade. Durante todo esse tempo, o risco de transmissão do HIV deve ser monitorado.
A transmissão vertical do HIV não termina no parto. A amamentação, se não monitorada adequadamente, pode representar um risco significativo para a criança. Por isso, é fundamental que as mulheres que amamentam façam testes regulares para HIV, usem preservativos em todas as relações sexuais, e/ou façam uso de PrEP, garantindo que não haja surpresas no futuro e protegendo a sua saúde de seus filhos”, reforça Adriana Galvão, presidente do PCA.
O risco do aleitamento: até 40% de chance de transmissão do HIV a cada amamentação
Cada vez que uma mulher amamenta, ela corre o risco de transmitir o HIV para seu bebê, com até 40% de chance de transmissão a cada episódio de amamentação. Esses números se dão quando essa mulher é infectada durante o período de amamentação.
O aleitamento, por ser contínuo, se torna uma via significativa de transmissão do vírus e este risco é amplificado pela falta de acompanhamento médico e pela ausência de testes regulares nas mulheres, que muitas vezes deixam de buscar o diagnóstico pós-parto. As consequências para a criança podem ser dramáticas, com sinais de infecção grave, como:
– Internações por bronquiolite;
– Pancitopenia (queda de células sanguíneas);
– Anemias;
– Pneumocistose;
– Sepse por Candida e Staphylococcus;
– Distúrbios metabólicos;
– Problemas neurológicos.
A doença progressiva, com o bebê doente da AIDS, é o reflexo da falta de tratamento adequado, resultante da ausência de testes regulares para as mulheres e da falta de tratamento antirretroviral (TARV), meses depois do parto. A detecção precoce é crucial para evitar que estes sinais de infecção se agravem e resultem em óbito precoce.
Além disso, o PCA enfatiza a importância da testagem frequente e uso de preservativos e/ou PrEP, para os homens parceiros, fixos ou não, pois muitos não são adequadamente informados sobre o risco de transmissão do HIV no ambiente doméstico e, consequentemente, acabam negligenciando sua saúde e a de suas famílias.
PrEP é importante na prevenção para mulheres que amamentam
A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) é um tratamento preventivo altamente eficaz contra o vírus HIV, que pode ser utilizado por mulheres que estejam amamentando e tenham uma vida sexual ativa. A PrEP funciona como um mecanismo de prevenção, sem causar nenhum mal ao bebê nem gerar efeitos colaterais para a mãe.
Seu uso pode ser uma alternativa importante para evitar a infecção pelo vírus HIV e proteger tanto a saúde da mãe quanto a do bebê durante a amamentação.
O cenário global e a urgência de um trabalho contínuo
Embora a erradicação da AIDS esteja ao nosso alcance até o final desta década, o caminho global ainda é longo. Em 2023, das 39,9 milhões de pessoas vivendo com HIV, quase um quarto delas (9,3 milhões), não estavam em tratamento com os antirretrovirais (ARV).
A cada minuto uma pessoa morre por conta da AIDS, e o número de novas infecções segue alto, com 1,3 milhão de novos casos reportados em 2023. A meta da ONU é reduzir esta taxa em 370.000 até 2025.
Embora o volume de crianças vivendo com vírus HIV (CLHIV) tenha mostrado uma tendência decrescente ao longo do tempo, ainda há um grande número de crianças afetadas, com 40% das infecções concentradas em bebês de 0 a 4 anos.
Em 2023, as crianças de 0 a 14 anos representam 12% das mortes por AIDS, apesar de corresponderem a apenas 3% da população total de pessoas vivendo com o vírus HIV. Essas crianças continuam a ser menos diagnosticadas, menos tratadas e mais propensas ao óbito.
O PCA, além de realizar um trabalho fundamental de acompanhamento e conscientização, defende a testagem regular e o uso de preservativos e/ou da PrEP, para todas as mulheres que ainda amamentam, independentemente da idade do bebê, a fim de minimizar o risco de transmissão do vírus HIV no aleitamento.
A organização também se dedica a conscientizar sobre a importância do diagnóstico e tratamento em tempo hábil, visando reduzir as intercorrências graves e garantir a qualidade de vida das crianças que nascem com o vírus HIV.
Projeto social atende crianças órfãs da Aids
ONG em São Paulo oferece suporte integral a crianças, adolescentes e famílias afetadas pela transmissão vertical do HIV
Apesar dos avanços na prevenção da transmissão vertical do HIV, o Brasil ainda registra casos de crianças infectadas ao nascer, principalmente em contextos de extrema vulnerabilidade social. Longe dos holofotes da mídia, essas famílias enfrentam uma dura realidade marcada por pobreza, preconceito e abandono.
O Projeto Criança Aids (PCA) atua exatamente neste ponto cego da sociedade — acolhendo, cuidando e garantindo dignidade a quem mais precisa. No dia 4 de junho, o PCA completa 34 anos de atuação ininterrupta, oferecendo apoio emocional, social e material a crianças e adolescentes que convivem com o HIV e a seus familiares.
Sediado em São Paulo, o projeto foi criado em 1991 e, desde então, se mantém fiel à sua missão: cuidar com afeto e responsabilidade de uma população muitas vezes invisibilizada. O Projeto Criança Aids (PCA) oferece, desde 1991, apoio integral a crianças, adolescentes e famílias afetadas pela transmissão vertical do HIV — em sua maioria vivendo em extrema vulnerabilidade social, longe dos olhos da mídia e da sociedade.
A organização mantém parcerias com hospitais públicos e outras instituições do SUS, promovendo não apenas acolhimento, mas também ações educativas sobre saúde, adesão ao tratamento e bem-estar. O projeto mantém parcerias com instituições de referência, como o Hospital Emílio Ribas e outros centros do SUS, promove palestras, encontros e rodas de conversa que orientam sobre adesão ao tratamento, saúde mental, alimentação e autocuidado — tanto para os pequenos quanto para seus cuidadores.
O HIV ainda carrega muito preconceito e desinformação, especialmente quando falamos de crianças. Nosso propósito é mostrar que por trás de cada diagnóstico existe uma história, uma família e um futuro possível. Não é só sobre saúde, é sobre dignidade e amor”, conta Adriana Galvão Ferrazini, presidente do Projeto Criança Aids (PCA).
Com uma equipe interdisciplinar formada por psicólogos, assistentes sociais, profissionais da saúde e voluntários, o PCA atende atualmente pouco mais de 20 famílias, muitas delas compostas por crianças órfãs, cuidadas por avós ou irmãos, em lares marcados por múltiplas fragilidades.. Muitas dessas crianças perderam os pais para a Aids e hoje vivem sob os cuidados de avós, irmãos ou outros parentes — alguns também vivendo com o vírus.
Além disso, realiza uma ação assistencial contínua, com a entrega de cestas básicas, roupas, itens de higiene e limpeza. Um dos principais pilares de sustento da ONG é o seu bazar beneficente, que funciona com doações da comunidade e ajuda a manter as atividades da sede.
Durante a pandemia de Covid-19, o PCA não interrompeu suas ações — reforçando, ainda mais, seu papel como rede de proteção em um momento de total desamparo para muitas famílias. Apesar do impacto social, o projeto ainda tem pouca visibilidade. “Por sermos pequenos, muita gente não nos vê. Mas o que fazemos muda a vida de quem ninguém enxerga”, reforça a equipe.
Neste aniversário de 34 anos, o PCA convida a sociedade civil a conhecer sua história e fortalecerem a rede de apoio a essas famílias. Porque cuidar de quem vive com HIV é cuidar de todos nós.
O HIV ainda carrega muito preconceito e desinformação, especialmente quando falamos de crianças. Nosso propósito é mostrar que por trás de cada diagnóstico existe uma história, uma família e um futuro possível. Não é só sobre saúde, é sobre dignidade e amor”, diz Adriana. “Mesmo com sua atuação fundamental, o projeto ainda luta por mais visibilidade e apoio. e segue firme no compromisso de dar visibilidade a essas histórias e garantir uma rede de cuidado contínua”.
Da Agência Brasil, com Assessorias