doação de órgãos e tecidos é um gesto de solidariedade capaz de salvar e transformar vidas. Para que esse ato se concretize, é essencial que cada pessoa manifeste à família e aos amigos o desejo de ser doador.

O Brasil possui o segundo maior programa público de transplantes do mundo, mas ainda enfrenta uma das maiores taxas de recusa familiar – cerca de 43,5%. Uma única pessoa pode salvar até oito vidas, mas o silêncio dentro de casa continua sendo a principal barreira.

A recusa geralmente vem do medo e da falta de informação. Muitas famílias não conversam sobre o tema e, na hora da perda, acabam decidindo pelo ‘não’. É por isso que precisamos falar mais abertamente sobre doação de órgãos em casa, nas escolas e em todos os espaços possíveis”, explica Lilian Curvelo, gastroenterologista e hepatologista (foto).

Mitos que ainda afastam as famílias

Um dos mitos mais comuns é o de que alguém pode passar na frente da fila, mas isso não existe. “O sistema é transparente, auditado e baseado em critérios clínicos. A confiança nesse processo é fundamental para que mais pessoas se sintam seguras em dizer ‘sim’ à doação”, afirma a Dra. Lilian.

1-A aparência do corpo será alterada. Mito! O procedimento é cirúrgico e não compromete a aparência do doador.

2-É possível furar a fila. Mito! A lista é nacional, auditada e segue critérios clínicos e de compatibilidade.

3-Se a pessoa tiver dito ‘sim’ em vida, a família não pode recusar. Mito! A autorização final é sempre da família.

Quem pode doar órgãos

A doação pode ser feita por doadores vivos (em situações específicas, como um dos rins ou parte do fígado) ou após a constatação de morte encefálica, sempre com autorização da família.

Órgãos: coração, fígado, rins, pulmões, intestinos, pâncreas.

-Tecidos: córneas, pele, ossos, tendões, válvulas cardíacas, medula.

Um único doador pode salvar até 8 vidas e transformar mais de 50 pessoas com tecidos.

Quando falamos em doação, não estamos falando de estatísticas frias. Estamos falando de pessoas reais que ganham uma segunda chance de vida, de famílias que voltam a sorrir, de crianças que podem crescer saudáveis. É sobre humanidade e solidariedade”, reforça a médica.

Como se tornar um doador

Não existe cadastro formal no Brasil. Para ser doador, basta avisar a família sobre a sua decisão. No momento da perda, são os familiares que autorizam ou não a doação.

Muita gente acredita que precisa de um registro em cartório ou um documento especial, mas não é verdade. Basta conversar com a sua família. Essa é a única forma de garantir que a sua vontade será respeitada”, esclarece a especialista.

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 Central de Transplantes de SP esclarece como funciona a doação de órgãos

A Central de Transplantes do Estado de São Paulo informa que segue normas estabelecidas por lei para identificar os possíveis receptores para cada órgão de um doador, ou seja, tipagem sanguínea, dados antropométricos entre doador e receptor, compatibilidade genética, além da priorização para pacientes em estado grave.

Quanto aos pacientes que precisam do transplante, cabe à equipe de transplante a sua inscrição junto ao Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo, que é responsável por realizar a gestão de todo o processo de doação e transplante em conjunto com o Sistema Nacional de Transplantes.

Abaixo, a Central de Transplantes de São Paulo esclarece alguns dos principais mitos em relação ao assunto.

Como é feito o processo para identificar se uma pessoa pode ser doadora de órgãos?

doação de órgãos acontece após o diagnóstico de morte cerebral. O paciente geralmente está no pronto-socorro ou em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em estado grave, e nessa condição é realizado o diagnóstico da morte cerebral. Então, a família é comunicada sobre a morte.

Em São Paulo, existem as Organizações de Procura de Órgãos (OPO), que avaliam o potencial doador, analisando se existe ou não alguma contraindicação para a doação, como HIV, tuberculose ou câncer sem critério de cura.

Tudo é avaliado no momento em que o paciente é diagnosticado com morte encefálica, ou seja, quando é declarado morto. A partir daí, entende-se se ele pode ou não ser um doador”, informa a Central.

Como faz para ser doador de órgãos?

É fundamental comunicar esse desejo à família. No Brasil, a doação de órgãos segue a lei do consentimento informado: a família precisa ser consultada e autorizar formalmente o procedimento por meio da assinatura do termo de doação. Em caso de morte encefálica, a possibilidade de doar só poderá se concretizar com essa autorização. Quando a família já conhece o desejo do falecido, a decisão torna-se muito mais fácil.

Como é feita a conversa com as famílias para doação de órgãos?

A entrevista familiar para doação de órgãos é semi-estruturada. Os enfermeiros que trabalham na Organização de Procura de Órgãos são treinados para conduzir esse processo. Nessa conversa, busca-se compreender o que a pessoa pensava em vida, se já havia manifestado opinião sobre doação, e também esclarecer dúvidas da família sobre o tema. Se não houver informações prévias, a possibilidade da doação é apresentada e discutida. No Brasil, a doação de órgãos é um direito, não uma obrigação.

Como é o acompanhamento das famílias que autorizam a doação?

A família entrevistada pela Organização de Procura de Órgãos recebe acompanhamento próximo, desde o primeiro momento até a liberação do corpo. Esse apoio é feito por meio de encontros presenciais ou conversas telefônicas. As famílias podem entrar em contato sempre que necessário, e são informadas passo a passo sobre o processo até o momento de retirar o corpo do ente querido no hospital.

O corpo do doador fica desconfigurado para a retirada dos órgãos?

A lei brasileira exige que o corpo seja devolvido em bom estado para a família. Após a retirada multiorgânica, ficam apenas cicatrizes semelhantes às de uma cirurgia cardíaca, como a de revascularização miocárdica.

Quem pode autorizar a doação de órgãos após a morte? 

No Brasil, a lei determina que podem autorizar a doação parentes de primeiro e segundo grau em linha reta ou colateral, como pais, irmãos, avós, filhos e netos. No caso de menores de 18 anos, ambos os pais, se vivos, precisam assinar o termo de doação.

Existe algum custo para a família do doador?

Nenhum. Na cidade de São Paulo, a Lei nº 11.479, de 1994, garante benefício funerário para doadores de órgãos, assegurando gratuidade no serviço funerário.

A religião impede a doação de órgãos?

Nenhuma religião proíbe a doação de órgãos. Pelo contrário, a maioria incentiva, pois trata-se de um ato de amor e caridade ao próximo.

É possível doar órgãos em vida?

Sim. Caso o doador não tenha nenhuma doença, pode doar em vida um dos rins, parte do fígado, medula óssea e até parte de um pulmão, mas apenas para familiares até o quarto grau de parentesco.

Uma única pessoa pode salvar até 8 vidas?

Sim. De um único doador é possível obter diversos órgãos e tecidos, incluindo coração, pulmão, rins, fígado, pâncreas, córneas, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem e medula óssea.

Idosos e pessoas que já tiveram problemas de saúde não podem doar órgãos?

Todas as pessoas podem ser potenciais doadores, independentemente da idade ou histórico médico. Exames clínicos e laboratoriais realizados no momento da morte determinarão a viabilidade da doação e quais órgãos e tecidos poderão ser aproveitados.

Há um limite de tempo para o qual o transplante de órgãos deve ser feito?

Sim. Cada órgão possui características específicas que determinam o tempo máximo para sua retirada após a morte encefálica do doador, bem como o tempo máximo para a realização do transplante.

Nem todo órgão é compatível com qualquer pessoa?

Correto. Para a doação, são feitos diversos testes para avaliar a compatibilidade entre doador e receptor. Além disso, realiza-se uma avaliação clínica e laboratorial do potencial doador para garantir a qualidade do enxerto e prevenir a transmissão de doenças infecciosas ou neoplásicas.

Com Assessorias

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