No fim de 2018, a atriz global Susana Vieira, de 76 anos, anunciou que lutava contra a leucemia, uma doença maligna dos glóbulos brancos, geralmente, de origem desconhecida. As mortes por leucemia crescem no Brasil. Pesquisa revelada pelo Sistema Único de Saúde contabilizou mais de 62 mil óbitos pela doença entre 2007 e 2016. Dados do Inca apontam que, para 2018, as estimativas de novos casos no país são de 10,8 mil, sendo 5,94 mil homens e 4,86 mil mulheres.
- A leucemia crônica não tem cura. A aguda sim. Uma eficaz forma de prevenção é diagnóstico precoce por meio da realização de exames periódicos anuais, especialmente o hemograma, afirma a médica hematologista do Centro de Excelência Oncológica, Carla Maria Boquimpani.
A entidade explica ainda que a leucemia tem como principal característica o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. A linfoide é mais incidente em pessoas mais acima de 60. Já a mieloide em pessoas acima de 50 anos. Entre homens e mulheres, seu acometimento é proporcionalmente igual.Todo o paciente que tem histórico câncer na família tem maiores chances de desenvolver a doença.
Além de ser extremamente grave, a doença não afeta apenas adultos, mas atinge boa parte de crianças. Conhecida como Leucemia linfoide aguda, a LLA, é o cancro mais frequentes sobre o público infantil. A aguda é responsável por 75% dos casos em crianças e adolescentes.
Conscientizar é o principal caminho para um diagnóstico precoce, fator essencial quando se trata de um câncer. A campanha Fevereiro Laranja dedica-se, neste mês, a alertar a população sobre a leucemia, câncer que ataca os glóbulos brancos e que se inicia na medula óssea. A doença se caracteriza pela quebra do equilíbrio da produção dos elementos do sangue, causada pela proliferação descontrolada de células.
Segundo Ana Carolina Moreira de Carvalho Cardoso, médica especialista em hematologia e transplante de medula óssea, as leucemias podem ser classificadas de acordo com a evolução e o tipo de efeito nos glóbulos brancos. Existem mais de 12 tipos de leucemia, sendo que os quatro primários são leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia mieloide crônica (LMC), leucemia linfocítica aguda (LLA) e leucemia linfocítica crônica (CLL).
Quanto à evolução, existe a leucemia aguda e a crônica. Na aguda, mais comum na infância, as células malignas se encontram numa fase muito imatura e se multiplicam rapidamente, causando uma enfermidade agressiva. Já nas leucemias crônicas, rara na infância, a transformação maligna ocorre em células-tronco mais maduras. Nesse caso, a doença costuma evoluir lentamente, com complicações que podem levar meses ou anos para ocorrer.
Os primeiros sintomas, de acordo com a profissional, geralmente são inespecíficos e, na maioria das vezes, os pacientes não apresentam fatores de risco identificáveis. Pela redução de glóbulos vermelhos, pode ocorrer a anemia e, com ela, vem o cansaço, aumento dos batimentos cardíacos, entre outros sintomas associados. A redução das plaquetas ocasiona sangramentos, principalmente pela gengiva e pelo nariz (epistaxe), além de equimoses.
Já a redução do glóbulos brancos aumenta a taxa de infecções. Também pode haver um aumento dos gânglios linfáticos, fígado ou baço, perda de peso, febre e sudorese noturna. “Nas leucemias agudas, a doença progride rapidamente e o tratamento deverá ser iniciado o mais breve possível. Nas crônicas, os sintomas podem ser mais brandos e, por vezes, o paciente poderá ser assintomático”, ressalta a especialista.
A leucemia também é classificada de acordo com o efeito que causa nos glóbulos brancos: a leucemia linfoide, linfocítica ou linfoblástica afeta as células linfoides, sendo mais frequente em crianças; e a leucemia mieloide ou mieloblástica afeta as células mieloides e é mais comum em adultos. Ainda há subtipos que requerem prognóstico e tratamentos diferenciados.
A origem da leucemia aguda ainda é desconhecida, porém, existem alguns fatores de risco que estão comprovadamente associados. “No caso das leucemias agudas mieloides temos alguns fatores, como tabagismo, benzeno, radiação ionizante, alguns quimioterápicos, Síndrome de Down, história familiar e idade. No caso das leucemias agudas linfoides, uso de alguns quimioterápicos, radiação ionizante, entre outras”, esclarece Ana.
Diagnóstico e tratamento
A médica, especialista em hematologia e transplante de medula óssea, frisa a importância da avaliação de um hematologista diante da suspeita de leucemia. Para realizar o diagnóstico, é preciso fazer um exame chamado hemograma e uma análise do sangue periférico. Depois, o paciente realiza o mielograma (exame da medula óssea), para avaliação da citologia, citogenética, avaliação molecular (mutações) e imunofenotipagem (avaliação do fenótipo das células).
O tratamento difere de acordo com o subtipo da leucemia, passando por procedimentos como uso de quimioterápicos, observação do paciente, uso de anticorpos monoclonais e uso de inibidores de tirosino quinase. No caso das leucemias agudas, o transplante alogênico de medula óssea poderá ser indicado nos casos refratários ou de subtipos mais agressivos. “Nas leucemias crônicas o objetivo é que o paciente entre em remissão, porém sabemos que, por ser uma doença crônica, pode ocorrer períodos de surtos e remissões. Já nas leucemias agudas o objetivo é a cura do paciente.”
A médica hematologista Carla Maria Boquimpani explica as principais informações sobre a doença:
- Definição, tipos e diferenças
- Leucemia é um tipo de câncer no sangue, uma doença que o acomete a medula óssea (a fabrica do sangue), produzindo células neoplásicas, que são as células do câncer. As leucemias podem ser se agudas ou crônicas, ambas podendo ser linfoide ou mieloide, dependendo do tipo de glóbulos brancos.
- As agudas são as mais graves e necessitam de quimioterapia com urgência. As leucemias crônicas podem não precisar de tratamento como a leucemia linfoide crônica. A leucemia mieloide crônica é tratada com medicamento oral.
- Principais sintomas
- Na leucemia aguda, o paciente se sente muito mal, apresenta fraqueza, sangramento, vômito. A crônica pode permanecer assintomática durante muito tempo. Na linfoide crônica, o paciente pode continuar só em acompanhamento. Quando o tratamento é necessário, pode ser venoso ou oral.
Na mieloide crônica, todos devem fazer tratamento com medicamentoso oral com comprimidos, e as respostas costumam ser excelentes. Os fatores de risco são bem amplos. Há um critério para fazer um prognóstico. A mieloide apresenta o risco Sokal que avalia o risco pelo tamanho do baço, idade, número de plaquetas.. A linfoide apresenta alteração molecular em exames de sangue e isso pode ser usado como fator de risco.
- Tratamento
- A Leucemia mielóide crônica (LMC) precisa de tratamento até o fim da vida. O tratamento da leucemia aguda dura em torno dois anos, dependendo do tipo de melhor prognóstico. Caso ele seja muito bom, são cerca de dois anos mesmo. Se for de risco alto, será preciso fazer transplante. O acompanhamento do paciente apos remissão da leucemia aguda deve ser até pelo menos cinco anos. O acompanhamento da leucemia crônica é para toda vida.
- Leucemia sob controle
- Significa que está controlada com medicamentos ou apenas sendo acompanhada sem critérios para tratamento. Dependendo do tratamento, é possível que haja consequências, mais são muito específicas.
- Cuidados que o paciente com leucemia precisa ter
- A quimioterapia reduz a imunidade do paciente, logo, a recomendação é que ele evite lugares públicos, principalmente a leucemia aguda. A crônica não demanda muitas restrições. Na crônica, a vida é completamente normal.
Com Assessorias