Entenda o crime brutal

‘Eu pedi que ele parasse e ele só me batia’

O caso de violência doméstica que chocou o país ocorreu na manhã de 26 de julho, em Ponta Negra, bairro turístico da capital potiguar. As câmeras de segurança de um condomínio registraram Juliana e Igor Eduardo Pereira Cabral, de 29 anos, aproveitando a piscina.

Naquele mesmo dia, outras imagens do condomínio captaram o casal discutindo dentro do elevador. Segundo as investigações, Igor teve uma crise de ciúmes e a briga escalou para uma “covardia brutal”.

Juliana ainda relatou que Igor afirmou que ela “ia morrer”. O espancamento durou 36 segundos. Foi do décimo sexto [andar] até o térreo. Ele me esmurrando sem parar, né?”, descreveu a vítima.

Questionada na entrevista por que Igor não parava as agressões, ela foi enfática: “Porque ele queria me matar e eu não estava morta”.

Após a agressão, uma moradora do condomínio encontrou Juliana ensanguentada. O porteiro do condomínio acionou imediatamente a polícia. Policiais militares chegaram ao local e levaram Igor para a delegacia. Uma amiga de Juliana e um policial também contataram o SAMU, informando que a vítima estava “bem machucada”.

O elevador, cenário do crime, ficou com “sangue, boné e chinelos” espalhados pelo chão ensanguentado. A advogada Caroline Mafra, que representa Juliana e a conhece há dez anos, confessou ter ficado estarrecida e não conseguiu assistir ao vídeo da agressão até o final. As duas se conheceram em um trabalho voluntário.

Trabalhei com pessoas carentes, incluindo população em situação de rua e crianças que tiveram a guarda destituída dos pais. Me identificava muito. Achava que eu tinha nascido pra fazer aquilo. A área social sempre me atraiu muito”, contou Juliana ao ‘Fantástico’.

Imagens no elevador salvaram a vida de Juliana

Juliana disse que decidiu permanecer no fundo do elevador para se proteger e garantir que as câmeras registrassem o ocorrido. Ter ficado no elevador e conseguir registrar as agressões foi o que a salvou, segundo policiais e advogadas que acompanham o caso.

Ele foi para o elevador em que eu tava para tentar me convencer a sair de lá. E eu não saí porque eu sabia que, se eu saísse, não ia ter câmera para filmar”, relatou a vítima.

No dia seguinte ao crime, policiais da Delegacia da Mulher foram ao hospital onde Juliana estava internada. Sem condições de falar, Juliana se comunicava por gestos. Em um dado momento, uma policial forneceu caneta e papel, e Juliana escreveu uma declaração crucial:

Eu sabia que ele ia me bater. Então, não saí do elevador. E ele começou a me bater e disse que ia me matar“, contou a sobrevivente da tentativa de feminicídio.

Agressor diz ter sofrido violência na cadeia

Igor foi preso em flagrante no local do crime e levado para a Delegacia de Plantão da Zona Norte de Natal, onde foi registrada a ocorrência. Com base nas imagens das câmeras de segurança do elevador, o juiz decretou a prisão preventiva de Igor no mesmo dia, durante a audiência de custódia.

O agressor ainda chegou a dizer que foi ameaçado de morte e estupro na cadeia, onde contou que foi trancado nu numa sala, onde foi espancado por agentes penitenciários com murros, chutes, cotoveladas e com uso de spray de pimenta – o que foi negado pela Secretaria de Administração Penitenciária do Estado.

Após passar  pelo centro de triagem da Seap, ele foi transferido para a Cadeia Pública de Ceará-Mirim, onde foi colocado em uma cela isolada. A defesa do acusado alega que ele sofreu violência na prisão. Algemado e nu, ele teria sido agredido por policiais penais com murros, chutes, cotoveladas e com uso de spray de pimenta.

A Seap informou que “tomou providências imediatas ao tomar conhecimento das agressões sofridas por Igor, supostamente praticadas por policiais penais de plantão”. Na sexta-feira (31), Igor foi transferido para um presídio em Natal.

Espera por Justiça

Em nota conjunta, advogados e familiares do agressor afirmaram que ele está à disposição das autoridades para julgamento, e que os familiares não têm responsabilidade pelos atos cometidos. Juliana agora só quer Justiça.

Foi uma tentativa de acabar com a minha vida. Mas não deu certo. Eu estou viva”, declarou. “A culpa não foi minha. A culpa não é da pessoa que sofreu a agressão. Eu não tenho responsabilidade sobre o ato dele. A responsabilidade dele é pública e ele tem que pagar por isso”, cobrou.

E vai, Juliana. O Brasil inteiro está com você.

Confira a nota do agressor na íntegra

NOTA À IMPRENSA E À SOCIEDADE

Eu, Igor Eduardo P. Cabral, venho com profundo respeito, me manifestar diante dos acontecimentos recentes que abalaram tantas pessoas. Reconheço que houve dor, angústia e sofrimento, especialmente para Juliana, sua filha, sua família, bem como para os meus pais e demais entes queridos.

Lamento profundamente que minha conduta, influenciada por um contexto de uso de substâncias e instabilidade emocional, tenha contribuído para essa situação. Embora as circunstâncias ainda estejam sendo apuradas, sinto a necessidade sincera de expressar meu pedido de perdão a todos que, de alguma forma, foram afetados.

Não tenho intenção de justificar nada, tampouco minimizar o impacto dos fatos. Apenas desejo que Juliana consiga encontrar força para seguir em frente, com serenidade, coragem e paz. A ela, sua filha e sua família, envio minhas orações e meu mais genuíno respeito.

Enfrento o momento atual com humildade e esperança de que, com o tempo, todos os envolvidos possam encontrar caminhos de cura, reflexão e recomeço.

Com arrependimento e respeito,

Igor Eduardo P. Cabral

Com informações da TV Globo e TV Record

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