Era mais um dia comum na vida da missionária norte-americana Renee Murdoch no Rio de Janeiro. Ela saiu para correr na orla da Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, quando foi violentamente atacada por um homem em situação de rua. Levou tantas pancadas na cabeça que teve que remover a calota do crânio durante uma delicada cirurgia e tinha poucas chances de sobreviver.
O que os médicos não contavam é que a força da fé de uma família ajudou na sua quase improvável recuperação. Milagre? A história real do trágico ataque em setembro de 2012 virou filme – ‘Fé para o Impossível’, que estreia dia 20 de fevereiro nos cinemas de todo o Brasil, contando a impressionante história real de recuperação de Renee, que superou todas as expectativas médicas.
O longa é baseado na história de superação de Renee, que transformou a vida dela, de seu marido, o pastor Philip Murdoch, e dos quatro filhos do casal. Essa é uma história sobre a força do amor e da esperança em uma família abalada por um evento trágico.
Embora tenha sido internada em estado gravíssimo e os médicos não dessem muita perspectiva de cura, Philip e os filhos nunca desistiram da recuperação de Renee. Pelo contrário: eles dividiram a luta dela com o mundo e não economizaram esforços para reunir o máximo de pessoas em uma corrente de orações, na expectativa de salvá-la.
A produção é protagonizada por Vanessa Giácomo e Dan Stulbach. Dan interpreta Philip Murdoch, marido de Renee (Giácomo). Pastor em uma igreja, ele compartilha em suas redes sociais a evolução e a rotina de sua mulher durante sua recuperação, fazendo com que o caso ganhasse repercussão internacional, atraindo atenções dos grandes programas de notícias do país. O casal possui quatro filhos que são interpretados por Theo Medon, Julia Gomes, Bella Alelaf e Arthur Biancato.
A atriz Juliana Alves interpreta a médica responsável por cuidar de Renee, valorizando o papel da ciência e da medicina em uma intensa e complicada recuperação. O roteiro é escrito por Guilherme Ruiz e Carolina Minardi, adaptado do livro ‘Dê a volta por cima’, de Philip e Renee Murdoch, no qual dão a visão deles sobre o fato que marcou suas vidas. Além disso, ‘Fé para o Impossível’ possui uma música tema, composta por Eli Soares, que leva o nome do filme.
A coprodução da +Galeria, 360 WayUp e Grupo Telefilms tem direção de Ernani Nunes, mesmo cineasta responsável por No Ritmo da Fé e Injúria. O roteiro é assinado por Guilherme Ruiz e Carolina Minardi, e produção de Ricardo Costianovsky, Tomás Darcyl, Clara Ramos e Ygor Siqueira.
Na vida real, paciente passa por cirurgia de craniotomia: entenda
Na época com 44 anos, Renne foi internada, em coma, no Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, onde foi submetida a duas cirurgias para retirada de dois coágulos no cérebro. Em seguida, foi transferida para o Hospital Copa D’ Or, em Copacabana, onde sofreu uma terceira intervenção para recolocação de parte da calota craniana que havia sido retirada na primeira operação para reduzir a pressão no cérebro causada pelas pauladas.
A pastora tinha menos de 30% de sobreviver nos 14 dias seguintes. O percentual subiu para 90% depois das cirurgias. E as chances de ela ter sequelas caiu de 80% no momento da internação para 30% após as operações. Renne ainda apresenta pequeno déficit de memória e de linguagem, mas já recuperou suas funções motoras. Ela passou por tratamento com fonoaudiólogos e fisioterapeutas para se recuperar totalmente.
O filme não detalha os procedimentos médicos, atribuindo a recuperação de Renée apenas à fé de sua família e à corrente de orações que eles conseguiram mobilizar. No entanto, no caso de Renée, foi empregado um procedimento pouco conhecido, mas muito empregado na Medicina: a craniotomia descompressiva.
Muita gente não sabe, mas a parte de cima do osso do crânio, chamada de calota craniana, pode ser retirada em algumas situações pelo neurocirurgião e guardada dentro do abdômen do paciente para posterior recolocação.
Quando o paciente sofre um trauma na cabeça, o cérebro incha. Como a caixa craniana é fechada, não tem lugar para o inchaço expandir. Retiramos uma parte óssea para que o cérebro possa expandir, para não ocorrer morte”, explica o neurocirurgião Bruno Bettencourt.
Este tipo de cirurgia é mais comum do que se imagina, sendo realizado toda vez que ocorre um trauma e não é possível controlar o inchaço cerebral com medidas clínicas ou se existe algum hematoma dentro da cabeça e o médico percebe durante a drenagem que o cérebro vai ficar inchado.
Nesses casos é recomendável retirar essa parte da calota craniana para que não sofra depois. São essas indicações: edema cerebral ou algum hematoma que você saiba que o cérebro vai expandir com o inchaço.
Por que parte da calota craniana é guardada no abdômen?
Parte da calota craniana é guardada no abdômen, considerado um ambiente seguro que mantém a estrutura óssea íntegra por um bom tempo. O médico explica que ali existe uma camada de gordura em cima da musculatura. Existe a pele, a camada subcutânea, a camada de gordura e a musculatura. “Você colocando entre a musculatura e a gordura, a calota se mantém preservada”
Posteriormente, a calota vai ser recolocada no crânio. Ela precisa ser preservada de infecções e reabsorção óssea. Precisamos guardar em algum lugar, porque não pode deixá-la na cabeça. Falando como um leigo, ela precisa ser sepultada ou alojada em algum lugar. A calota pode ser deixada no abdômen quando o paciente tem chances de sobreviver.
As duas principais complicações, tanto no procedimento de remodelação como durante o alojamento no abdômen, são as infecções e as rejeições. Cria-se uma camada de fibrose, e o corpo vai expelir o material. Se estiver contaminada, a calota é jogada fora, porque o osso contaminado não pode ser colocado no abdômen do paciente.
O tempo de recolocação da calota depende do que se espera para o paciente, que geralmente se encontra em estado muito grave. “Ele sai do hospital, não só com sequela, mas com infecções. Não podemos fazer uma cirurgia enquanto houver uma infecção. Portanto, não existe um tempo médio para a calota se recolocada. Quando o paciente se recupera, é recomendável fazermos a cirurgia”, esclarece o médico.
Ainda segundo ele, quando não é possível utilizar o flap ósseo que foi desprezado, é necessário fazer a cranioplastia, que é uma substituição do osso. Existem alguns materiais, como o cimento ósseo que podemos moldar ou as próteses feitas por uma impressora 3D. Uma prótese craniana chega a custar até R$ 200 mil na rede particular, mas pode ser realizada de forma gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS).
Relembre o caso
No dia 26 de setembro de 2012, a pastora americana Renne Eliott Murdoch, de 44 anos, da Igreja Luz das Nações, no Recreio dos Bandeirantes, foi agredida com várias pauladas na cabeça desferidos por Alexandre Luis de Oliveira Francesco, 38, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
Mesmo quando Renee já estava caída, Alexandre Luis continuou agredindo-a com o pedaço de madeira. Pessoas que estavam no local e funcionários de prédios próximos conseguiram conter o morador e estavam prestes a linchá-lo quando dois guardas chegaram e os impediram.
Moradores afirmaram que é comum viciados consumirem crack debaixo de um viaduto perto do local da agressão. Preso em flagrante por tentativa de homicídio, o agressor disse que não tinha usado nenhum tipo de droga. A polícia, que suspeita que ele tenha problemas psiquiátricos, pediu um exame de sanidade mental.
Com informações da +Galeria e G1