Uma boa notícia em meio ao caos anunciado para o futuro do planeta, a se considerar os atuais impactos aos meio ambiente. O Brasil é um dos líderes na classificação dos países do G20 que menos emitem gases de efeito estufa per capita, tanto quanto às emissões atuais quanto à tendência de redução destas, e, também, em relação ao benchmark “bem abaixo de 2°C”. Apesar de se classificar entre os países que têm um consumo médio de energia per capita, sua quota de energia renovável é, de longe, a mais alta do G20 (38%).
A atratividade do investimento em energias renováveis no país se classifica como média no G20. É certo que a recessão econômica e a instabilidade política levaram a um declínio acentuado na demanda de energia, o que causou o cancelamento do leilão de energia A-3 e do leilão solar de dezembro de 2016. Mas o fim do financiamento de termelétricas a óleo e a carvão anunciado pelo BNDES afetará os investimentos futuros nestas tecnologias sujas.
Estas são algumas das conclusões do relatório Brown to Green elaborado pela parceria internacional Climate Transparency e lançado nesta segunda-feira (3 de julho). O relatório analisa a performance de transição para uma economia de baixas emissões dos países do G20 e classifica as performances dos países do G20 quanto às suas reduções de emissão, políticas públicas climáticas, financiamento e descarbonização.
“O Brasil é um dos poucos países em desenvolvimento que estabeleceu um limite absoluto de emissões e mostrou um forte compromisso de combate à mudança climática. Nosso desafio agora é parar o desmatamento e reduzir ainda mais as emissões. Precisamos, no entanto, de um compromisso dos países industrializados quanto a intensificar o financiamento à ação climática e quanto a fortalecer seus próprios compromissos”, afirma William Wills, do CentroClima da Coppe/UFRJ.
Especialistas brasileiros reconhecem a boa evolução das políticas brasileiras para o setor energético, mas apontam que a eficiência energética precisa de metas mais ambiciosas. Ainda falta um plano para eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis e um sinal efetivo para o preço do carbono. Os subsídios aos combustíveis fósseis dados pelo país em 2014 totalizaram US$ 27 bilhões, um dos níveis mais altos dentro do G20. O financiamento de projetos de combustíveis fósseis feitos por meio de instituições públicas foi, em média, de US$ 3 bilhões por ano em 2013 e em 2014.
“As economias do G20 estão ficando mais eficientes – estão começando a se descarbonizar, mais ainda não o suficiente para alcançar os objetivos do Acordo de Paris”, diz Alvaro Umaña, Co-Chair da Climate Transparency e ex-ministro de meio ambiente da Costa Rica. O relatório e os perfis dos países estão disponíveis aqui.
Pressão em favor do clima
Os chefes de Estado das 20 nações mais ricas do planeta se encontram a partir desta sexta, 7 de julho, na Alemanha, com uma clara divergência sobre como lidar com o aquecimento global. Mas, Donald Trump – que tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris – não enfrentará apenas a oposição de Ângela Merkel e dos demais presidentes que mantiveram sua promessa de limitar a elevação da temperatura média da Terra bem abaixo 2°C.
Representantes de mais de 1,2 bilhão de pessoas, mais de um terço da economia global e quase 400 investidores globais com mais de US $ 22 trilhões em ativos divulgaram de forma coordenada sua urgência em ver o desafio climático equacionado. Eles planejam aproveitar as oportunidades que estão surgindo com a economia de baixas emissões de carbono e esperam que os líderes do G20 acelerem essas perspectivas.
“A mudança climática é uma das questões mais importantes do nosso tempo e requer ação imediata e coordenada”, destaca Indra K. Nooyi, presidente e diretora executiva da PepsiCo Inc. “Para nossa empresa global de alimentos e bebidas, a redução de nossas emissões de carbono é a coisa correta a ser feita e faz todo sentido para os negócios – diminuindo custos operacionais, criando eficiências e garantindo que continuemos a ser bem-vindos nas comunidades onde operamos.”
“Além dos mercados, sabemos que a transparência é cada vez mais importante para nossos consumidores também”, lembra Graeme Pitkethly, diretor financeiro da Unilever.
Destaques de descarbonização
• Os padrões de descarbonização dos países do G20 apresentam grandes diferenças: a UE e seus estados membros que participam do G20 têm, em geral, boa classificação, enquanto a classificação da Rússia é baixa e a da Austrália muito baixa.
• A energia renovável está em ascensão. Os países do G20 possuem 98% da capacidade instalada global de energia eólica, 97% da energia solar e 93% dos veículos elétricos. Na maioria dos países do G20, as participações das energias renováveis no fornecimento de energia elétrica estão crescendo, exceto na Rússia, onde o consumo absoluto de energia renovável diminuiu 20% desde 2009. A China, a República da Coréia e o Reino Unido experimentam um forte crescimento.
• As emissões de gases de efeito de estufa dos países do G20 cresceram 34% entre 1990 e 2014. No entanto, no mesmo período, suas economias cresceram mais, cerca de 117%, demonstrando que estas estão usando recursos energéticos de forma mais eficiente do que no passado.
• A intensidade de carbono do fornecimento total de energia primária do G20 ainda está aumentando. Isto se deve, em grande parte, aos países do grupo que atendem às suas crescentes necessidades de energia com carvão. Embora as intensidades de energia e de carbono das economias do G20 tenham diminuído, estes fatores não foram suficientes para levar a uma redução geral das emissões de gases de efeito estufa.
• Em metade dos países do G20, as emissões de gases de efeito estufa per capita não estão mais crescendo. Uma exceção notável é o Japão. O Canadá tem o maior consumo de energia per capita, seguido da Arábia Saudita, da Austrália e dos EUA.
Destaques financeiros
• Os países do G20 são atraentes para o investimento em energia renovável, especialmente China, França, Alemanha e Reino Unido, embora este último tenha abandonado seu apoio político às energias renováveis.
• Os títulos verdes (green bonds) constituem menos de 1% do mercado de dívidas dos países do G20, mas as taxas de crescimento recentes são notáveis, particularmente na China.
• Em 2016, foi instalada mais capacidade de geração de eletricidade “verde” do que “marrom” em todo o mundo. No entanto, ainda existe um importante investimento público e privado nos países do G20 em infraestrutura de energia “marrom”.
• Entre 2013 e 2014, as instituições de financiamento público dos países do G20, como bancos de desenvolvimento nacionais e internacionais, bancos majoritariamente estatais e agências de crédito à exportação, gastaram em média quase US$ 88 bilhões por ano em carvão, petróleo e gás.
• Apesar das repetidas promessas de eliminação progressiva dos subsídios aos combustíveis fósseis, em 2014, os países do G20 forneceram mais de US$ 230 bilhões de subsídios ao carvão, ao petróleo e ao gás.
• Entre os países do G20, os níveis mais altos de financiamento público para os combustíveis fósseis são feitos pelo Japão e pela China, que forneceram US$ 19 e US$ 17 bilhões ao ano em 2013 e 2014, respectivamente.
• Mais mecanismos de preços de carbono foram introduzidos nos últimos anos. Mas os preços do carbono e as taxas efetivas de carbono, que levam em conta os vários impostos sobre a energia, ainda permanecem muito baixos nos países do G20 para encorajar uma mudança substancial em direção a uma economia de baixo carbono.
Destaques da política climática
• A maioria dos governos atua melhor no cenário internacional, mas ainda falta progresso na política e implementação nacional. China, Brasil, França, Alemanha, Índia, México e África do Sul têm as mais altas classificações quanto à ação climática. Os países na lanterninha do ranking de desempenho quanto à políticas climática são EUA, Austrália, Japão, Arábia Saudita e Turquia.
• Nenhum dos países do G20 obtém uma classificação especial quanto aos seus compromissos junto ao Acordo de Paris. Nenhum deles segue uma trajetória de emissões adequada aos objetivos de 2˚C ou 1,5˚C.
• O carvão está sendo eliminado gradualmente em alguns países. Canadá, França e Reino Unido estabeleceram um plano para a eliminação do carvão (o que lhes dá uma alta classificação no ranking). Outros países, como Alemanha, Itália e México, estão atualmente considerando a eliminação progressiva do carvão, ou tomaram medidas significativas para reduzir seu uso. Índia e China receberam classificação média devido ao encerramento recente – ou cancelamento de planos para – um bom número de plantas de carvão.
Fonte: Centro Clima e Unilever