Não é trabalho. É prazer, é terapia. Assim a catarinense Luciane Sell, de 44 anos, define as horas a fio que passa tecendo lindos tapetes a partir de materiais recicláveis, como sobras de malharia, restos de calças jeans, uniformes velhos, peças surradas de tricô, sacos plásticos de supermercado, TNT e feltro. Formada em Artes Visuais, ela se dedica desde 2009 a pesquisar e é professora do curso de Tapeçaria e Tecelagem da Casa de Cultura de Joinville (SC).
Por ano, ela ensina a técnica a cerca de 30 mulheres, com objetivo de gerar trabalho e renda ou, simplesmente, passar o tempo. Muitas alunas são senhorinhas, que até deixam de tomar remédios depois que começam a tecer. “Além de gerar renda, é bom para a socialização, ter algo manual a fazer. E até economizam com remédios”, conta Luciene.
A instrutora do grupo Mãos que Tecem veio ao Rio de Janeiro esta semana para acompanhar a montagem do imenso tapete que produziu com ajuda de outras tecelãs para a exposição Entre Contrastes no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), na Praça Tiradentes.
A mostra revela a força do artesanato catarinense produzido a partir de resíduos da indústria têxtil, uma atividade econômica muito importante naquele estado. E ainda reforça a sustentabilidade e provoca uma reflexão sobre como as pessoas vêm se comportando nesta nova sociedade do consumo, estimulando a conscientização e a mudança de hábitos.
“Quem não tem uma cortina rasgada em casa, uma calça jeans que não serve mais ou sacos de supermercado?”, questiona Luciane. Sobre a mostra, ela espera que os visitantes tenham a oportunidade de conhecer o artesanato de bom gosto, colorido e sustentável de Santa Catarina. “Esse trabalho traz descanso, paz. Não precisa de pressa nem de dinheiro. É a ressignificação de materiais que antes iam para o lixo. Com pouco dinheiro, é possível produzir algo legal, sem se preocupar com custo alto. Dá para se reaproveitar tudo”, diz ela.
Gratuita, exposição vai até 12 de maio no Rio
Uma história que vai do artesanal que precede a indústria têxtil, de volta ao artesanal que é produzido a partir do seu resíduo. A exposição inédita que o Sebrae/SC promove, de 23 de fevereiro a 12 de maio, no Rio de Janeiro, traz peças são produzidas manualmente, única e exclusivamente a partir de resíduos da indústria têxtil e do papel celulose. Ao todo, participam 87 artesãos, de nove municípios, com 612 peças, distribuídas em sete núcleos diferentes de produção.
A exposição ocorre em cinco ambientes distintos que mostram o processo e setor de cada trabalho: o ofício – o tear artesanal (sala 1); a indústria – têxtil (sala 2); do resíduo a transformação – têxtil (sala 3); o cotidiano (sala 4); lúdico e novas possibilidades – papel e celulose (sala 5). Em cada um desses ambientes existem pontos de interação com o público.
São áreas de interatividade com tear, com resíduos, além de espaços para experiências sensoriais e painéis informativos. O visitante poderá experimentar um tear manual, passar por um túnel com projeções de vídeos e aúdio sobre o trabalho na indústria, conhecer métodos de fabricação de artesanatos, além de passear por um tapete feito com vários materiais de cores e texturas diferentes.
De acordo com Simone Peluso, coordenadora de Artesanato do Sebrae/SC, Santa Catarina é reconhecida pela sua forte tradição na indústria têxtil, característica que está sendo potencializada pela produção artesanal de alto valor agregado, feita a partir de resíduos têxteis. “Os artesãos catarinenses vêm despertando atenção e conquistando destaque nacional e internacional com uma produção criativa e inovadora. Por isso, é importante uma exposição com artesanato catarinense conceitual e tradicional, que enaltece a vocação industrial do estado e dos setores Têxtil e de Celulose”, conta.
Segundo ela, o projeto foi formulado em oficinas criativas montadas exclusivamente para a exposição no Rio, tendo sido selecionado em edital do Sebrae Nacional. Maíra Fontenele, coordenadora do CRAB, explica que além da exposição e venda de produtos na loja do espaço, haverá uma rodada de negócios para lojistas nesta sexta-feira (23), quando a mostra é oficialmente aberta.
Serviço:
Exposição “Entre Contrastes” – evento gratuito e a visitação estará aberta ao público.
Data: de 23 de fevereiro a 12 de maio, sempre de terça a sábado, das 10h às 17h.
Local: CRAB – Praça Tiradentes, nº 67 ao 71, centro do Rio de Janeiro.