A hipertensão arterial afeta 36 milhões de adultos no Brasil e mais de 60% das pessoas acima dos 60 anos, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, em 2019. Os dados também revelam que a incidência aumenta conforme a idade, chegando a 62% na população acima de 75 anos.

Dados apontam que mais de 380 pessoas morrem por dia de complicações decorrentes da hipertensão no Brasil. Quem lida com a doença crônica é considerado grupo de risco para a Covid-19. Hipertensos não controlados, assim como outros cardiopatas e portadores de doenças crônicas têm possibilidade de maiores complicações pela Covid-19.

A hipertensão arterial também está por trás de 80% das mortes por AVC (Acidente Vascular Cerebral) e 60% das mortes por infarto agudo do miocárdio, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). A cada dois minutos uma pessoa sofre um acidente vascular cerebral (AVC) ou um infarto. No Brasil, cerca de 300 mil mortes por ano ocorrem por doenças cardiovasculares.

“O cenário é ainda mais grave quando analisamos que 35% da população brasileira têm pressão arterial elevada. Desses hipertensos, 20% no máximo têm a pressão arterial controlada. Isso porque o grande problema é fazer com que as pessoas possam realmente aderir ao tratamento, tanto com medicamentos como com medidas não medicamentosas e práticas de vida saudável”, enfatiza o presidente da SBC, Celso Amodeo.

Atenção aos sinais do AVC

Ele alerta para um agravante para o problema: a grande de falta de adesão ao tratamento. “Por ser uma doença assintomática, o chamado inimigo silencioso, isso acarreta distúrbios, principalmente no aparelho cardiovascular, onde a incidência de infarto e de AVC é muito alta naqueles que não têm pressão controlada”, reitera o cardiologista.

Entre os sintomas do AVC estão alteração do movimento e / ou da sensibilidade em uma parte do corpo; dificuldade de fala ou compreensão; dor de cabeça intensa e súbita; tontura ou alteração no equilíbrio; alteração da visão e/ou dificuldade para enxergar, náusea ou vômito, dificuldade para engolir e/ou perda da consciência (desmaio).

“Ao reconhecer qualquer um dos sintomas, é importante procurar ajuda médica, pois os profissionais de saúde têm um curto espaço de tempo para atuar: a cada minuto, milhões de neurônios podem ser perdidos durante um AVC. Quanto mais cedo for iniciado o tratamento, maior é a chance de recuperação”, enfatiza o médico.

Hipertensão x Covid: entenda os riscos

A hipertensão é uma doença crônica não transmissível (DCNT) definida por níveis alterados da pressão, em que os benefícios do tratamento superam os riscos. A SBC recomenda que o paciente hipertenso não deixe de procurar seu médico para fazer os controles necessários da pressão arterial.

No entanto, a pandemia do novo coronavírus fez com que muitas pessoas deixassem de ir ao médico por medo de sair à rua, o que aumenta o risco de hipertensão arterial não controlada. É imprescindível que o indivíduo mantenha sua pressão controlada, evitando assim complicações mais graves em caso de Covid-19.

“A pandemia fez com que muitas pessoas deixassem de ir ao médico por medo de sair à rua, o que aumenta o risco de hipertensão arterial não controlada. É imprescindível que o indivíduo mantenha sua pressão controlada, evitando assim complicações mais graves em caso de Covid-19. Nossas orientações, sempre, são para que o paciente hipertenso não suspenda o tratamento medicamentoso por causa da Covid-19”, completa Dr Amoedo.

De acordo com o cardiologista, a infecção pelo novo coronavírus é o tipo de doença da qual não se pode dizer “sempre” e “nunca”, porque o conhecimento acerca dessa doença está constantemente sendo reavaliado, modificando a forma de enfrentamento da doença.

“O risco da hipertensão no indivíduo com diagnóstico positivo para o novo coronavírus se dá porque a Covid provoca uma intensa reação inflamatória que atinge diferentes territórios vasculares do organismo, vasos esses que já apresentam alterações na sua estrutura e função decorrente da hipertensão arterial não controlada, fazendo com que essa pessoa tenha mais risco de complicações”, explica Amodeo.

Ainda segundo o especialista, no início da pandemia, muito se falou sobre alguns medicamentos utilizados para controlar a hipertensão que agiriam na mesma via de entrada do Sars-CoV-2 para o interior da célula.

“Posteriormente, surgiram outros indícios de que essas classes de medicamentos, na verdade, diminuíam a atividade inflamatória do vírus. Portanto, seu uso provocava uma melhora satisfatória da Covid-19. Porém, nenhum estudo, de fato, constatou efetivamente essa informação”, ressalta.

Estresse do isolamento agrava hipertensão

A cardiologista Ivia Dayana Mallau Fulguera, do Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam), alerta para os riscos da hipertensão arterial, que está entre as que mais matam no mundo, e por um possível agravamento do quadro, causado pelo estresse e pela ansiedade do isolamento social imposto pela pandemia de coronavírus.

Ela relaciona pressão alta x sistema nervoso, principalmente neste momento de pandemia em que as reclamações relacionadas ao equilíbrio da saúde mental são mais frequentes.

“Ao vivenciar uma situação de estresse, o organismo libera hormônios como a adrenalina, que vão do cérebro aos músculos, elevando a pressão. Nestes casos, o corpo continua em estado de alerta, pronto para uma situação de perigo”, explica.

Para ela, os atuais tempos difíceis e desafiadores, o medo de contrair a doença, o alto índice de desemprego e as incertezas relacionadas à cura da Covid-19 são algumas das questões que tendem a deixar as pessoas mais apreensivas e ansiosas.

A melhor forma de diminuir o estresse durante o período é permanecer ativo, mesmo dentro de casa, praticando atividades que tragam alguma sensação de tranquilidade e lazer.

“É importante que, apesar da nova rotina, mantenhamos os nossos hábitos saudáveis. Nesse sentido, atividades como dançar, praticar Yoga ou algum hobby antigo são boas opções para manter corpo e mente em movimento e podem servir como uma terapia ocupacional”, finaliza a cardiologista.

Sintomas e diagnóstico da hipertensão

De acordo com a especialista, a incidência da hipertensão está ligada a fatores de risco como obesidade, tabagismo, consumo excessivo de bebida alcoólica, estresse e alto consumo de sal, podendo desencadear, entre outros problemas, AVC e ataque cardíaco.

“A doença está relacionada com a força que o sangue faz contra as paredes das artérias para conseguir circular por todo o corpo. O estreitamento das artérias aumenta a necessidade de o coração bombear com mais força para impulsionar o sangue e recebê-lo de volta”, explica.

Dra. Ivia destaca ainda que a hipertensão não é uma doença exclusiva de pessoas mais velhas, podendo atingir homens e mulheres de todas as idades, inclusive crianças. Dores de cabeças constantes, desconfortos torácicos, fraquezas e tonturas, zumbidos no ouvido, visão embaçada e sangramentos nasais são alguns indícios de que a doença está em um estágio avançado e deve ser tratada imediatamente, indica a médica.

O diagnóstico acontece quando valores de pressão arterial, adequadamente aferidos por meio de um aparelho de pressão, se mostram persistentemente maiores do que 140/90 mmHg. Geralmente, níveis considerados normais são aqueles aferidos em 120/80 mmHg. “Outros testes podem ser necessários, conforme avaliação médica”, reitera a profissional.

É importante ressaltar que negros e filhos de pais hipertensos têm uma pré-disposição maior à pressão alta, com 25% de chance de desenvolver a doença ao longo da vida. Por essa razão, a cardiologista recomenda a aferição da pressão ao menos uma vez ao ano, de forma preventiva, independentemente da hereditariedade.

Complicações da hipertensão nas emergências

Como a hipertensão arterial não costuma apresentar sintomas, é primordial estar com a saúde e os exames em dia para diminuir os riscos. Mas, em boa parte dos casos, o paciente só descobre que tem hipertensão quando acaba parando numa emergência.

“A pandemia trouxe mais atenção ao cuidado com a pressão arterial, no entanto muitos brasileiros não têm conhecimento do quadro e recebem o diagnóstico em uma situação de emergência, por exemplo, ao ter uma crise hipertensiva e buscar ajuda médica. Por ser uma doença silenciosa, o aferimento regular da pressão arterial em casa, consultório ou em uma unidade de saúde colabora com o diagnóstico precoce”, diz o cardiologista Ricardo Casalino, diretor médico do Qsaúde. 

Na operadora de planos de saúde, com atuação em São Paulo, cerca de 20% dos clientes são portadores de hipertensão arterial sistêmica. Do total de consumidores, quase 30% praticam atividades físicas com regularidade, entre cinco e seis vezes na semana, mais de 50% não consomem bebidas alcoólicas e quase 70% nunca fumaram.

Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Leste, inaugurada pela Prefeitura de Santos, e gerenciada pela entidade filantrópica Pró-Saúde, dos 300 atendimentos realizados por dia, cerca de 5% dos casos estão relacionados ao AVC e 10% são em razão de dores torácicas, um dos principais sintomas de infarto.

De acordo com o Gilmar Oliveira, diretor hospitalar, o perfil dos pacientes que sofrem complicações da hipertensão possui idade a partir dos 50 anos. “Além dessa faixa etária, muitos casos envolvem obesos e diabéticos, com a incidência maior nos homens”, comenta.

Orientações para a prevenção 

É importante lembrar que, ainda que grave, a condição pode ser controlada e, em alguns casos, até mesmo prevenida. “Sabemos que 90% dos casos de hipertensão arterial são herdados geneticamente. Porém, alguns hábitos podem influenciar no aumento da pressão, como tabagismo, consumo de álcool, obesidade, sedentarismo, colesterol alto, consumo excessivo de sal e estresse”, diz o cardiologista Casalino.

Segundo a Dra. Ivia, a melhor forma de combater a hipertensão arterial é prevenindo a doença, com hábitos simples que podem ser adotados no dia a dia. “Hábitos saudáveis, como a prática regular de atividades físicas e uma alimentação livre de gorduras e de sal excessivo, além de evitar o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas, estão entre as medidas que ajudam a combater a hipertensão.”

É possível prevenir ou retardar o quadro de hipertensão arterial adotando alguns hábitos saudáveis. Confira algumas dicas simples:

– Evite alimentos gordurosos;
– Combata o estresse tirando proveito dos momentos de lazer;
– Evite o sedentarismo praticando atividade física regularmente;
– Não abuse do sal. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que o consumo do tempero deve ser de, no máximo, até cinco gramas por dia;
– Evite o tabagismo e o consumo excessivo de álcool;
– Consulte um profissional de saúde regularmente.

Tratamento gratuito pelo SUS

Para os pacientes que já convivem com a hipertensão arterial, os cuidados são os mesmos, mas eles devem ser redobrados para que não haja um agravamento do quadro.

Quanto antes a hipertensão é diagnosticada, menores são as complicações caso a pessoa siga o tratamento correto. A recomendação é medir a pressão arterial com regularidade, dependendo da faixa de pressão de cada um. Caso a pessoa seja hipertensa, o ideal é medir a pressão diariamente.

Os sintomas, quando aparecem, costumam ser de dor de cabeça, no peito e tonturas. Não há cura para a doença, mas os medicamentos para o controle da hipertensão fazem parte da lista de distribuição gratuita do Sistema Único de Saúde (SUS).

‘Tratamento é para a vida toda’, diz médico

A hipertensão arterial possui prevalência na população adulta brasileira em torno de 35%. Nesses indivíduos, 40% sabe que possui e procuram tratamento, no entanto, 40% dos pacientes que iniciam tratamento não o segue como deveriam. A SBC recomenda que o paciente hipertenso não deixe de procurar seu médico para fazer os controles necessários da pressão arterial.

“Pressão alta, se bem diagnosticada, o tratamento é pra vida toda, e se baseia em medidas não medicamentosas e medicamentosas. A medida não medicamentosa mais importante é diminuir o sal na alimentação, isso significa ingerir menos alimentos processados e industrializados. Cerca de 75% do sal que ingerimos vem desses alimentos”, explica Amoedo.

“Atividade física regular ajuda e muito a manter a pressão arterial estável. Evitar fumo e álcool também. Algo muito negligenciado é a qualidade do sono: a pessoa que não dorme direito tem mais chance de desenvolver hipertensão”, ressalta Amodeo.

Com Assessorias

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