Defensora da prática low carb para tratamento do diabetes, a Associação Brasileira Low Carb (ABLC) comemora mais uma evidência científica comprovando a eficácia da estratégia no combate à doença. Trata-se de estudo clínico realizado pela Universidade de Ohio, nos Estados e Unidos, com 16 homens e mulheres com síndrome metabólica, precursora do diabetes.

O objetivo da análise, publicada no Journal of Clinical Investigation Insight, era mostrar o que acontece com pessoas obesas portadoras dessa síndrome quando aderem a uma dieta com baixo número de carboidratos. Após quatro semanas de prática alimentar low carb, mais da metade dos participantes (cinco homens e quatro mulheres) conseguiu reverter o quadro com dietas contendo calorias para manter o peso estável.

O estudo trouxe mais evidências para mostrar que a restrição modesta de carboidratos é suficiente para reverter a síndrome metabólica e suas decorrências. A grande dúvida desse estudo e de outras análises com objetivos semelhantes é saber se a restrição de carboidratos está diretamente ligada à melhoria no quadro do diabetes, por exemplo, ou se diz respeito apenas a um efeito colateral da perda de peso, essa assim a grande consequência da prática alimentar low carb.

Números alarmantes do diabetes no país

O diabetes vem crescendo em números alarmantes no país. De acordo com a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada em 2017 pelo Ministério da Saúde, o número de pessoas diagnosticadas com diabetes aumentou 61,8% entre 2006 e 2016, passando de 5,5% da população para 8,9%.

Diante desse quadro, torna-se evidente que o público em geral e diversos profissionais da área de saúde precisam se debruçar com mais afinco sobre a doença. O tratamento do diabetes não deve se resumir à utilização de medicamentos; a mudança simples de hábitos, como prática de atividade física e alimentação saudável, também são importantes no combate à doença.

Conforme a ABLC, a prática alimentar low carb prioriza a ingestão de comida de verdade (alimentos naturais) e a restrição do consumo de açúcar e carboidratos refinados. Esse método aparece como uma ótima solução para o combate e tratamento do diabetes, justamente porque a doença caracteriza-se pela elevação dos níveis de açúcar no sangue, seja diabetes tipo 1, em que o corpo é incapaz de produzir insulina, ou diabetes tipo 2, em que há resistência à insulina.

O médico, diretor-presidente da ABLC, José Carlos Souto, explica que em todas as doenças em que o organismo humano é incapaz de metabolizar ou tolerar, total ou parcialmente, uma substância, o tratamento consiste em remover essa substância. “Por que seria diferente com o diabetes?”, indaga. Souto destaca a obviedade de que eliminação da glicose na dieta seja o tratamento para uma doença cuja característica definidora é o acúmulo de glicose no sangue.

De acordo com o médico endocrinologista Rodrigo Bomeny, diretor científico de Medicina da ABLC, a low carb é vista como mais eficaz no tratamento do diabetes tipo 2, porque o consumo de carboidratos refinados (alimentos ultraprocessados) está intimamente associado ao surgimento dessa doença. Contudo, a prática alimentar também é muito útil para quem sofre do diabetes tipo 1.

Conforme Bomeny, é costume dizer que pessoas com esse tipo da doença não precisam controlar a alimentação, já que o tratamento é realizado por meio da aplicação de insulina. “Mas não é tão simples simular esse ajuste de insulina tão minucioso feito pelo pâncreas”, diz.

A insulina é o hormônio responsável pelo redução da glicemia, ou seja, pela diminuição da glicose no sangue. Segundo o médico endocrinologista, vários estudos demonstram que manter um controle glicêmico rigoroso é essencial para mitigar as complicações relacionadas ao diabetes tipo 1. No entanto, essa contenção pode ser perigosa por ocasionar excesso de hipoglicemias – diminuição da quantidade de açúcar no sangue em níveis muito baixos -, cujos sintomas são, entre outros, desmaio, fadiga, fome excessiva.

As pessoas têm uma falsa ideia de que com uma dieta com menos carboidrato terão mais hipoglicemia. Isso não é real. O que causa hipoglicemia é o excesso de insulina e não a falta de carboidrato. Ao se calcular a dose de insulina a ser aplicada, invariavelmente, erra-se a quantidade necessária. São muitos fatores envolvidos, tais como quantidade e velocidade de absorção do carboidrato, local de aplicação da insulina, atividade física e estresse”, cita.

Nesse sentido, de acordo com Bomeny, a melhor forma de diminuir a ocorrência de hipoglicemia é reduzir a quantidade de insulina. E, para que o efeito contrário não ocorra, ou seja, a hiperglicemia (aumento de açúcar no sangue), acaba-se por restringir a quantidade de carboidratos. “Se seu corpo não lida bem com os carboidratos, por que usá-los como base de sua alimentação?”, questiona.

Para exemplificar como a prática low carb pode ser benéfica no tratamento do diabetes tipo 1, o diretor-presidente da ABLC cita estudo recém-publicado pela revista científica Pediatrics. A análise mostra que pacientes (crianças e adultos) que seguiram essa estratégia alimentar durante dois anos, em média, tomando medicamentos em doses menores do que as exigidas em uma dieta normal, apresentaram glicose no sangue em níveis mais controlados.

Eficácia no tratamento do diabetes tipo 2

O diabetes tipo 2 caracteriza-se pela resistência das células à insulina. Como forma de vencer essa resistência, o organismo produz mais hormônio, o que gera um ciclo vicioso: quanto mais insulina mais resistente ao hormônio às células se tornam. Como efeito, o açúcar se acumula no sangue, causando uma intolerância do indivíduo à glicose.

Nesse sentido, a solução não passa apenas pela ingestão de insulina, embora em algumas situações ela possa ser necessária, mas pela diminuição da ingestão da substância mal tolerada, a glicose. O diretor-presidente da ABLC, José Carlos Souto, explica que todo carboidrato é digerido no organismo em glicose, sendo natural a melhora no quadro de diabetes tipo 2 com a low carb.

Além disso, a prática alimentar produz redução espontânea do apetite e perda de peso, tratando condições que vêm atreladas à doença. “É muito comum que o diabetes ou o pré-diabetes sejam acompanhados de obesidade, sobrepeso ou aumento da gordura visceral”, diz.

A eficácia da prática alimentar low carb no tratamento do diabetes tipo 2 também é corroborado por diversas evidências científicas, tais como ensaio clínico randomizado feito pela Universidade da Califórnia, em São Francisco, e publicado em dezembro de 2017 no jornal científico Nutrition & Diabetes

No estudo, pacientes diabéticos e com sobrepeso foram divididos em dois grupos: um com uma dieta composta por 45% a 50% de carboidratos e limitado a ingerir 500 calorias diárias; e outro grupo com uma dieta cetogênica ou very low carb (VLC), podendo ingerir calorias ilimitadas.

Como resultado, mais do que o dobro do grupo que praticou a estratégia com baixo consumo de carboidratos reduziu o valor de hemoglobina glicada para menos de 6,5, saindo da definição de diabetes. Souto explica que a melhor métrica para avaliar a remissão do diabetes com medidas de estilo de vida é a redução da hemoglobina glicada, pois é ela que fornece uma média da glicemia nos últimos 90 dias.

Assim, muitos pacientes inseridos no grupo da prática alimentar cetogênica pararam de usar medicamentos para diabetes, enquanto no grupo com ingestão mais alta de carboidratos nenhum paciente conseguir largar a medicação.

Os benefícios comprovados fizeram com que a Associação Americana do Diabetes, em inglês American Diabetes Association (ADA), tida como autoridade no assunto, recomendasse, em suas diretrizes atualizadas para 2019, a prática alimentar como alternativa dietética válida para o tratamento do diabetes tipo 2. Entre as vantagens da low carb, segundo a ADA, estão: perda de peso, redução da pressão arterial, aumento do HDL, o chamado colesterol bom, e redução dos triglicerídeos.

Caso real

Um exemplo que comprova a eficácia da low carb no tratamento do diabetes diz respeito à senhora Maria (nome fictício), que contava com 43 anos na época em que adotou a estratégia e compartilhou exames clínicos com seu médico.

Em apenas 45 dias de prática alimentar low carb, alimentando-se basicamente de ovos, carne e bacon, Maria, que é diabética tipo 2, melhorou diversos índices clínicos, o que ainda não havia conseguido adotando uma dieta hipocalórica de 1200 calorias.

Com estatura de 1,64m, Maria pesava 90Kg antes da prática alimentar, conseguindo reduzir seu peso para 80 kg depois de restringir o consumo de carboidratos. O nível de glicose no sangue baixou de 133 md/dL para 86 md/dL e a hemoglobina glicada foi de 6% para 5,1%. As mudanças possibilitaram à Maria reduzir as doses de seus remédios pela metade.

Impactos na saúde intestinal

O impacto de uma determinada dieta na microbiota intestinal pode melhorar o glicometabolismo (resistência à insulina, hemoglobina glicada e glicemia) em pacientes com diabetes tipo 2 (DM2), de acordo com estudo recém-publicado. Diabetes é uma doença muito prevalente e seu tratamento requer acompanhamento médico, mas é sabido que uma alimentação equilibrada é grande aliada, até porque, o DM2 está associado à obesidade.

Esse estudo reforça mais uma vez a importância de se abordar o diabetes como um todo, incluindo a saúde do nosso intestino. Hoje a Endocrinologia tem tentado entender cada vez mais como a nossa microbiota intestinal interfere no desenvolvimento de doenças, seja porque um ambiente intestinal mais inflamatório aumenta riscos de Diabetes, seja porque bactérias intestinais também se relacionam com escolhas alimentares piores ou melhores” explica Andressa Heimbecher, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).

Este ensaio clínico randomizado com 45 pacientes teve como objetivo determinar o efeito de uma dieta pobre em carboidratos e feita à base de amêndoa no glicometabolismo, bem como na microbiota intestinal e no peptídeo 1 semelhante ao glucagon em jejum em pacientes com DM2.

A ingesta de amêndoas aumentou significativamente as bactérias produtoras de ácidos graxos exercendo um efeito benéfico sobre o glicometabolismo em pacientes com DM2. “Ainda são necessários mais estudos, mas esse ensaio reforça necessidade de educarmos nossos pacientes sobre a relação entre o conteúdo da nossa dieta, a saúde da microbiota intestinal e o controle de doenças crônicas, como o diabetes. A estratégia de aprendizado em diabetes e autogestão constitui hoje um dos pilares fundamentais no controle da doença”, conclui Dra. Andressa.

Com Assessorias

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