Quinta-feira, dia 5 de junho, é o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data ressalta a importância da conservação ambiental e busca fomentar políticas públicas para mitigar a constante degradação do nosso ecossistema. No Brasil, a precariedade do saneamento básico impacta diretamente a biodiversidade local pela contaminação resultante do despejo irregular de esgoto.
O esgotômetro do Instituto Trata Brasil, inspirado no impostômetro, calcula diariamente quantas piscinas olímpicas já foram despejadas. Considerando o período até o dia 5 de junho, data do Dia Mundial do Meio Ambiente, mais de 855 mil piscinas olímpicas de esgoto terão sido despejadas no solo brasileiro.
Segundo informações recentes do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA), ano-base 2023, somente 49% do esgoto gerado é tratado – uma piora de 2,2% em relação ao índice de 52,2% registrado em 2022.
Esse volume significa que 5.481 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são lançadas diariamente no meio ambiente, contaminando os corpos hídricos e a rica biodiversidade brasileira. Houve um aumento no despejo irregular quando comparado com 2022, quando um volume de 5.253 piscinas olímpicas era lançado sem tratamento adequado.
Esse número evidencia a urgência de alcançar as metas de universalização do saneamento até 2033. A ausência de serviços de coleta e tratamento de esgoto, além de contaminar o meio ambiente, afeta corpos hídricos que são fonte de abastecimento de água para milhares de habitantes, compromete atividades como agricultura e pecuária, e impacta setores como o turismo. Para a população, a falta de coleta e tratamento de esgoto cria um cenário propício à proliferação de doenças, afetando a vida de pessoas de todas as idades, desde crianças até idosos.
Tabela 1 – Índice de tratamento de esgoto e piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento despejadas por dia – Regiões, SINISA 2023
Fonte: SINISA 2023 – Elaboração: GO Associados/Instituto Trata Brasil
Saneamento precário causou mais de 344 mil internações no Brasil em 2024
Falta de acesso a redes de esgoto e água tratada ainda compromete a saúde pública e pressiona o sistema hospitalar
Apesar dos avanços promovidos pelo novo Marco Legal do Saneamento, sancionado em 2020, o desafio da universalização permanece. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), mais de 33 milhões de brasileiros ainda vivem sem acesso à água tratada, e cerca de 90 milhões não têm coleta de esgoto adequada.
Em 2024, o Brasil registrou mais de 344 mil internações relacionadas a doenças de veiculação hídrica, segundo dados do Ministério da Saúde. A estatística escancara um problema estrutural que ainda afeta milhões de brasileiros: a falta de saneamento básico. A ausência de rede e tratamento de esgoto, água tratada e políticas eficazes de prevenção resulta em impactos severos na saúde pública, especialmente entre crianças, idosos e populações em situação de vulnerabilidade.
O saneamento deficiente está diretamente ligado a doenças como diarreia, hepatite A, leptospirose e parasitoses intestinais. “Essas enfermidades se proliferam em regiões onde não há coleta e tratamento de esgoto ou onde a água consumida não é potável. Em muitos casos, a contaminação ocorre dentro das próprias casas, por falta de estrutura sanitária”, alerta Igor Marinho, infectologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
O médico ainda reforça que a prevenção depende tanto de ações públicas quanto de cuidados individuais. “Lavar bem os alimentos, manter as mãos sempre higienizadas e evitar o consumo de água sem tratamento são atitudes simples que ajudam a reduzir o risco de contágio.”
Para a engenheira civil Sibylle Muller, CEO da NeoAcqua, o déficit no setor compromete não apenas a saúde da população, mas também os cofres públicos. “No Brasil, o déficit de saneamento impacta diretamente os gastos públicos e o desenvolvimento social e econômico. O Marco Legal do Saneamento tem impulsionado o aumento da cobertura dos tratamentos de água e esgoto, mas ainda serão necessários mais investimentos para atingir a universalização do saneamento no País”, afirma.
Sibylle também defende a adoção de alternativas inovadoras para acelerar esse processo. “Sistemas descentralizados de tratamento de esgoto, projetados com tecnologias eficientes, especialmente em áreas não atendidas por rede de coleta, são alternativas econômicas para redução do déficit de saneamento e da poluição de rios, lagos e outros cursos d’água. Contudo, é necessário um esforço conjunto entre governos e iniciativa privada para ampliar o alcance dessas soluções”, completa a especialista.
O tema do saneamento básico é, acima de tudo, uma questão de dignidade. Enquanto o acesso à água tratada e ao esgoto sanitário não for garantido para todos, o Brasil seguirá enfrentando consequências graves e evitáveis. A maior mobilização por melhorias no setor é urgente e deve envolver toda a sociedade.
Com Assessorias