Mesmo diante de uma crescente conscientização acerca da sexualidade feminina, não é incomum notar ainda certa estranheza em relação a esta pauta na sociedade – algo que, inevitavelmente, leva ao desconhecimento do próprio corpo por elas. Como prova disso, segundo a Associação Brasileira de Estudos em Medicina Saúde Sexual (ABEMSS), 40% das mulheres nunca tocaram o próprio corpo.
Outro fato que chama a atenção é que a anatomia detalhada do clitóris só foi devidamente descoberta há pouquíssimos ano. Sua formação completa, com bulbos, pilares e glande, foi resultado de pesquisa da urologista australiana Helen O’Connell, publicada em 1989. Ainda hoje há pesquisas que se aprofundam no orgasmo masculino, como mostra publicação recente, mas o clímax feminino ainda é cercado de tabus.
Especialistas que acompanham o tema afirmam que, nos atlas de ciência e medicina periodicamente atualizados e publicados, ao longo de algumas décadas, o clitóris aparecia em uma edição e sumia das páginas das próximas publicações, e assim sucessivamente. Os dados refletem a importância de aprofundar esta temática, como explica Stefanie Schmitt, CEO da Olhi.
“Embora a sexualidade seja algo central em nossas vidas, as mulheres têm dificuldade para falar sobre o assunto e muitas se sentem perdidas, sem saber o que fazer sobre esse aspecto de suas vidas. Como nosso objetivo é difundir o conhecimento para aumentar o bem-estar, organizamos o workshop para estimular essa conversa”, afirma.
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Por que o orgasmo é tão importante para a saúde feminina?
O orgasmo desempenha um papel fundamental na saúde física e mental, liberando endorfina, hormônio que promove as sensações de prazer, bem-estar, alívio do estresse e melhora do humor. Além disso, fortalece os vínculos emocionais entre os parceiros sexuais, melhora a qualidade do sono e traz benefícios para a saúde cardiovascular.
“O orgasmo é super importante para nos entendermos enquanto pessoas poderosas e potência. A vulva e o clitóris são por si só grandes potências. Uma mulher que compreende como o orgasmo pode trazer novas perspectivas para a sua vida, promover autoconhecimento e conectar alma, corpo e prazer durante a intimidade é algo realmente especial”, afirma Natali Gutierrez, sexóloga à frente da Dona Coelha.
Segundo ela, “quando uma mulher conhece seu próprio corpo e entende o que faz sentido e o que não faz quando o assunto é prazer, ela não se permite passar por encontros ruins ou sair com alguém que não faça aquilo que verdadeiramente lhe satisfaz, pois já sabe o quanto é extraordinário ter orgasmos que a deixam em pleno êxtase.”
Portanto, falar do Dia Mundial do Orgasmo – celebrado anualmente todo dia 31 de julho – é respeitar os próprios limites, promover a importância de uma sexualidade saudável e estimular a abertura de diálogo sobre o tema. Afinal, tratar do orgasmo com consentimento, respeito, compreensão e cuidado é essencial para garantir uma boa saúde sexual, especialmente as mulheres.
“O Dia do Orgasmo é uma oportunidade para refletir sobre a importância do prazer sexual em nossas vidas, buscando uma sexualidade saudável baseada no respeito mútuo, comunicação segura e descoberta das próprias necessidades e desejos. A busca pelo prazer mútuo e pela satisfação emocional resultará em uma vida sexual mais gratificante e significativa”, afirma Natali.
Ser egoísta na busca pelo orgasmo vale a pena?
Renan de Paula, sexólogo e co-fundador da Dona Coelha, destaca a importância de não se concentrar apenas no orgasmo masculino. Ele ressalta que o orgasmo é uma parte vital da experiência sexual humana, mas sua importância vai além do prazer físico.
“O orgasmo desempenha um papel crucial na conexão emocional entre os parceiros, na promoção do bem-estar geral e até mesmo na saúde física. No entanto, é essencial entender que o orgasmo não deve ser o único foco do encontro sexual. A ênfase deve estar na jornada de prazer compartilhado, não apenas no destino.”
Renan também destaca a importância da empatia e da comunicação na busca pelo prazer mútuo: “Ser egoísta na busca pelo orgasmo pode levar a uma experiência sexual insatisfatória para a parceria. É importante ter empatia para entender e atender às necessidades e desejos do parceiro ou parceira. Isso inclui preliminares prolongadas, comunicação aberta sobre o que é prazeroso para cada um e garantir que ambos se sintam satisfeitos e cuidados.”
Desmistificar a ideia de que o orgasmo masculino é o fim do encontro sexual também é fundamental: “Muitos homens podem aprender a ter orgasmos múltiplos ou a separar o orgasmo da ejaculação, permitindo uma experiência sexual mais longa e gratificante para ambos. Ao se concentrar no prazer compartilhado e na conexão emocional, os homens podem ter orgasmos sem serem egoístas, levando a uma vida sexual mais satisfatória e gratificante.”
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