O mês de julho é dedicado à conscientização mundial do câncer de cabeça e pescoço. O Brasil está entre os países com maior número de casos desses tumores, que afetam regiões como cavidade oral (boca, língua, lábios, gengivas, céu da boca e bochechas) e nasofaringe (atrás do nariz e acima do palato mole), orofaringe (amígdalas, base da língua); faringe (parte da garganta), laringe (responsável pela voz), glândulas salivares e tireoide (glândula localizada no pescoço responsável pela produção de hormônios).
Esse grupo de tumores representa cerca de 3% de todos os cânceres e, na maioria das vezes, os pacientes com câncer na região da cabeça e pescoço têm entre 50 e 70 anos. Uma grande parcela da população brasileira descobre a doença em estágio avançado, aproximadamente 80%, o que compromete a eficácia dos tratamentos, a qualidade de vida e as chances de sobrevivência.
A negligência dos sintomas e a demora no encaminhamento por parte de profissionais de saúde, especialmente, dentistas e médicos são alguns dos fatores que retardam o diagnóstico do câncer de cabeça e pescoço. Por isso, a Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp) aproveita a campanha Julho Verde para alertar sobre os principais sinais da doença.
‘Qualquer sinal de alerta deve ser levado a sério’, alerta dentista
Oito em cada 10 brasileiros descobrem o câncer de cabeça e pescoço tardiamente. Por isso, qualquer sinal de alerta deve ser levado a sério. Procure um dentista ou médico o quanto antes. Quanto mais cedo tenha o diagnóstico, maiores são as chances de cura que podem chegar a 90%”, alerta a dentista Janini Rosas, responsável pelo Grupo Técnico de Trabalho de Segurança de Cabeça e Pescoço da Sobrasp.
Segundo ela, o dentista desempenha um papel fundamental no diagnóstico, sendo o profissional capaz de identificar lesões pré-cancerosas durante exames de rotina, realizar biópsias de lesões suspeitas e participar da reabilitação após o tratamento.
No entanto, outros especialistas também podem ser consultados, como cirurgiões de cabeça e pescoço, otorrinolaringologistas e oncologistas clínicos. Em muitos casos, o clínico geral pode fazer o encaminhamento adequado para esses profissionais”, esclarece a especialista.
Dez principais sintomas do câncer de cabeça e pescoço
- Feridas na boca, lábios e língua que não cicatrizam em mais de duas semanas
- Caroços ou nódulos no pescoço, mesmo que seja indolor
- Dor de garganta persistente que não melhora com tratamentos comuns, como antibióticos
- Rouquidão ou alteração na voz persistente por mais de duas semanas
- Dificuldade para engolir, para mastigar ou ainda a sensação de que há algo preso na garganta
- Dor de cabeça persistente, principalmente, quando acompanhadas de vômitos
- Sangramento nasal ou tosse com sangue pode ser indício para tumor maligno
- Inchaço na mandíbula ou no rosto
- Perda de peso inesperada
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Principais fatores de risco e formas de prevenção
Os principais fatores de risco para a doença são tabagismo; consumo de bebidas alcoólicas; exposição solar sem proteção (muito perigoso para o câncer de lábio); infecção pelo HPV (Papiloma Vírus Humano, especialmente, tipos 16 e 18), exposição ocupacional a poeiras, níquel e outros produtos químicos.
Para a prevenção, especialistas recomendam não fumar e evitar o fumo passivo; limitar o consumo de álcool; a vacina é dos meios mais eficazes contra HPV (principalmente, para prevenção de cânceres orofaríngeos); proteção solar nos lábios e visitas regulares ao dentista.
Os tratamentos disponíveis para os cânceres, inclusive no Sistema Único de Saúde (SUS), preveem cirurgias, radioterapia, quimioterapia, terapia-alvo, imunoterapia e reabilitação (fonoaudiologia, nutrição e apoio psicológico).
Cânceres de cavidade oral e orofaringe: o cenário no Brasil
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), com base nas estimativas para o triênio 2023-2025, são esperados cerca de 15.100 novos casos de novos casos de câncer da cavidade oral e orofaringe por ano, o que corresponde a 6,59 casos/100 mil habitantes. Para os homens a estimativa é de 10.900 casos (10,3/100 mil) e para mulheres, 4.200 casos (3,83 casos/100 mil).
O levantamento também aponta a ocorrência de 16.600 casos de tireoide e 7.790 de laringe por ano, totalizando, aproximadamente, 39.550 novos casos anuais, e quase 120 mil casos ao longo de três anos, chegando a cerca de 118.650. Já os cânceres de boca (cavidade oral) e laringe são os mais registrados em homens. O de laringe é mais diagnosticado em homens acima de 40 anos.
Câncer de pescoço é mais frequente em homens do Sudeste
Excluindo o câncer de pele não melanoma, o câncer de pescoço, no sexo masculino, é o quarto mais frequente na região Sudeste, o quinto nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e a sexta neoplasia mais frequente no Sul. No sexo feminino, é o 13° mais frequente nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, o 15° na região Centro-Oeste e 16° na região Sul.
Câncer de tireoide é mais comum em mulheres
Um dos cânceres que tem crescido no Brasil é o de tireoide. O câncer de tireoide é o mais comum em mulheres, seguido pelo câncer de boca e orofaringe. O carcinoma papilífero é o tipo mais frequente de câncer na tireoide, enquanto o carcinoma de células escamosas é mais comum em boca e orofaringe.
Para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 16.660 casos, sendo 2.500 em homens e 14.160 em mulheres. Esses valores, segundo o INCA, correspondem a um risco estimado de 2,33 casos novos a cada 100 mil homens e 12,79 a cada 100 mulheres. Geralmente esse tipo de câncer é diagnosticado em exames de rotina, com mais frequência em mulheres entre 18 e 35 anos.
Confira tabela abaixo: