‘Uma prova inquestionável da vontade de matar”

Para a delegada-geral do Estado,  Ana Victória Lisboa, as imagens são a “prova inquestionável da vontade de matar”.  “Atrocidade, covardia, algo inaceitável para qualquer ser humano. Uma “selvageria que não reflete a evolução da sociedade. Não há desculpa que justifique’, disse.

“A sociedade brasileira é muito machista e patriarcal. Por que o homem ainda se sente dono da mulher?”, questiona. Ela reforçou ainda que a denúncia é a única forma de interromper a violência. Ainda segundo a delegada-geral, 90% dos casos de violência ocorrem no ambiente familiar, onde o Estado não está presente.

‘Eu pedi que ele parasse e ele só me batia’:  entenda o crime brutal

O caso de violência doméstica que chocou o país ocorreu na manhã de 26 de julho, em Ponta Negra, bairro turístico da capital potiguar. As câmeras de segurança de um condomínio registraram Juliana e Igor Eduardo Pereira Cabral, de 29 anos, aproveitando a piscina.

Juliana Soares, de 35 anos, vítima de espancamento por seu então namorado — Foto: Reprodução/Fantástico

Juliana Soares, de 35 anos, vítima de espancamento por seu então namorado — Foto: Reprodução/Fantástico

Naquele mesmo dia, outras imagens do condomínio captaram o casal discutindo dentro do elevador. Segundo as investigações, Igor teve uma crise de ciúmes e a briga escalou para uma “covardia brutal”. Juliana disse que decidiu permanecer no fundo do elevador para se proteger e garantir que as câmeras registrassem o ocorrido. Ter ficado no elevador e conseguir registrar as agressões foi o que a salvou, segundo policiais e advogadas que acompanham o caso.

Ele foi para o elevador em que eu tava para tentar me convencer a sair de lá. E eu não saí porque eu sabia que, se eu saísse, não ia ter câmera para filmar”, relatou a vítima.

Juliana ainda relatou que Igor afirmou que ela “ia morrer”. O espancamento durou 36 segundos. Foi do décimo sexto [andar] até o térreo. Ele me esmurrando sem parar, né?”, descreveu a vítima.

Após a agressão, uma moradora do condomínio encontrou Juliana ensanguentada. O porteiro do condomínio acionou imediatamente a polícia. Policiais militares chegaram ao local e levaram Igor para a delegacia. Uma amiga de Juliana e um policial também contataram o SAMU, informando que a vítima estava “bem machucada”. O elevador, cenário do crime, ficou com “sangue, boné e chinelos” espalhados pelo chão ensanguentado.

No dia seguinte ao crime, policiais da Delegacia da Mulher foram ao hospital onde Juliana estava internada. Sem condições de falar, Juliana se comunicava por gestos. Em um dado momento, uma policial forneceu caneta e papel, e Juliana escreveu uma declaração crucial:

Eu sabia que ele ia me bater. Então não saí do elevador. E ele começou a me bater e disse que ia me matar”.

A advogada Caroline Mafra, que representa Juliana e a conhece há dez anos, confessou ter ficado estarrecida e não conseguiu assistir ao vídeo da agressão até o final. As duas se conheceram em um trabalho voluntário.

Trabalhei com pessoas carentes, incluindo população em situação de rua e crianças que tiveram a guarda destituída dos pais. Me identificava muito. Achava que eu tinha nascido pra fazer aquilo. A área social sempre me atraiu muito”, contou Juliana.

Agressor diz que estava sob efeito de cocaína

Igor foi preso em flagrante no local do crime e levado para a Delegacia de Plantão da Zona Norte de Natal, onde foi registrada a ocorrência. Com base nas imagens das câmeras de segurança do elevador, o juiz decretou a prisão preventiva de Igor no mesmo dia, durante a audiência de custódia.

Desde então, o agressor já mudou seu depoimento algumas vezes. Inicialmente, alegou que sofria de claustrofobia e por isso agrediu a namorada no elevador, já que ela se recusava a sair. Depois, Igor mudou a versão e disse que estava sob efeito de uma combinação de bebidas e cocaína. Em nota enviada por sua defesa, o ex-jogador de basquete diz “estar arrependido e ciente de toda a dor que causou”.

Igor diz ter sido ameaçado de morte e estupro na cadeia,  onde foi trancado nu numa sala, onde foi espancado por agentes penitenciários com murros, chutes, cotoveladas e com uso de spray de pimenta – o que foi negado pela Secretaria de Administração Penitenciária do Estado.

Após passar  pelo centro de triagem da Seap, ele foi transferido para a Cadeia Pública de Ceará-Mirim, onde foi colocado em uma cela isolada. A defesa do acusado alega que ele sofreu violência na prisão. Algemado e nu, ele teria sido agredido por policiais penais com murros, chutes, cotoveladas e com uso de spray de pimenta.

A Seap informou que “tomou providências imediatas ao tomar conhecimento das agressões sofridas por Igor, supostamente praticadas por policiais penais de plantão”. Na sexta-feira (31), Igor foi transferido para um presídio em Natal.

Tentativa de homicídio: pena pode chegar a 30 anos de prisão

Em nota conjunta, advogados e familiares do agressor afirmaram que ele está à disposição das autoridades para julgamento, e que os familiares não têm responsabilidade pelos atos cometidos. A pena para tentativa de homicídio pode variar, mas geralmente se enquadra na tentativa de homicídio qualificado, com pena de 12 a 30 anos de reclusão. No entanto, a legislação brasileira mais recente tem endurecido as penas para crimes contra a mulher, incluindo feminicídio e suas tentativas, com possibilidade de penas mais altas. 

Juliana agora só quer Justiça.

A culpa não foi minha. A culpa não é da pessoa que sofreu a agressão. Eu não tenho responsabilidade sobre o ato dele. A responsabilidade dele é pública e ele tem que pagar por isso”, disse Juliana.

E vai, Juliana. O Brasil inteiro está com você.

Com informações da TV Globo e TV Record

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