À frente do movimento que responsabiliza o presidente Jair Bolsonaro pelas mortes por Covid-19 no Brasil, o advogado Gustavo Bernardes e a assistente social Paola Falceta são os entrevistados do #PapodePandemia desta quarta-feira, dia 30 de junho, no Youtube. Fundadores da recém-criada Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico), eles são os convidados especiais da 43ª edição da série de lives do portal ViDA & Ação, conduzida desde junho de 2020 pela jornalista Rosayne Macedo.
Bernardes, de 46 anos, que ficou vários dias intubado com Covid-19, e Paola, que perdeu a mãe, aos 81 anos, para a doença, são, respectivamente, presidente e vice-presidente da Avico. Ele assina a representação criminal protocolada em 9 de junho na Procuradoria-Geral da República (PGR). O documento pede que seja oferecida denúncia contra Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que seja processado criminalmente pela condução da pandemia.
Presidente da Avico, Bernardes assina a ação que aponta Bolsonaro como o principal culpado pela dramática situação da pandemia no país. Segundo ele, a medida foi a forma com que membros da associação encontraram para fazer com que o presidente seja responsabilizado pelo modo como tem conduzido a crise sanitária no país.
A representação junto à PGR afirma que a conduta do presidente da República diante da pandemia é uma “estratégia federal cruel e sangrenta de disseminação da Covid-19, perfazendo um ataque sem precedentes aos direitos humanos no Brasil”. O documento aponta que Bolsonaro incentivou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, prejudicou a vacinação no Brasil, estimulou aglomerações enquanto cientistas orientavam o isolamento social e defendeu uma teoria de “imunidade de rebanho” sem qualquer respaldo científico.
‘Nós denunciaremos’: inspiração em movimento criado na Itália
A ideia de criar a Avico surgiu após o advogado assistir a um documentário sobre a Noi Denunceremo (em português “Nós denunciaremos”), uma associação italiana na qual parentes de vítimas e sobreviventes da covid-19 cobram o governo local sobre omissões e ações equivocadas no enfrentamento à pandemia.
A Noi Denunceremo começou como um grupo de Facebook em março de 2020, no qual italianos compartilhavam as histórias de familiares vítimas da covid-19. Diante de diversos relatos de negligência de autoridades, os responsáveis pelo grupo decidiram transformá-lo em uma instituição sem fins lucrativos, que passou a coletar histórias para que elas se tornassem queixas formais ao Ministério Público.
Assim como a organização italiana, o principal objetivo da Avico é apoiar familiares ou as próprias vítimas da covid-19 e responsabilizar gestores que não adotaram medidas adequadas no combate à pandemia. A entidade conta hoje com 17 fundadores, incluindo Paola e Bernardes, e já reúne 125 membros de diferentes regiões do país, sendo que 45 são familiares de vítimas da covid-19 e os demais são voluntários. Há 210 inscrições na fila de espera para participar da associação.
Ele quase morreu, ela perdeu a mãe
Sem apresentar nenhuma comorbidade, o advogado travou uma enorme batalha pela vida ao ser internado em 23 de novembro de 2020 em um hospital de Curitiba. Ele ficou intubado por dias e os médicos chegaram a duvidar se sobreviveria. “Me despedi da minha família por ligação de vídeo, antes de ser intubado. Um médico chegou a dizer para a minha irmã que achava que eu não resistiria”, disse Bernardes à BBC News Brasil.
Amiga de Bernardes, a assistente social perdeu a mãe, Italira, em janeiro deste ano, após ela passar por uma cirurgia cardiovascular e pegar Covid-19 dentro de um hospital público de Curitiba. Paola, que passou alguns dias junto com a mãe no hospital, também testou positivo para a Covid-19, assim como a irmã dela e um sobrinho. Os três tiveram sintomas, mas se recuperaram. Já Italira não resistiu às complicações da doença.
Com BBC Brasil