Estimativa do IBGE indica que existem aproximadamente 2 milhões de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil. Apesar do grande número, ainda há dificuldade de obter um diagnóstico preciso, o que ajuda a cercar o autismo de mitos e preconceitos. Afinal, a sociedade está preparada para incluir e conviver com pessoas autistas? Será que entendemos verdadeiramente a condição?

Recentemente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, fez uma declaração no mínimo infeliz sobre o autismo,  alegando que o laudo diagnóstico não poderia ser permanente, uma vez que o autismo “pode passar”. Mesmo que depois o governador tenha vindo a público se retratar, agora com argumentos corretos, sua primeira declaração gerou um desconforto entre ativistas, familiares e pessoas dentro do espectro autista.

O assunto ainda incomoda e deixou claro o quanto ainda temos pessoas sem conhecimento sobre o TEA em todos os setores da sociedade, inclusive na gestão pública, o que torna tudo mais preocupante. A campanha Abril Azul cumpre o relevante papel de conscientizar sobre o tema e dá lugar de fala a quem convive com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A psicóloga Lívia Aureliano, diretora do TatuTEA, uma clínica de atendimento a crianças e adolescentes com autismo, analisa a raiz desses preconceitos.

“Fomos educados para acreditar na “família Doriana”, harmoniosa, filhos perfeitos, estabilidade financeira, ou seja, condições de vida favoráveis em todos os aspectos. Porém, nem sempre a vida sai como planejado e é natural que tenhamos que lidar com alguns desafios. Quando nos deparamos com situações que fogem à regra, é como se o mundo desabasse sobre nossa cabeça, né? No momento em que falamos sobre o TEA muitas incertezas surgem”, afirma.

Segundo ela, ainda que o conhecimento sobre a existência do TEA seja amplo, quase ninguém sabe a fundo como é a condição e as diferenças que existem nela. “É comum generalizar o diagnóstico de autismo por não entender as diferenças que existem, alimentando o preconceito da sociedade e, principalmente entre os familiares. Mesmo com tanta informação, é comum escolas e locais públicos recusarem de forma velada a presença de autistas”, ressalta.

De acordo com a psicóloga o primeiro ato preconceituoso, mesmo que inconsciente é não legitimar o diagnóstico.

“A aceitação é o primeiro passo para lidar com a situação com clareza e oferecer uma vida mais acessível para a criança e também para os familiares. De fato, existem algumas limitações, entretanto, o TEA não é igual em nenhum indivíduo”, afirma Dra Lívia.

A especialista conta que já presenciou ao longo de sua carreira muitas reações contrárias de familiares ao lidar com o diagnóstico, sentenciando a vida deles e da criança. Embora o autismo seja amplamente discutido, ainda há muito preconceito e falta de entendimento.

Dicas para vencer o preconceito

Diante disso, a Dra. Lívia sugere que pais, familiares e qualquer pessoa que necessite ter conhecimento a respeito do autismo, busque informações. “As pessoas não podem se culpar pelo preconceito da sociedade, já que ainda há um caminho muito grande para se percorrer quando o assunto é autismo. “Busque informação, redes de apoio e dê liberdade para seu filho ser como ele é”, recomenda.

Ela elencou 6 dicas importantes para vencer o preconceito contra a pessoa com autismo. Confira:

1.Amplie o conhecimento: As pessoas ainda têm preconceito porque não sabem com o que estão lidando. Buscar informações com especialistas, ler artigos, depoimentos, entre outros conteúdos que esclareçam o TEA, é primordial.

2.Tenha uma rede de apoio: Trocar experiências com grupos, profissionais, famílias, entidades, colégios e principalmente com adultos com TEA, dará um novo prisma em relação a condição.

3.Compartilhe o que aprendeu: O conhecimento adquirido com os estudos sobre o TEA e a troca de experiências com outras pessoas deve ser repassado para os outros familiares e qualquer pessoa que se interesse ou conviva com alguém dentro do espectro. Ensinar as pessoas a lidar de forma mais saudável, também irá ampliar ainda mais o conhecimento em relação ao autismo. Quando ensinamos, aprendemos duas vezes.

4.Dê autonomia para a criança: Quando os pais e familiares não sabem lidar com o TEA, acabam tirando a autonomia da pessoa. Atitudes como essa, além de não ajudarem com o tratamento dará a impressão de que ela é totalmente dependente e isso pode alimentar o preconceito. Permitir que a criança assuma suas responsabilidades é a melhor forma de ajudar e compreender.

5.Não evite lugares: A psicóloga pede para não evitar lugares ou situações por conta da condição da criança, a não ser que seja algum ambiente que provoque crises na criança. “Lembre-se que muitas limitações estão no ponto de vista das pessoas e não do autista. Independentemente do nível de autismo, permita que ela vivencie novas experiências” explica.

6.Não se importe com a opinião alheia: Esse com certeza é um dos combustíveis mais eficazes para alimentar o preconceito. Quando a pessoa se preocupa demais com os outros, anula a criança por medo de incomodar. Nem todo mundo vai saber lidar, mas não são todas as pessoas, como muitas pessoas imaginam. Muitas lidam com naturalidade e compreendem a condição da criança melhor que os familiares.

 

Com Assessorias

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