No enfrentamento ao mosquito da dengue, que também transmite zika e chikungunya, vale até criar novos ‘mosquitos’ capazes de neutralizar o vírus. Novas fábricas de mosquitos têm feito esse papel, utilizando o método Wolbachia. A tecnologia insere a bactéria nos mosquitos Aedes aegypti e impede o desenvolvimento do vírus no organismo do inseto, reduzindo a transmissão. Pelo método, os mosquitos são inoculados com a bactéria Wolbachia, o que os torna “imunes” ao contágio por vírus que causam doenças.
O mosquito com a bactéria foi batizado de Wolbito. Em setembro, uma fábrica de wolbitos foi inaugurada, para beneficiar dez regiões do Distrito Federal, além dos dois municípios goianos, impactando mais de 750 mil pessoas. Localizada na região administrativa do Guará, a 10 quilômetros de Brasília., a biofábrica tem uma das maiores operações do método Wolbachia no Brasil, com capacidade para produzir 6 milhões de mosquitos adultos por semana.
A proposta dos órgãos públicos de saúde, com aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é fazer a soltura desses mosquitos em massa para fazer uma mudança dessa população de mosquitos. é fazer a soltura desses mosquitos em massa para fazer uma mudança dessa população de mosquitos.
Assim, o material produzido na biofábrica é distribuído semanalmente em 20 mil potinhos, com a liberação envolvendo 26 viaturas e 52 servidores por dia. Durante a inauguração, mosquitos com a bactéria Wolbachia foram soltos para ajudar no combate à dengue, zika e chikungunya no Distrito Federal e nos municípios goianos de Valparaíso de Goiás e Luziânia.

No Brasil, outras 16 cidades já implementaram a técnica. Em julho, Curitiba (PR) inaugurou a maior biofábrica Wolbachia do mundo.  Em Niterói, no Rio de Janeiro, dados recentes mostram uma redução de 88% nos casos de dengue após a adoção da estratégia. Até o fim do ano, a novidade deve ser lançada em Natal (RN), Uberlândia (MG) e Presidente Prudente (SP).

Hoje, os Aedes aegypti que estão circulando têm a capacidade de transmitir várias doenças: zika, dengue e os vários tipos de dengue. Mas o Wolbito, a partir do momento que ele entra nesse mosquito, ele impede a replicação desses vírus. Então, obviamente, você reduz drasticamente a possibilidade desse vírus de transmitir essa doença”, explicou o secretário de Saúde do Distrito Federal, Juracy Cavalcante Lacerda.

No primeiro semestre de 2025, houve redução de 75% nos casos de dengue e de 73% das mortes pela doença no país. Apesar da queda nos números, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, alerta que não é o momento de baixar a guarda.

Por isso que nós estamos lançando agora toda a ação nesse segundo semestre de orientação à população. Esse período, que é o período de menor transmissão, é exatamente, na opinião do Ministério da Saúde, o melhor momento para conscientizar as pessoas, orientar as pessoas, fazer os levantamentos de dados, de onde está a concentração dos mosquitos, do impacto do aumento da temperatura média das cidades na multiplicação dos mosquitos e na multiplicação dos casos.”

Inauguração da nova biofábrica de wolbitos em Brasília (Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Fábrica de mosquitos ‘concorrentes’ do Wolbito abre as portas em Campinas

Concorrente das 17 fábricas de Wolbitos já existentes, um complexo de fabricação de mosquitos, em Campinas, interior de São Paulo, foi inaugurado na última quinta-feira (2), com capacidade para fornecer até 190 milhões de ovos de mosquitos com Wolbachia por semana, o suficiente para proteger até 100 milhões de pessoas anualmente.
Aguardando a aprovação da Anvisa, a instalação da Oxitec Brasil está pronta para começar a fornecer mosquitos portadores de Wolbachia ao governo, bem a tempo para o início da temporada de mosquitos no Brasil, e sem a necessidade de financiamento governamental para construção ou gestão”, informa a empresa.
Ainda de acordo com a Oxitec, a nova fábrica entra em operação como uma resposta direta ao apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) para acelerar o acesso a tecnologias inovadoras de controle de vetores, e marca um momento crucial na luta contra a dengue não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Com os casos de dengue atingindo níveis recordes na América Latina e na Ásia-Pacífico, a instalação foi construída para atender à crescente demanda de governos e comunidades que buscam proteção rápida, escalável e econômica”.

Bactéria reduz carga viral de mosquitos transmissores da dengue

A Wolbachia é uma bactéria que está presente naturalmente em mais de 60% dos insetos, mas não no Aedes aegypti. Pesquisadores australianos tiveram a ideia de transferir essa bactéria para o Aedes aegypti para ver se ela conseguiria reduzir sua carga viral.

A tecnologia Wolbachia comprovou reduzir a transmissão da dengue em mais de 75% em projetos-pilotos urbanos em grandes áreas. Ela foi formalmente reconhecida pela Organização Mundial da Saúde e adotada pelo Ministério da Saúde do Brasil como parte de seu Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD).

A bactéria se reproduz onde o vírus se reproduziria, impedindo o vírus de replicar. Funciona mais ou menos como uma vacina. Quando uma fêmea com a Wolbachia acasala com um macho do ambiente, toda a descendência desse cruzamento vai ter a bactéria Wolbachia e não vai conseguir transmitir dengue, zika, chikungunya”, explicou a diretora-executiva da Oxitec Brasil, Natalia Verza Ferreira.

Brasília (DF), 09/09/2025 - O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, participa da inauguração da biofábrica de Wolbachia de Brasília, no Núcleo de Controle Químico e Biológico (NCQB). Os mosquitos aedes aegypti são inoculados com a bactéria Wolbachia, o que os torna

Método Wolbachia  e ‘Aedes do Bem’ se complementam

A Oxitec Brasil está disponibilizando duas tecnologias complementares comprovadamente eficazes na redução da transmissão da dengue e na supressão das populações do Aedes aegypti.  A nova instalação Ambas as tecnologias de controle biológico funcionam com a liberação de mosquitos em áreas urbanas.

O método Wolbachia foi projetado para grandes campanhas de saúde pública em áreas extensas, por meio de programas liderados por governos, enquanto o Aedes do Bem foi projetado para intervenções direcionadas de supressão de mosquitos, que podem ser implementadas por qualquer pessoa, em pontos críticos e onde a redução de mosquitos que picam é uma prioridade.

A instalação em Campinas também está fabricando os produtos da linha Aedes do Bem, capaz de reduzir em 95% as populações de mosquitos Aedes aegypti em comunidades urbanas. A diferença da Wolbachia para o Aedes do Bem é que, no caso do segundo, é feita a soltura dos mosquitos machos no ambiente, que acasalarão com as fêmeas que já estão ali e que são as responsáveis por picar e transmitir a doença.

Os descendentes desse ‘casal’ serão apenas machos e todas as fêmeas morrem. É como se fosse um larvicida fêmea específico, porque as fêmeas morrem na fase larval. O Aedes do Bem faz um controle da população, diminui o número de fêmeas que picam e consequentemente diminui a doença”, disse Natalia.

Entretanto, as duas tecnologias não podem ser utilizadas ao mesmo tempo, porque se os dois forem soltos ao mesmo tempo, o macho Aedes do Bem vai cruzar com a fêmea com o Wolbachia, não haverá fêmeas, e o Wolbachia não será transferido para os descendentes.

A recomendação dos especialistas é a de que se faça primeiro a supressão da população com o Aedes do Bem e logo em seguida a Wolbachia para vacinar esses mosquitos que sobrarem e eles não conseguirem transmitir as doenças”, ressaltou a diretora.

O protocolo de aplicação consiste em usar o Aedes do Bem durante uma temporada, que no Brasil vai de outubro, quando começa a ficar mais quente e chuvoso, até maio, quando já começa a ficar frio. Dois meses após o final dessa temporada já é indicado que se comece a usar a Wolbachia.

A soltura da Wolbachia acontece entre nove e 15 semanas. Esse prazo vai depender do quão eficiente o cruzamento está sendo eficiente para passar a bactéria para os descendentes. Isso pode acontecer mais rápido quando está quente e pode acontecer mais devagar, porque quando não está muito quente o ciclo de vida do mosquito ele se estende”, recomenda Natalia Verza.

Natalia destacou que as duas tecnologias foram colocadas à disposição do Ministério da Saúde como políticas públicas de prevenção.

O Brasil sofreu surtos devastadores de dengue nos últimos anos. A urgência de ação nunca foi tão grande. Com o novo complexo da Oxitec, em Campinas, estamos equipados para responder imediatamente aos planos de expansão da Wolbachia do Ministério da Saúde, garantindo que a tecnologia possa chegar rapidamente a comunidades em todo o país, de forma econômica”, disse.

Sobre a permissão da Anvisa, o secretário adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Fabiano Pimenta, lembrou que novas tecnologias, como a Wolbachia, estão num processo provisório até 2027.

Vamos discutir como regular essa questão. Estamos aqui enquanto ministério dizendo que é uma das nossas prioridades, dos municípios e do órgão regulador independente. Temos todo o interesse em encontrar uma solução para que seja disponibilizada”, declarou.

Com informações da Agência Brasil

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