Muita gente acha bobagem, mas a simples higiene das mãos é capaz de evitar uma série de doenças, como o vírus sincicial respiratório (VSR), resfriados, diarreia, conjuntivites, viroses e o vírus H1N1.  Uma pesquisa realizada pela Michigan State University, nos Estados Unidos, em 2013, porém, revelou que apenas 5% das pessoas higienizam as mãos corretamente. O estudo foi baseado na observação de cerca de 4 mil pessoas ao usarem o banheiro. Em média, as pessoas lavam as mãos por apenas 6 segundos, quando o tempo necessário para eliminar bactérias é de 40 a 60 segundos.

A médica Glaucia Varkulja, infectologista do Hospital Santa Catarina (SP), explica que os germes estão presentes em todos os lugares e, como eles não são visíveis, muitas vezes não são tomadas as medidas adequadas para prevenção. “Diversas doenças transmitidas por água e alimentos contaminados por exemplo, estão associadas à falta de higienização ou higienização incorreta das mãos”, afirma a médica. “A transmissão é comum quando tocamos o puxador de portas, pressionamos botões de elevador, seguramos na barra dos transportes públicos ou damos apertos de mãos. Por isso é importante higienizar as mãos constantemente e, principalmente, antes das refeições”, afirma.

No ambiente hospitalar então, a higienização das mãos se faz ainda mais necessária para prevenir infecções que podem levar o paciente a óbito.  O cuidado deve ser redobrado nas unidades de assistência à saúde, como hospitais, onde há risco de transmissão cruzada, ou seja, a disseminação de agentes infecciosos como bactérias e vírus, por intermédio das mãos de uma pessoa saudável (profissionais de saúde e visitantes) para uma pessoa suscetível (pacientes).

10% das internações são motivadas por infecção

Só em fevereiro deste ano foram registradas cerca de 300 mil internações em hospitais na região Sudeste, segundo dados do Datasus. A estimativa é que cerca de 10% desses pacientes contraíram algum tipo de infecção durante o período de internação, situação que poderia ser evitada com uma atitude simples: a higienização correta das mãos. De acordo com a Comissão Nacional de Biossegurança (CNB), pelo menos 100 mil pessoas morrem por ano, no Brasil, por causa do problema, que atinge tanto as instituições públicas, como as privadas.

Medidas simples como essas acabam tendo um impacto significativo. Calcula-se, por exemplo, que apenas com a higiene adequada das mãos, entre o atendimento de um paciente e outro e antes da realização de qualquer procedimento invasivo, seria capaz de reduzir em 70% os casos de infecção.  São consideradas infecções hospitalares qualquer tipo de infecção adquirida após a entrada do paciente em um hospital ou após a sua alta quando essa infecção estiver diretamente relacionada com a internação ou procedimento hospitalar, como, por exemplo, uma cirurgia.

Apenas 40% lavam as mãos de forma adequada

No entanto, apesar de simples, a adesão dos profissionais de saúde a esse cuidado ainda é pouca. Em média, apenas 40% deles lavam as mãos com a frequência adequada. No entanto, especialistas destacam que o hábito de higienizar as mãos é importante também fora dos hospitais, como forma de prevenção de diversas infecções como gripe e diarreia, por exemplo, e que deve ser cultivado desde a infância.

Neste Dia Mundial de Higiene das Mãos, celebrado em 5 de maio, organizações de saúde fazem um alerta para o risco de infecção hospitalar que ronda pacientes internados em hospitais do país. A data, definida pela OMS, tem o objetivo de propor mais atenção dos profissionais de saúde e população em geral para o cuidado com a lavagem correta das mãos, principalmente em ambientes hospitalares em que há pacientes com baixa de imunidade.

A higiene das mãos é uma das medidas mais simples e eficazes na prevenção de infecções e, por consequência, na garantia da segurança do paciente. Através dela, reduzimos a transmissão cruzada de micro-organismos, muitos deles perigosos, para pacientes internados”, alerta Isabella Cavalcanti, infectologista do Hospital São Vicente de Paulo (RJ).

Segundo ela, é dentro de hospitais que se concentram uma gama de doenças causadas por micro-organismos dos mais variados. Desde o vírus da gripe até bactérias perigosas e com potencial de resistência aos antimicrobianos, como o Staphylococcus aureus, Pseudomonas e Acinetobacter.

Campanha  ‘Salve Vidas: Higienize suas Mãos’

Com apoio da Anvisa e da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI),  a OMS traz, esse ano, a campanha ‘Salve Vidas: Higienize suas Mãos’, cujo tema é “A luta contra a resistência microbiana está em suas mãos“. O objetivo é conscientizar todas as pessoas para melhorar as práticas de higiene das mãos, sobretudo em serviços de saúde com a intenção de combater, com efetividade, a resistência microbiana.

Hoje, vários programas de segurança do paciente nos serviços de saúde tratam como prioridade o tema da higiene das mãos, mas ainda é um desafio para entrar na rotina.

Precisamos alertar cada vez mais sobre essa prática simples, barata e efetiva, mas que muitos serviços e profissionais não aderem e podem aumentar riscos das mais variadas infecções”, diz Carla Sakuma, infectologista e coordenadora do Comitê de Infecções Relacionadas à Assistência em Saúde (IRAS).

A higiene das mãos é uma medida bem reconhecida há anos para o controle e prevenção das infecções nos serviços de saúde, incluindo as provocadas por microrganismos multirresistentes, que levam muitas pessoas a óbito. Dessa forma, é fundamental que todos os profissionais de saúde sejam incentivados a adotar isso como rotina básica. “Precisamos enfatizar e sensibilizar todos os serviços de saúde para ficarem atentos a isso, já que o uso de álcool gel, por exemplo, deve ser regra e não exceção”, completa Carla.

Pacientes de UTI são mais vulneráveis

Pacientes que passaram por cirurgias ou que estão em Unidades de Terapia Intensiva são os que correm mais riscos de contrair algum tipo de infecção causado por vírus ou bactérias. “Uso de sondas, cateteres, ventilação mecânica, punção de veia para instalação de soro ou coleta de sangue são todos procedimentos que acabam servindo de porta de entrada para bactérias”, afirma José de Lima Valverde Filho, coordenador de acreditação do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA). O coordenador do CBA lembra  ainda que nas camadas superficiais da pele podem ser encontrados bactérias, fungos e vírus. “É preciso remover os anéis, pulseiras e relógios, antes da lavagem já que esses objetos acumulam micro-organismos”, salienta.

O elevado número de infecções relacionadas à assistência à saúde (inclui as infecções adquiridas no hospital, nos serviços ambulatoriais, na assistência domiciliar e instituição de longa permanência), com consequente uso elevado de antibióticos (indevido e/ou indiscriminado) conter as infecções contribuem para o surgimento de bactérias super-resistentes. Esses micro-organismos despertaram uma nova preocupação no mundo. Segundo um estudo encomendado pelo governo britânico e coordenado pelo economista Jim O’Neal, estima-se que as bactérias resistentes a antibióticos matarão pelo menos 10 milhões de pessoas por ano a partir de 2050, mais do que o número atual de mortes provocadas por cânceres.

Em fevereiro deste ano, a OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou uma lista com 12 famílias de bactérias consideradas especialmente perigosas.  Júlia Kawagoe, docente do Mestrado Profissional em Enfermagem da Faculdade Albert Einstein e consultora técnico – científica da B.Braun, explica que nos últimos anos a indústria farmacêutica não lançou novos antibióticos, o que agrava ainda mais o problema. “Os estudos e testes de novas drogas para essas bactérias multirresistentes demandam tempo. Por isso, o uso indiscriminado de antibióticos é muito perigoso. A forma mais eficaz e barata de se evitar a ocorrência das infecções hospitalares e reduzir o uso de antibióticos é a higienização correta das mãos antes e após os cuidados com o paciente“, afirma a especialista.

A especialista ainda ressalta que além do cuidado da equipe médica, também é dever do paciente alertar o profissional no momento do cuidado ou realização de procedimentos, além de se policiar para que ele e familiares também adotem a prática correta de higienização das mãos. “É fundamental que o próprio paciente entenda que ao usar o banheiro, ou tocar no cateter, ou até mesmo em alguma área considerada comum como barras de apoio, por exemplo, é preciso que ele higienize as mãos. O mesmo vale para os familiares durante a visitação. No caminho até o hospital o visitante pode ter tocado em barras de apoio nos transportes públicos, em maçanetas, telefones celulares. Por isso ao entrar no ambiente hospitalar é necessário higienizar suas mãos com álcool gel, e evitar tocar nos acessos venosos ou até mesmo sondas do paciente”, explica.

Especialistas ensinam forma correta de higienizar as mãos

A OMS recomenda que a higiene correta das mãos deve ser realizada da seguinte maneira: colocar uma quantidade de álcool gel na palma das mãos (suficiente para antigir todas as superfícies), esfregar bem o dorso, a palma, os dedos, os interdígitos, isto é, o vão dos dedos, e os polegares. É preciso tomar cuidado também com a área das pontas dos dedos e embaixo das unhas.

De acordo com a infectologista Isabella Cavalcanti, a higienização das mãos pode ser feita através da lavagem com água e sabão neutro ou através da fricção com álcool a 70%, formulado especificamente para este fim (com emoliente). “O método deve abranger toda a superfície das mãos, incluindo dorso, interdigitais, polegares, pontas dos dedos, e finalizando nos punhos”, observa.

Segundo Dra Isabella Albuquerque, a higiene das mãos é tão importante que já deixou de ser item a ser lembrado apenas em campanhas. “Deve ser uma prerrogativa quando se pretende atuar como profissional de saúde, a primeira medida a ser adotada antes do contato com qualquer paciente. E deve ser a última também, após o contato”, ressalta.

Há duas formas de higienização das mãos: uso de água e sabão, e o uso de soluções alcóolicas associadas a emolientes, como gel e glicerina. Assim, na impossibilidade de lavar as mãos, a limpeza pode ser feita com soluções alcoólicas, que tem a mesma eficácia.

“É comum que as pessoas tenham o cuidado de lavar as mãos antes das refeições, mas há outras oportunidades que devem ser lembradas. Objetos e superfícies comuns podem ser grandes fontes de disseminação de agentes infecciosos como maçanetas, corrimãos, apoios em transportes, assim como dinheiro. É importante destacar que as mãos são as principais vias de transmissão de muitas doenças e que precisam ser higienizadas sempre que houver situações de risco e quando estiverem visivelmente sujas”, enfatiza Paulo Furtado, infectologista do Hospital Niterói D’Or.

De acordo com a especialista  Glaucia Varkulja, a higiene de mãos deve ser feita com água e sabonete, quando houver sujeira visível, ou pela fricção com álcool gel. O produto alcoólico, por ser antisséptico, é mais eficiente na eliminação da flora microbiana das mãos.

 Higienize sempre suas mãos

– Antes de manipular e consumir alimentos;

– Antes e depois de entrar em contato com pessoas doentes;

– Depois de espirrar, tossir e assoar o nariz;

– Após entrar em contato com objetos e ambientes sujos ou contaminados;

– Após entrar em contato com animais;

– Sempre que as mãos estiverem sujas.

O infectologista Paulo Furtado tira algumas dúvidas sobre o tema:

– Quais são as principais doenças que podem ser transmitidas?

Todas as doenças infecciosas podem ser veiculadas por intermédio das mãos. Podemos destacar algumas mais  comuns: gripe, conjuntivite, doenças de pele e gastroenterites.

– Por que lavar as mãos é uma prática tão importante?

Há casos em que não nos damos conta de que as mãos estão sujas, pois as bactérias e microrganismos não podem ser vistos a olho nu. Portanto, é preciso que estejamos atentos que o ato de lavar as mãos remove as impurezas, suor e oleosidade, além das células mortas, que propiciam ambiente de proliferação de bactérias, fungos e vírus.

– Em quais casos o álcool em gel pode ser usado?

O álcool tem a mesma eficácia da água e sabão. No entanto, não remove sujidade. Outra diferença está no tempo: para higienizar corretamente as mãos com produtos alcoólicos necessita-se de 30 segundos, enquanto é necessário maior tempo quando do uso  de água e sabão.

– Quando se deve higienizar as mãos?

As ações de higiene das mãos são mais eficazes quando a pele das mãos é livre de lesões/cortes, as unhas estão no tamanho natural, curtas e sem esmalte, e as mãos e antebraços sem adereços e descobertos. Lavar as mãos deve fazer parte da rotina de todos, especialmente nas seguintes ocasiões:

– Antes de comer ou manusear alimentos;

– Após ter utilizado as instalações sanitárias;

– Após assoar o nariz, tossir ou espirrar;

– Antes de efetuar qualquer ação que inclua o contato com mucosas corporais (por exemplo, colocar ou retirar lentes de contato);

– Após tocar animais ou seus dejetos;

– Após manusear resíduos (por exemplo, lixo doméstico);

– Após usar transportes públicos;

– Antes e após tocar doentes ou feridas (cortes, arranhões, queimaduras, etc.);

– Antes e após uma visita a um doente internado (hospital ou outra instituição).

 

– Como lavar as mãos de forma correta?

– Retire todos os acessórios (anéis, pulseiras, relógios);

– Para secar as mãos, sempre que possível, opte por toalha de papel;

– Em ambientes públicos, feche a torneira com papel ou com o antebraço.

70% das infecções relacionadas à assistência a saúde poderiam ser evitadadas com a higienização correta das mãos, diz OMS

Atividades na Perinatal – Com objetivo de conscientizar funcionários, pacientes e visitantes, durante toda a semana, a Perinatal realizará gincanas e intervenções nos setores. A instituição também contará com presença de um mágico que fará apresentações lúdicas sobre o tema, envolvendo a equipe sobre a importância do procedimento. A higienização das mãos é considerada uma prática de extrema relevância para todos os profissionais de saúde. Na Perinatal, que possui taxa de infecção mínima, o assunto é bastante resgatado e debatido.

Prêmio de inovação

Destinado aos hospitais e instituições de saúde,  o Prêmio Latino Americano de Excelência e Inovação na Higiene das Mãos  é uma iniciativa do Centro de Colaboração da OMS sobre segurança do paciente. Promovido inicialmente na Europa e Ásia (2010) e, pela terceira vez, na América Latina, o objetivo do prêmio é identificar e reconhecer as instituições que demonstram excelência nos cuidados de saúde, além da preocupação em melhorar a segurança dos pacientes, por meio da implementação da estratégia multimodal da OMS para a melhoria da higienização das mãos.

A estratégia traduz, na prática, as principais recomendações sobre a higiene das mãos e é acompanhada por uma ampla gama de ações para serem aplicadas nos estabelecimentos de saúde da seguinte forma: mudança de sistema, formação e educação dos profissionais e pacientes, avaliação e feedback das ações, lembretes no local de trabalho e clima institucional seguro que facilite a sensibilização dos profissionais quanto à segurança do paciente.

A primeira edição do aconteceu em 2014 sob a coordenação da Aesculap Academia, instituição grupo B. Braun, com 85 hospitais inscritos em toda a América Latina, dentre os vencedores estão o Hospital e Maternidade Santa Joana / Pro Matre Paulista e o Hospital Mater Dei. A edição 2015-2016 do prêmio, contou com 36 instituições inscritas. Na segunda edição, foram selecionados nove hospitais finalistas e, dentre eles, quatro saíram vencedores. O Brasil mostrou perfeição no controle das infecções hospitalares e, pelo segundo ano consecutivo, conquistou a vitória através do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo.

As inscrições para a terceira edição do prêmio, no biênio 2017-2018, foram prorrogadas e são estendidas a todos os hospitais privados do país. De acordo com Roseli Campos, Gerente de Controle de Infecção da B. Braun, o prêmio é um importante meio para se criar uma padronização no atendimento hospitalar no âmbito da Higienização das Mãos. “O Prêmio serve como um incentivo às unidades de saúde para que trabalhem, junto às suas equipes, as práticas de higienização defendidas pela OMS gerando, consequentemente, maior adesão de profissionais e redução do número de infecções hospitalares”, ressalta.

Para participar, primeiramente, os hospitais devem se registrar no site da OMS: http://www.who.int/gpsc/5may/register/en/ E em seguida se candidatar no site do prêmio: www.hhea.info

Da Redação, com Assessorias

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