Passado um ano e três meses de pandemia, segue a orientação de manter o distanciamento social e os reflexos desse cenário são sentidos nas mais variadas áreas da saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde, por exemplo, a quantidade de acidentes domésticos aumentou 30% nesse período, sendo a grande maioria por queda envolvendo idosos.

No Brasil, atualmente, existem cerca de 29,5 milhões de idosos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estima ainda, o crescimento dessa população, que já é superior ao número de crianças com até 9 anos de idade.  Estimativas apontam que, por ano, no Brasil, cerca de 30% dos idosos caem pelo menos uma vez, dos quais 50% ficam com a mobilidade reduzida, gerando lesões que vão requerer vigilância contínua para este idoso.

As quedas ocorrem em todas as idades, mas especialmente após os 60 anos ficam mais frequentes à medida que a idade avança, aumentando também, a gravidade das ocorrências. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2017, quase 12 mil pessoas com mais de 60 anos morreram em decorrência de quedas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, um terço da população acima dos 65 anos sofre, pelo menos, uma queda por ano, proporção que cresce com o envelhecimento e, principalmente, com a chegada do inverno.

Neste período do ano, os riscos de queda de pessoas na terceira idade aumentam devido às noites serem mais longas e ao uso de agasalhos, o que faz com que os idosos urinem mais, ou seja, aumenta a possibilidade de acordarem sozinhos e irem ao banheiro, local de maior ocorrência de acidentes graves, por conta da umidade que torna o ambiente escorregadio. Diminuição da visão, da audição, do reflexo do corpo, da flexibilidade e da firmeza também são fatores que podem agravar os acidentes”, explica o ortopedista José Luis Amim Zabeu.

José Luis Amim Zabeu coordena Ortopedia do Vera Cruz Hospital (Foto: Matheus Campos)

Punhos, quadril e ombros são os membros mais afetados nessas quedas. Em seguida, vem a coluna vertebral. “Nas fraturas do punho, quadril e ombro, frequentemente é necessária a cirurgia”, explica Zabeu, que alerta ainda para os índices de mortalidade após acidentes. Estatisticamente, 25% dos idosos que sofrem uma fratura no quadril falecem em até um ano, por vários motivos: complicações da cirurgia, novas quedas ou piora de outras doenças preexistentes.

Além disso, é preciso sempre estar atento se a queda está relacionada a alguma patologia, como labirintite, osteoporose, artrose, doenças cardíacas, pulmonares e neurológicas, entre outros. Por isso, ressalto a importância dos cuidados médicos mesmo na pandemia, principalmente para doenças crônicas”, afirma o coordenador de ortopedia do Vera Cruz Hospital.

Fatores que podem causar as quedas

Quedas em casa afetam mais os idosos (Foto: Banco de imagens)

“A queda é um evento comum, porém, não deve ser considerado um acontecimento normal. Devemos considerar a queda como uma ocorrência sentinela e avaliar o que está por trás”, informa Juliana Junqueira, especialista em geriatria e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

Os fatores que podem ocasionar as quedas podem ser intrínsecos ou extrínsecos, como explica Iride Caberlon, enfermeira e especialista em gerontologia da SBGG: “Os fatos intrínsecos estão relacionados à pessoa, como fraquezas musculares, deficiência auditiva, tontura, vertigem e outros. Os fatores extrínsecos estão relacionados aos eventos externos, como solo irregular, falta de adaptação no ambiente (instalação de barras de apoio, retirada de tapetes, nivelamento do piso), calçadas e outros”.

Entre os fatores que ajudam no desenvolvimento da doença estão sedentarismo, maus hábitos alimentares, doenças crônicas e alguns medicamentos. “É importante observar sintomas como depressão, ansiedade, distúrbios do sono… Idoso que não está bem, acaba diminuindo a atenção, tendo déficit de concentração e isso aumenta o risco de cair”, afirma a Dra. Juliana.

1. Doenças crônicas

As quedas em idosos estão ligadas às doenças crônicas, não apenas doenças específicas da parte neuromuscular, mas doenças sistêmicas de forma geral. Doenças orgânicas como: insuficiência cardíaca e infecções. “Por isso, é muito importante ter um olhar especial, pois muitas vezes a queda é a única manifestação de alguma descompensação aguda. Neste momento de pandemia, a queda pode sim, inclusive, ser uma manifestação de infecção por Covid-19 em uma pessoa idosa”, explica Juliana Junqueira.

Segundo ela, é preciso lembrar que o idoso neste período, precisa continuar cuidando das suas doenças crônicas, mantendo uma alimentação saudável, com consumo satisfatório de proteínas e também manter a atividade física a medida do possível, porque isso vai impactar na diminuição no risco de queda, conclui a doutora.

2. Redução da mobilidade

Para além das preocupações normais que o avanço da idade traz, a pandemia da Covid-19 trouxe mais pontos de atenção para a vida dos idosos. Se antes o recomendado era fazer exercícios, caminhar, manter uma vida ativa, agora a instrução é para se recolher e se preservar. O que segunda Cristina Ribeiro, fisioterapeuta e membro especialista em gerontologia da SBGG, vai acabar por diminuir a mobilidade e talvez, venha a provocar o aumento no número de quedas.

É importante que os idosos que tenham sessões de exercícios de fisioterapia, mantenham esse atendimento. Que pode ser através de telemonitoramento ou teleatendimento, o importante é não parar totalmente”, pontua.

3. Síndrome da Fragilidade

A Síndrome da fragilidade é uma condição genética que, em decorrência dos seus sintomas, acaba por provocar quedas em idosos. De origem neuroendócrina, gera maior vulnerabilidade. Dentre os sintomas existentes, os mais comuns são perda involuntária de peso, fraqueza, redução da velocidade e exaustão. Quando esses sinais surgem no corpo, acontecem outras reações adversas, como queda, hospitalização e até mesmo declínio funcional e morte.

4. Sarcopenia

Um artigo divulgado na Revista Brasileira de Reumatologia apontou que 10% dos idosos entre 60 e 69 anos apresentam sarcopenia, sendo esta, responsável pela perda da massa muscular e a redução na força dos músculos. Isso gera a diminuição da autonomia e da mobilidade e aumentando o risco de quedas.

Como proporcionar ambiente seguro

A maioria das fraturas ocorre por trauma de baixa energia, ocasionadas frequentemente por quedas dentro de casa. Um dos fatores que os tornam mais vulneráveis é a perda de massa óssea (osteoporose).” Para evitar possíveis complicações, é importante agirmos na prevenção”, explica Ademir Schuroff, ortopedista do Hospital Universitário Cajuru.

Segundo o ortopedista, é fundamental, principalmente neste momento de isolamento social, que o ambiente doméstico seja totalmente seguro, livre de riscos que podem estar escondidos em pequenos detalhes, como um tapete solto, por exemplo.

Adaptar a casa para essas limitações ou mesmo evitar o uso de objetos que possam representar riscos ajuda a reduzir as chances de acidentes domésticos envolvendo idosos. Podemos citar exemplos importantes, como não deixar móveis fora do lugar habitual, além de garantir a área de passagem livre de obstáculos”, afirma

Já no ambiente mais preocupante, o banheiro, as dicas segundo Zabeu, são: utilizar tapete antiderrapante na área de banho, instalar barras de apoio nas paredes próximas ao sanitário e ao chuveiro e até o uso de cadeira de banho para ajudar quem tem equilíbrio mais comprometido.

Luzes acesas são essenciais. Mas, se nada disso funcionar, após um bom diálogo, sugerimos inserir o uso de penicos e até fradas, dependendo da situação de saúde do idoso. Reforçamos que todos os acidentes são evitáveis, desde que o ambiente seja seguro. Por isso, mesmo que o idoso resista, o ideal é usar métodos de apoio, como andadores, além de calçados seguros”, explicou.

O especialista afirma também a importância do movimento para esses idosos, mesmo durante o isolamento social. “Programe um horário para fazer caminhadas leves. Faça tudo com segurança, uso de máscara, mas mexa-se. O corpo não foi feito para ficar parado. Um idoso pode perder até 3% de força e massa muscular a cada semana”, afirma.

Para deixar a casa mais segura, algumas medidas podem ser tomadas, como colocar corrimão nas escadas para dar apoio na hora de subir e descer, iluminar bem os ambientes para enxergar caso tenha algum obstáculo no caminho, trocar os tapetes convencionais por antiderrapantes que, ao serem grudados no chão, não oferecem risco de escorregar ao pisar.

A maioria das fraturas ocorre por trauma de baixa energia, ocasionadas frequentemente por quedas dentro de casa. Um dos fatores que os tornam mais vulneráveis é a perda de massa óssea (osteoporose). Para evitar possíveis complicações, é importante agirmos na prevenção”, explica Ademir Schuroff, ortopedista do Hospital Universitário Cajuru.

Com Assessorias

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