Também conhecido como câncer cervical, o câncer de colo do útero é um tumor maligno que se desenvolve nas células do colo do útero, a parte mais baixa do órgão, que se conecta à vagina. O Ministério da Saúde estima que, até 2025, aproximadamente 17 mil mulheres receberão diagnóstico dessa doença, que é ocasionada pelo papilomavírus humano (HPV), uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST). A principal forma de prevenção da doença é a vacina contra o HPV, disponível gratuitamente na rede pública de saúde. 

Raquel Mattos é mãe de duas meninas e acredita que a vacina contra o HPV seja de extrema importância para o futuro das filhas. A mais velha, de 14 anos, já foi vacinada e a mais nova, de 10 anos, deve tomar a vacina em breve. “Acho fundamental pensar no futuro delas e protegê-las da maneira que posso. A vacina contra o HPV é um pensamento a longo prazo”, defende a mãe. 

Para a ginecologista Tânia Lima, essa é uma recomendação que deve ser direcionada para meninas e meninos, já que o HPV é o responsável por 90% dos casos de câncer do colo do útero. A médica, que está em tratamento há três anos para combater o tumor, também reforça a importância da rotina ginecológica e da necessidade da mulher conhecer o próprio corpo e se apropriar também da prevenção.

Por natureza, as mulheres se cuidam mais, cumprindo à risca os exames de rotina. No entanto, é preciso conhecer o próprio corpo, ficando atenta a possíveis sinais. Também é fundamental manter relações sexuais seguras, mesmo com um parceiro fixo de anos”, orienta a médica.

Queda na vacinação preocupa especialistas

A principal causa da doença no país é a infecção persistente pelo HPV, em especial os do tipo HPV-16 e HPV-18, responsáveis por cerca de 70% dos casos.  O HPV é transmitido pela atividade sexual e alguns dos seus subtipos podem causar câncer, incluindo o câncer de colo do útero. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda a vacinação preferencialmente antes do início da vida sexual, considerando a faixa etária de 9 a 14 anos para meninas, e 11 a 14 anos para os meninos.

Os estudos mostram que a vacina contra o HPV é segura e pode salvar milhares de vidas, já que a imunização dos adolescentes tem relação direta com a diminuição da incidência dos tumores relacionados à infecção pelo vírus”, explica Andreia Melo, oncologista clínica especialista em tumores ginecológicos e membro do Comitê de Lideranças Femininas da SBOC.

]Desde 2014, o Ministério da Saúde implementou no calendário vacinal a tetravalente contra o HPV, atualmente disponível no SUS para meninas e meninos de 9-14 anos, e para adultos imunossuprimidos até 45 anos. A vacina protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do vírus.

Mesmo com tamanha relevância na prevenção do câncer de colo do útero e outros tipos, nos últimos anos, a vacinação contra o HPV vem sofrendo uma queda em níveis preocupantes. De acordo com dados recolhidos pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) no DataSUS, do Ministério da Saúde, houve queda de 72% da aplicação em meninas e 52% em meninos, nos períodos de 2015 a 2021 e 2018 a 2021, respectivamente.

No Rio de Janeiro, os índices de imunização também estão abaixo do ideal. No estado, a taxa de vacinação para as meninas entre 9 e 14 anos ficou em 54,76% para a primeira dose e 33,27% para o esquema vacinal completo no primeiro semestre de 2022. No caso dos meninos, os percentuais ficaram em 22,45% e 14,02%, respectivamente.

Único câncer que pode ser prevenido com vacina

Muito se fala na criação de uma vacina contra o câncer. O fato é que já existe uma vacina que evita vários tipos de câncer. É a vacina contra o HPV. Isso porque estudos comprovam que o vírus está diretamente ligado não só ao câncer cervical, mas também a cânceres de ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe”, comenta Angélica Nogueira, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) no Rio de Janeiro.

No início da campanha de vacinação, que ocorreu há quase 10 anos, o cenário era mais positivo. Em parceria com secretarias de educação, a primeira etapa do calendário vacinal foi aplicada em escolas públicas e privadas, e a campanha foi fortemente divulgada em todos os tipos de mídia. “Na época, a adesão à vacinação foi de quase 92%, lembra a oncologista.

Queda na cobertura vacinal coloca meninas e meninos em risco

No Brasil, a vacina contra o HPV está disponível no Programa de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, desde 2014. A vacina disponível é a chamada quadrivalente, pois protege contra quatro tipos de HPV: 6, 11, 16 e 18, os mais comuns na nossa população.

Dados do Ministério da Saúde revelam que nos últimos anos houve uma redução da cobertura vacinal contra o HPV no Brasil. Em 2019, 87% das meninas e 61,5% dos meninos com idade entre 9 e 14 anos receberam a primeira dose da vacina contra o HPV. Em 2022, a cobertura caiu para 75,8% e 51,1%, respectivamente.

É necessário um esforço conjunto do governo e da sociedade no sentido de atingirmos a meta estipulada pela OMS de alcançarmos uma cobertura vacinal de 90% até o ano 2030”, explica Leonardo Silva, oncologista especializado em tumores femininos do Grupo SOnHe.

Segundo ele, a vacinação de crianças e adolescentes contra o HPV é fundamental para evitar a disseminação do vírus e o caminho para a erradicação do câncer de colo uterino.

O ideal é que a vacina seja administrada antes do primeiro contato com o vírus, ou seja, antes de iniciar a vida sexual. No entanto, hoje já sabemos que mesmo com a vida sexual ativa, a vacinação ajuda a reduzir o risco de infecção persistente”, explica.

No mundo, hoje existem 5 vacinas contra o HPV licenciadas para uso, 3 delas disponíveis no Brasil. Todas essas vacinas são compostas por partículas que simulam o HPV e carregam algumas proteínas virais, mas, por não se tratar de vírus completos e vivos, elas não são capazes de causar infecção viral.

Tais vacinas são capazes de induzir uma resposta imunológica que chega a ser 10 vezes superior à resposta imune natural do nosso organismo. Além disso, a produção de anticorpos protetores é bastante duradoura, com alguns estudos mostrando positividade por mais de 15 anos após a aplicação da vacina.

A recomendação é de que a vacina contra o HPV seja administrada às meninas e aos meninos com idade entre 9 e 14 anos, com duas doses com intervalo de seis meses. A segunda dose pode ser administrada com intervalo maior, caso o tempo correto de seis meses não tenha sido respeitado.

Se a primeira dose for feita a partir dos 15 anos, deve-se administrar três doses, a segunda com intervalo de 2 meses e a terceira com intervalo de 6 meses (contando a partir da primeira). Além disso, indivíduos que vivem com o HIV, transplantados (órgãos ou medula) e pacientes oncológicos podem receber a vacina entre os 9 e 45 anos de idade, com o esquema de três doses.

Imunização é uma das principais formas de evitar o câncer do colo uterino, que mata 342 mil mulheres por ano no mundo

Uma das cores atribuídas ao mês de janeiro é a verde-escuro, como forma de conscientizar sobre a prevenção aos tumores ginecológicos. No primeiro mês do ano, as atenções estão voltadas ao câncer do colo do útero, o terceiro tumor mais frequente entre as brasileiras, quando excluímos o câncer de pele não-melanoma. Em 2020, esse tumor foi o responsável pela morte de 6.600 mulheres no país

A queda da imunização contra o HPV cresceu gradualmente nos últimos anos, não só em decorrência da pandemia, mas por retirada da vacinação das escolas, além de falta de conhecimento da população sobre sua necessidade.

Levar a vacina até a criança e ao jovem, nas escolas, é fundamental para o aumento da adesão. É preciso retomar a cultura de vacinação que era tão enraizada no brasileiro. Somente com aumento de vacinados é que vamos conseguir quebrar a cadeia de transmissão do vírus e, consequentemente, evitar o surgimento do câncer”, afirma a médica.

Vacina também previne outros tipos de câncer

De acordo com a entidade, esse medicamento protege contra os tipos 6,11,16 e 18 do HPV, sendo que os dois primeiros causam verrugas nos órgãos genitais e os dois últimos representam 70% dos casos de câncer do colo do útero. A oncologista Angélica Nogueira também alerta para a importância da vacina contra HPV, um fator que não pode ser deixado de lado.

Mais de 90% dos casos do câncer do colo do útero estão ligados ao HPV. Infelizmente, apenas um terço das meninas são vacinadas no Brasil e isso pode impactar diretamente no problema. Isso poderia reduzir em até 95% as chances de desenvolvimento da neoplasia”.

Segundo ela, a imunização pode ajudar não só a prevenir o câncer do colo do útero, como também o de vulva, vagina e ânus nas mulheres e de pênis nos homens. Além disso, vale lembrar que a vacina também é indicada para pacientes com câncer, HIV e transplantados (até os 45 anos nas mulheres e 26 anos nos homens).

Prevenção, sintomas e tratamento

O papilomavírus humano é um dos principais responsáveis pelo câncer do colo uterino, por isso, reforçar a importância imunização é tão necessário quanto alertar para que a rotina de exames ginecológicas seja cumprida anualmente pelas mulheres.

Com princípio silencioso, o câncer de colo do útero demora para se desenvolver e se dá por meio de alterações das células uterinas, apresentando primeiro uma pré-lesão (neoplasia intraepitelial cervical).

Conforme a doença avança, alguns de seus principais sintomas são sangramentos, corrimento e dores na relação sexual”, comenta. “Se detectado no início, o câncer cervical apresenta grandes chances de cura”, acrescenta a oncologista clínica.

Para prevenir a doença, além da vacinação completa contra o HPV, é recomendável (mesmo em pessoas vacinadas) a realização de exames de rastreamento. “O exame do Papanicolau é o exame principal e deve ser realizado a partir dos 25 anos e, após duas negativas, a frequência deve ser de no mínimo uma vez a cada três anos. Já em mulheres que tiveram o HPV positivo em algum momento da vida, a recomendação para o exame é anual”, explica.

Quanto ao rastreamento dos cânceres ginecológicos, Angélica Nogueira comenta que o Papanicolau é uma maneira de identificar as lesões pré-malignas antecipadamente. “Ele pode ajudar a diagnosticar precocemente o câncer do colo do útero e evitar que o tumor seja encontrado em estágios mais avançados, prejudicando o tratamento e deixando-o mais complexo”.

O câncer do colo uterino é causado, em mais de 90% das vezes, pela infecção persistente pelo vírus HPV (papilomavírus humano). Existem mais de 200 tipos de HPV, alguns deles associados ao desenvolvimento de doenças benignas, como as verrugas genitais. Por outro lado, cerca de 13 tipos de HPV são considerados de alto risco, ou seja, capazes de induzir o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer, entre eles o de colo uterino.

Cerca 80% dos homens e das mulheres já foram expostos ao HPV pelo menos uma vez até os 50 anos de idade, mas nem todas as mulheres que entram em contato com o HPV vão desenvolver câncer de colo uterino. Isso porque, na grande maioria das vezes, o organismo consegue desenvolver uma resposta imune capaz de eliminar o vírus. A persistência da infecção leva ao desenvolvimento de lesões pré-cancerosas que, se não diagnosticadas e tratadas, podem evoluir para o câncer.

Sinais e sintomas do câncer de colo do útero

Silencioso, o câncer de colo do útero não costuma apresentar sintomas iniciais e, quando aparecem, pode ser um indício de avanço da doença. A oncologista Carla Andrade, do Hospital Marcos Moraes, diz que um erro comum é achar que o HPV só se manifesta através de verrugas genitais e que, na ausência delas, não é preciso se preocupar.

Nem sempre o HPV vai apresentar verrugas, mas o vírus estará presente. Para detectar lesões pré-malignas ou malignas, é fundamental que se faça sempre o exame Papanicolau”, reforça.

Por isso, além da realização anual dos exames de rotina, é preciso atenção para alterações como sangramento vaginal sem causa, corrimento alterado, dor abdominal ou pélvica constante, sensação de pressão no abdômen, vontade frequente de urinar e perda rápida de peso. Ao surgimento desses sintomas é recomendado buscar ajuda médica com urgência.

Janeiro Verde: mês de conscientização sobre o Câncer de Colo do Útero

Vacina contra HPV é o método de prevenção mais efetivo, segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)

Janeiro Verde é o mês da conscientização sobre o câncer de colo do útero, também conhecido como câncer cervical, e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) reforça a importância da imunização contra o HPV como principal método de prevenção. De acordo com o relatório anual do Instituto Nacional de Câncer (INCA), apresentado em 2023, este é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres no Brasil.

Segundo a estimativa do mesmo documento, 17 mil novos casos serão diagnosticados para cada ano do triênio 2023-2025. Entre as principais causas deste tipo de neoplasia está a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV), que pode ser evitada por meio da vacina tetravalente disponível na rede pública e privada (que hoje também já tem disponível a vacina nonavalente).

“O câncer do colo do útero ainda é, infelizmente, considerado um problema mundial de saúde. Nos países em que há uma alta taxa de infecção pelo HPV, a neoplasia possui uma maior repercussão. Apesar de na grande maioria dos casos as mulheres terem a infecção resolvida por volta de seus 30 anos, ainda existe a probabilidade de o vírus evoluir para o câncer do colo do útero“, comenta a oncologista Angélica Nogueira, que também é coordenadora do Comitê de Tumores Ginecológicos da SBOC.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas, sendo que esta porcentagem pode ser maior nos homens. A especialista ressalta que além do câncer do colo de útero, a vacina contra o HPV ainda pode prevenir outros tipos de tumores: “A imunização protege também contra o câncer de vagina, vulva, pênis ou canal anal, além de alguns tumores da região da cabeça e pescoço”. 

Sintomas, detecção e tratamento

O câncer de colo do útero ocorre por meio de alterações das células uterinas e os primeiros sintomas demoram a aparecer, sendo eles manifestados com sangramentos, corrimento anormal, dores abdominais, queixas urinárias e dores durante a relação sexual. Por isso, é importante a realização do exame Papanicolau a partir dos 25 anos, mesmo em mulheres que foram imunizadas contra o HPV, porque ele permite a detecção de uma lesão pré-invasora (neoplasia intraepitelial cervical).

O tratamento para o câncer de colo de útero é avaliado caso a caso de acordo com o estágio da doença, a idade do paciente e questões pessoais, como a vontade da mulher em gerar filhos. Pode envolver cirurgia (histerectomia), quimioterapia combinada à radioterapia, ou em casos avançados da doença a imunoterapia em combinação com quimioterapia. “Quando detectado em fase inicial, o câncer do colo de útero apresenta grandes chances de cura”, completa Dra. Andreia Melo.

Para mais informações sobre o Câncer de Colo de Útero acesse o infográfico da SBOC aqui.

 

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