A entrevista concedida por Larissa Manoela ao programa Fantástico, da TV Globo, deste domingo (13/8), Dia dos Pais, gerou ampla discussão desde que foi ao ar. É intensa a repercussão nacional em torno da notícia de que a cantora e atriz Larissa Manoela teria deixado para os pais/empresários R$ 18 milhões de seu patrimônio em imóveis – fruto do trabalho que começou, muito cedo, com a novela Carrossel, aos quatro anos – para evitar uma briga judicial no rompimento das relações.

Toda a polêmica traz à tona diversos fatores ligados ao caso. Questões como o rompimento com os pais, relações familiares, manipula e até narcisismo são alguns dos temas debatidos pelos internautas. Um deles é o impacto psicológico, a partir da informação de que, supostamente, os pais controlavam as finanças e gastos pessoais da artista até hoje, com 22 anos.

Má relação com os pais? Entenda os desafios que comprometem a saúde da convivência familiar

Psicóloga Blenda Oliveira comenta mais sobre a existência de toxicidade nas relações parentais após rumores de conflitos de Larissa Manoela com os pais

Nos últimos dias a internet ficou atenta aos rumores de que a relação da atriz Larissa Manoela com os pais estaria indo de mal a pior. Isso porque, eles teriam se  irritado com a decisão da artista de se tornar sua própria empresária e cuidar de todas as suas finanças, fazendo com que eles supostamente vendessem a mansão que a filha tinha em Orlando, Estados Unidos.

Fora da mídia, pais que desrespeitam os filhos é um cenário mais comum do que parece. Existem muitas maneiras pelas quais pais podem machucar filhos. Claro, existem pais que são abusivos, de forma física e sexual, mas o desenvolvimento de um indivíduo pode ser prejudicado por outras formas do relacionamento parental.

Por exemplo, quando negligenciam e negam o direito natural dos filhos de assumirem as próprias escolhas. Pais controladores, que humilham, manipulam e chantageiam dificultam enormemente a possibilidade de um convívio harmonioso com as diferenças e trajetórias diferentes daquela planejada pelos pais.

“As crianças, desde pequenininhas, podem nutrir um sentimento de tentar corresponder às expectativas, desejos dos pais. As relações entre mães, pais e filhos devem ser cada vez mais pautadas pelo respeito, liberdade de escolha e direito de cada filho construir sua trajetória, valores próprios e responsabilidade”, explica Blenda Oliveira, psicóloga especialista em relações familiares.

Para quem precisa lidar com pais tóxicos, vale ter em mente que se “desvencilhar” da situação pode ser um caminho possível e necessário objetivando manter uma vida com independência, como o caso de Larissa Manoela. Cabe aos filhos, também, tomar as rédeas da própria vida e, se for possível, conversar com os pais, não para modificá-los, mas para estabelecer os limites.

“É preciso sempre contar com o diálogo, porém há momentos que nem sempre é possível. Às vezes a relação tão difícil entre pais e filhos necessita de afastamento e/ou manejo da convivência. Decisões que impliquem ruptura total precisam ser bem avaliadas e, se necessário for, ter em mente que tudo foi tentado”, diz Blenda.

De acordo com a profissional, é fundamental estabelecer limites físicos e emocionais quando necessário e entender que você não precisa mais estar em posição de obedecer a vontade deles ou até mesmo agradá-los.

“O amor próprio e autoconhecimento também são essenciais, para que você conheça suas limitações emocionais para com eles e as limitações deles. Pais não são perfeitos e carregam dificuldades”, ressalta.

Já para os pais, é preciso compreender que os filhos não devem ser uma projeção perfeita do que eles sonharam e imaginam.

“É necessário entender que os filhos erram, acertam e suas decisões não configuram desamor ou abandono dos pais. Podem ser diferentes e continuar amando. Cuide do que imagina para seus filhos. Eles não vieram ao mundo para cumprir seus desejos. Eles precisam ser cuidados, amados, orientados, mas acima de tudo, respeitados em suas vontades e decisões”, afirma a psicóloga.

“Estarmos como pais, cuidadores, atentos às nossas próprias imperfeições, construindo relações em que erros, dúvidas, obstáculos vividos pelos nossos filhos, sejam recebidos com compreensão, encorajando-os a refazer seus caminhos e buscar novas tentativas é essencial”, finaliza Blenda.

Doutora em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e  psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, a especialista atua como psicoterapeuta em orientação de pais, famílias, casais e adultos. Além da prática presencial no consultório, Blenda escreve e  troca ideias por meio das redes sociais nos perfis @blenda_psi no Instagram e  @oliveira_blenda no Twitter.

‘Quando há controle e coerção a relação se torna tóxica’, diz psicóloga

Tudo começo quando a atriz fez 18 anos e quis entender mais sobre os contratos que havia assinado durante sua carreira. Segundo a psicóloga Ana Streit, nem sempre é fácil avaliar as questões de controle e dependência x confiança e liberdade nas nossas relações.

“A dependência da Larissa era uma dependência que era necessária na infância, pois ela era uma criança e precisava dos pais para cuidar de contratos, dinheiro e questões do mundo adulto. Mas, a medida que as crianças vão crescendo, mesmo na adolescência, elas precisam ir assumindo mais responsabilidades. E com isso, o sujeito dever ir recebendo mais liberdade de escolha, mais autonomia e poder de decisão, ainda mais no caso da Larissa, que o dinheiro é fruto do trabalho dela”, comenta.

As crianças dependem de um cuidador, elas não têm condições físicas, financeiras, nem emocionais para decidir por si. E durante a infância, elas não sabem avaliar se aquilo que os pais fazem é correto ou não.

”Quando a criança vive em uma família de muito controle, ela não consegue enxergar que esse controle está excessivo. Isso, infelizmente, é mais habitual do que se imagina. No caso da atriz, o fato dela ter que pedir autorização dos pais para ter acesso ao seu próprio dinheiro, mesmo depois de completar 18 anos, explicita uma questão de controle e autoritarismo nessa relação. Ainda mais se os pais demonstrarem incômodos e surpresa diante de tais questionamentos que são naturais e saudáveis, conforme seu relato”, explica Ana.

A especialista pontua que em alguma medida sim, vai existir a confiança, mas é importante avaliar o quanto existe de liberdade junto com essa confiança. Porque se a confiança está podando a liberdade, mesmo que não exista conflito aparente, a relação se torna tóxica.

”É importante que em qualquer relação, a pessoa fique atenta se há coerção, privação, pois esses são pontos presentes em uma relação abusiva. Controle e dependência são aspectos emocionais que são velados, é muito difícil enxergar isso. Quando a pessoa confia e o laço de confiança não avança, ela não deve ficar no lugar de dependência e precisa começar a questionar esse relacionamento”, diz a psicóloga.

Ela finaliza, dizendo que uma relação saudável é baseada em autonomia, reciprocidade, colaboração. “E quando não há espaço para esses aspectos, e a pessoa tenta buscá-los, a relação não comporta, é como se ela se quebrasse”, ressalta.

Conflitos familiares e saúde mental de pessoas anônimas

Livia Castelo Branco ainda complementa que, apesar do tema ter ganhado notoriedade por se tratar de uma atriz reconhecida nacionalmente e de um patrimônio milionário, os conflitos familiares podem ter o mesmo impacto na saúde mental de pessoas anônima, seja por divergências relacionadas ao modo de vida, as decisões ou a própria dinâmica de cuidados.

Em todos os casos, mesmo que não seja necessário o acompanhamento jurídico, o profissional de saúde mental é uma figura importante para oferecer suporte social e emocional para todos os membros envolvidos no impasse.

“O compartilhamento de experiências e o acolhimento das pessoas de confiança auxilia na tomada de decisões e reduz a sensação de desamparo. O acompanhamento psicológico é imprescindível para o autoconhecimento, fortalecimento da empatia e criação de estratégias para a resolução de conflitos, o que pode auxiliar os acordos e facilitar a reconciliação. No caso de sintomas ansiosos, insônia ou pensamentos de morte, a assistência de um psiquiatra pode ser necessária para o manejo medicamentoso, em colaboração com a psicoterapia”, finaliza.

Quando o assunto é saúde mental, a informação é o primeiro passo do tratamento. Para saber mais sobre o tema, acesse: https://holiste.com.br/

Palavra de Especialista

Uma reflexão sobre o caso Larissa Manoela

Cuidado com as expectativas que você deposita nos seus filhos

Por Helen Mavichian*

Considerando as recentes notícias envolvendo a atriz Larissa Manoelae sua família, sugiro uma reflexão sobre as expectativas irrealistas frequentemente atribuídas pelos pais a seus filhos. O caso nos leva a pensar se os filhos estão apenas sendo moldados para corresponder às expectativas pessoais dos pais ou estão sendo preparados para enfrentar o mundo de maneira saudável, fundamentados em princípios e valores, buscando a felicidade e sendo respeitados.

É natural depositar expectativas nos filhos em todas as áreas de suas vidas, inclusive nas relações familiares. No entanto, é importante estar sempre alerta. Que tipo de expectativas estão sendo projetadas sobre os filhos? Essas expectativas são realistas? Fazem sentido ou estão sendo conduzidos para alcançá-las? 

A grande verdade é que cada indivíduo possui sua própria personalidade, estilo, sonhos e missão de vida. Ao mesmo tempo que são filhos, são seres únicos, que vão trilhar trajetórias e jornadas frequentemente diferentes.

Com isso, é natural que sigam por caminhos inesperados e desejem conquistas que talvez  seus pais não possam ou nem saibam como fornecer. Porém, quando os filhos percebem que as idealizações não se concretizam, podem se sentir frustrados ou culpados por não atender às expectativas dos pais.

É possível notar, muitas vezes por meio das histórias e dinâmicas familiares dos pacientes e seus responsáveis que chegam ao consultório de psicologia, como os pais impõem expectativas e fazem projeções futuras sobre seus filhos, antecipando como serão quando crescerem, seu comportamento e realizações.

Quando os pais se deparam com o fato de que seus filhos são indivíduos livres e independentes, com suas próprias ambições e referências, podem experimentar sentimentos dolorosos que  afetam até mesmo os filhos.

Para evitar esses conflitos, é importante que os pais tenham uma comunicação clara e empática com suas crianças e reflitam com eles sempre sobre o assunto. É essencial que os responsáveis não coloquem sobre seus filhos os seus próprios sonhos e ambições, o que muitas vezes acontece de uma forma inconsciente, sem que percebam. 

Pais e mães precisam ter em mente que os filhos não são “objetos” a serem moldados e responsabilizados por não atenderem suas vontades e expectativas. Portanto, a “lição de casa” que deixo aqui para todos os pais é pensar em questões como:

Vocês têm cultivado expectativas saudáveis em relação aos filhos?

Estão atentos aos reais sonhos e vontades deles?

Estão respeitando o tempo para que se desenvolvam e tenham tempo de amadurecer suas próprias escolhas, apoiando-os para que conquistem seus sonhos?

Esses pontos devem ser pensados regularmente, pois só assim é possível garantir que cresçam num ambiente de apoio e crescimento, em que a individualidade única de cada filho seja de fato acolhida. 

*Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita. Mais informações em https://helenpsicologa.com.br/

Com Assessorias

 

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