O Brasil registrava até 20h30 deste sábado um total de 10.361 casos confirmados do novo coronavírus (Sars-Cov-2), com 445 mortes pela Covid-19, de acordo com as  secretarias estaduais de Saúde. O boletim epidemiológico do Ministério da Saúde divulgado na sexta-feira (3) alertava que os estados de  São Paulo, Ceará, Rio de Janeiro e Amazonas e o Distrito Federal podem estar passando da fase de transmissão localizada para a de aceleração descontrolada da pandemia e devem apresentar um expressivo aumento de casos nas próximas semanas.

Mas o que isso significa? Não vamos conseguir controlar a doença? Para a análise, o Ministério da Saúde divide a pandemia em quatro fases: epidemia localizada, aceleração descontrolada, desaceleração e controle. O cálculo leva em conta o coeficiente de incidência nacional de 4,9 casos a cada grupo de 100 mil habitantes. A proporção varia conforme o estado, sendo quase três vezes maior no Distrito Federal (14,9 casos). Em seguida vêm São Paulo (9,6), Ceará (7,9), Amazonas (7,4), Rio de Janeiro (7,2), Rio Grande do Norte (6), Roraima (5,9) e Acre (5,1).

Nenhum estado está nesta situação (de aceleração descontrolada) atualmente. O que os dados indicam é que alguns estados estão em transição para esta espiral de crescimento, em que não somos capazes de prever quantos casos vamos ter”, explicou o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, em Brasília.

Segundo ele, os motivos para estas unidades da federação apresentem esse aumento nos casos já eram previstos pelo Ministério desde o início, e se devem, principalmente, ao grande número de viagens internacionais e deslocamento de pessoas de outros estados, assim como ocorre em São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, e também no Amazonas, por conta da Zona Franca de Manaus.

Taxa de letalidade é de 4,2%

O último balanço do Ministério da Saúde, divulgado na tarde de sábado (4), apontava 10.278 casos confirmados e 432 mortes. A taxa de letalidade apontada é de 4,2%. Por este relatório, foram 1.222 novas confirmações em 24 horas,  o maior incremento desde o início da coleta de dados. O mesmo ocorre no número de óbitos, que aumentou 20% em relação ao total de sexta-feira (359).

A maior concentração da epidemia no Brasil permanece em São Paulo, que tem 260 mortes e 4.466 casos confirmados da doença. Em seguida, aparece o Rio de Janeiro, com 1.246 casos confirmados e 58 óbitos – outros 72 óbitos ainda estão em investigação.

O avanço da doença está acelerado: foram 25 dias desde o primeiro contágio confirmado até os primeiros 1 mil casos (de 26 de fevereiro a 21 de março). Outros 2 mil casos foram confirmados em apenas seis dias (de 21 a 27 de março) e quase 4 mil casos de 27 de março a 2 de abril, quando a contagem bateu os 8 mil infectados.

Os óbitos afligem mais os homens (57,6%) do que as mulheres (42,4%), de acordo com total de mortes apuradas até ontem. Oito de cada dez óbitos ocorreram com pessoas com mais de 60 anos. A mesma proporção de pessoas que faleceram apresentava pelo menos um fator de risco de morte como cardiopatias, diabetes, problema nos pulmões e doenças neurológicas.

Oitavo lugar em letalidade

Com esses números, o país ocupa a 16º lugar em casos da doença, o 14º lugar em óbitos e o 8º lugar em letalidade. Em todo o mundo já foram registrados mais de 1,18 milhão de casos e mais de 64 mil mortes.

Segundo ele, a curva de crescimento da epidemia no Brasil em relação aos demais países, a partir do centésimo caso, está abaixo das curvas da Espanha, Itália e Estados Unidos. Em relação à letalidade, que passou de 3% para 4,2% em uma semana, ele explicou que a taxa pode ser reduzida à medida que aumentar o número de testagens, que ampliará as confirmações.

O número de casos graves envolvendo jovens está acima das estatísticas de outros países. “Não sabemos explicar por que, mas não é um número que nos surpreenda. O número de óbitos com pessoas abaixo de 60 anos é pequeno. A preocupação maior continua sendo com a população na faixa acima de 60 anos”, disse João Gabbardo.

“Passaporte de imunidade”

Segundo Gabbardo, o Ministério da Saúde pensa em formas de criar uma espécie de “passaporte da imunidade”, uma identificação para  pessoas que contraíram o novo coronavírus, se recuperaram totalmente e já possuem anticorpos. Essas pessoas, segundo o secretário, não podem mais transmitir ou ser infectadas, e já adquiriram imunidade. Elas podem ser úteis no contato com grupos sensíveis, como idosos, e possivelmente são aptas a retomar certas atividades.

O secretário afirmou, ainda, que fechar cidades ou municípios que não contabilizam nenhum caso do novo coronavírus pode ser “uma medida excessiva”. “Não significa que vai ficar assim para sempre. Podemos fechar, abrir, se julgar necessário. Acho que isso merece uma discussão. Pode ser que tenha sido antes da hora, e merece uma análise melhor”, afirmou.

Gabbardo citou, entretanto, que o relaxamento da quarentena e do isolamento social deve acontecer apenas após a aquisição de material suficiente para lidar com uma larga escala da população. “Já estamos fortes, mas queremos ficar mais fortes ainda”, concluiu.

15 mil respiradores já comprados

O Ministério da Saúde adquiriu 15 mil respiradores mecânicos, no valor de US$ 13 mil cada, com investimento de R$ 1 bilhão. Após a assinatura do contrato, no final de março, a empresa tem até 30 dias para entregar os equipamentos no Brasil. Os ventiladores ajudam pacientes que não conseguem respirar sozinhos e seu uso é indicado nos casos graves de coronavírus (Covid-19), que apresentam dificuldades respiratórias.

Atualmente, o Brasil possui cerca de 65 mil respiradores, sendo que pouco mais de 46 mil estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde está adquirindo ainda leitos de UTI volantes, que podem ser instalados rapidamente na rede pública de saúde para enfrentamento da emergência do coronavírus sempre que houver necessidade. Nestes leitos, estão incluídos mais respiradores para ajudar na recuperação de pacientes.

O secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, informou que também tem mantido diálogo permanente com produtores brasileiros de respiradores para garantir a oferta no país. “Também temos produção nacional. Contratamos respiradores que vão ser produzidos no Brasil. Essas empresas vão começar a fazer entregas semanais. Vamos ficar com esses respiradores no nosso centro de distribuição e o alocaremos rapidamente nos locais que tiverem necessidade porque a capacidade instalada chegou perto do seu limite. Se houver diminuição de pacientes nestes locais, poderemos transferir os equipamentos de um local para o outro, na medida em que for necessário”, explicou .

Nos casos graves, a Covid-19 pode provocar pneumonia, produzindo um processo inflamatório que atinge os pulmões, fazendo com que os pacientes percam a capacidade respiratória e, portanto, necessitando de suporte ventilatório. Assim, os respiradores, ou ventiladores, são fundamentais para tratar casos graves e gravíssimos da doença. Normalmente, esses equipamentos estão disponíveis apenas em leitos de unidades de terapia intensiva (UTI).

Com agências

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