Entre agosto até esta quarta-feira (1/10), o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) recebeu a notificação de 43 casos de intoxicação por metanol no país, sendo 39 em São Paulo (10 confirmados e 29 em investigação) e 4 casos em investigação em Pernambuco. Além disso, foram descartados quatro casos suspeitos. Foi confirmado um óbito em São Paulo, enquanto outros sete seguem em investigação (cinco em SP e dois em PE).
O metanol é altamente tóxico e pode levar à morte. O total de casos registrados em pouco mais de um mês no Brasil acende um alerta para a possível adulteração de bebidas alcoólicas. Até então, o país contabilizava cerca de 20 casos de intoxicação por metanol ao longo de todo um ano, o que torna o atual cenário atípico.
A situação é classificada como um Evento de Saúde Pública (ESP), por isso é necessário ampliar a sensibilidade do sistema de vigilância e atenção à saúde em todo o território nacional para a detecção precoce e tratamento dos casos. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ainda ressaltou que a situação em São Paulo acende um alerta sobre a venda e o consumo de bebidas adulteradas.
Nós estamos diante de uma situação anormal e diferente de tudo o que consta na nossa série histórica em relação à intoxicação por metanol no país. A entrada da Polícia Federal no plano se deve à suspeita de envolvimento de uma organização criminosa relacionada à adulteração de bebidas”, reforçou.
Orientação aos estados para notificação imediata
Após a ocorrência de casos de intoxicação por metanol, o Ministério da Saúde enviou, nesta terça-feira (30/09), a todos os estados e municípios do país uma nota técnica orientando os estados e municípios a notificarem imediatamente todas as suspeitas relacionadas a esse tipo de intoxicação. A medida busca reforçar a vigilância e a resposta a casos suspeitos.
Essa determinação é para que possamos identificar mais rapidamente não só o que está acontecendo no Estado de São Paulo, mas também possíveis intoxicações em outros estados do país, a partir de comportamentos clínicos e epidemiológicos anormais”, destacou Alexandre Padilha.
Na manhã desta terça (30), o ministro Padilha participou da coletiva sobre o plano de ação do Governo Federal diante dos casos de intoxicação por metanol e determinou que os profissionais de saúde de todo o Brasil notifiquem imediatamente o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) estadual ao identificarem qualquer suspeita de intoxicação por essa substância.
A notificação pelo CIEVS será a base para as ações de resposta a casos suspeitos. A notificação imediata é fundamental também para garantir o cuidado adequado às pessoas. Também estimula a identificar onde o produto foi consumido para mapear os locais e acionar os órgãos de segurança.
Padilha pediu para que os gestores de saúde municipal e estaduais reforcem com os profissionais de saúde o protocolo de notificação de caso suspeito de intoxicação exógena, disponível no Guia de Vigilância em Saúde. Assim que houver suspeitas, o profissional de saúde pode adotar as medidas mais apropriadas para casos de intoxicação por metanol.
Para que o sistema funcione, alguém precisa notificar. É importante que os profissionais de saúde estejam em alerta e possam identificar precocemente os casos. Além disso, pessoas que tenham consumido álcool de procedência desconhecida e apresentem qualquer sintoma relacionado à intoxicação por metanol devem procurar imediatamente uma unidade de saúde”, enfatizou a secretária de vigilância em saúde e ambiente, Mariângela Simão.
Sala de Situação vai monitorar casos de intoxicação por metanol
Nesta quarta-feira |(1), o Ministério da Saúde instalou uma Sala de Situação para monitorar os casos de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica e coordenar as medidas a serem adotadas. De caráter extraordinário, o espaço vai permanecer ativo enquanto persistirem o risco sanitário e a necessidade de monitoramento e resposta nacional à intoxicação por metanol após o consumo de bebida alcoólica.
No local, a informação em saúde vai ser analisada sistematicamente por uma equipe técnica para caracterizar a situação de saúde da população intoxicada por metanol. A equipe vai planejar, organizar, coordenar e controlar as medidas a serem adotadas neste momento de Evento de Saúde Pública, devido aos casos registrados.
A equipe técnica será composta por representantes dos ministérios da Saúde, Justiça e Segurança Pública, Agricultura e Pecuária, pelos conselhos Nacional de Saúde (CNS), Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e as secretarias de Saúde de São Paulo e Pernambuco.
Leia mais
Alerta: bebida adulterada faz ainda mais mal à saúde
Álcool e Carnaval: uma combinação altamente explosiva
Carnaval e bebida em excesso combinam mesmo?
Como conduzir e investigar casos suspeitos de intoxicação por metanol
A nota técnica do Ministério da Saúde traz orientações sobre sinais, sintomas clínicos e demais informações para auxiliar na identificação de casos de intoxicação, além de instruções aos profissionais de saúde sobre a administração de antídotos para o metanol. O texto orienta as ações dos serviços de saúde para uma condução adequada e comunicação dos casos, como:
- Definição de caso
- Aspecto clínico
- Conduta frente ao caso suspeito ou confirmado
- Vigilância e notificação dos casos
O caso é considerado suspeito quando o paciente, que ingeriu bebida alcoólica, apresenta a persistência ou piora de sintomas, como embriaguez persistente, desconforto gástrico e alteração visual, entre 12 horas e 24 horas após o consumo.
O antídoto específico para os casos confirmados de intoxicação por essa substância é o etanol produzido por laboratórios ou farmácias de manipulação, em grau de pureza adequado para uso médico. A administração, intravenosa ou oral, é sempre controlada. Quando há necessidade clínica, o Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) ou as secretarias de saúde solicitam a manipulação do produto.
O Brasil conta com 32 CIATox, centros de referência especializada em toxicologia para orientação, diagnóstico e manejo de intoxicações, além de apoio à toxicovigilância e à gestão de risco químico. Em São Paulo, há 9 centros.
Conheça os sintomas de intoxicação por metanol
Aos consumidores, a orientação é evitar o consumo e compra de bebidas sem rótulo, lacre de segurança ou selo fiscal. Os principais sinais e sintomas devido a intoxicação por metanol são dor abdominal, visão adulterada, confusão mental e náusea que podem aparecer entre 12h e 24h após a ingestão da substância.
Diante desses sintomas, o paciente deve procurar o atendimento médico no serviço de emergência mais próximo a sua casa para investigação diagnóstica e tratamento adequado. O profissional de saúde deve ligar para o CIATox da sua região para que o serviço de saúde faça a notificação e a investigação do caso.
Investigação criminal e recomendação aos bares e restaurantes
O Ministério da Justiça e Segurança Pública alertou para risco de surto epidêmico, já que o consumo ocorreu em ambientes sociais, diferentemente de episódios anteriores. O MJSP determinou à Polícia Federal a abertura de inquérito para investigar a origem do metanol e a rede de distribuição das bebidas contaminadas, com indícios de que a circulação ultrapasse os limites do estado de São Paulo.
A investigação dos casos em São Paulo está sendo conduzida pela Polícia Federal em conjunto com os órgãos de controle e vigilância, que já associam as ocorrências ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, segundo informações do MJSP.
A recomendação é que bares, empresas e demais estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos comercializados. Aos consumidores, a orientação é evitar a compra de bebidas sem rótulo, lacre de segurança ou selo fiscal, até a conclusão das investigações. Diante da gravidade da situação, o Ministério da Justiça e órgãos de vigilância do Governo Federal e dos estados também integram a ação conjunta.
São Paulo cria gabinete de crise
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, anunciou a criação de um gabinete de crise, com ações como interdição de estabelecimentos suspeitos, canais de denúncia e reforço da rede de saúde. Freitas foi categórico em afirmar que não há relação entre adulteração de bebidas com uso de metanol e o crime organizado no estado.
Na tarde de terça-feira (30), um bar foi fechado pela Polícia Civil. Localizado na região dos Jardins, bairro nobre da capital, o estabelecimento apresentou indícios de venda de bebidas alcoólicas contaminadas pela substâncias.
O secretário estadual de Saúde, Eleuses Paiva, destacou que os hospitais já dispõem do antídoto contra metanol e recomendou buscar atendimento imediato em casos de sintomas como dor abdominal, náusea e vômito.
Com informações do Ministério da Saúde e Agências, com Redação