Afinal, maconha queima neurônio? A pergunta pode parecer idiota, mas é a que mais reverbera quando o assunto é uma das ervas mais consumidas no mundo, desde os primórdios da civilização. ‘História de uma Planta’, série documental que estreou esta semana, explora a relação da sociedade brasileira com a Cannabis sativa, desmistificando esta e outras crenças em torno da planta de onde se extrai a maconha medicinal, e popularizada hoje em dia após diversas “descobertas” de seu poder curativo – o que não é novidade para muita gente substância apontada por seus efeitos para combater diversos males.

Ao longo de cinco episódios, a produção reúne entrevistas com especialistas de diversas áreas como neurociência, história, direito, agronomia e medicina e investiga os múltiplos usos terapêuticos da planta e discute os limites entre o uso recreativo e medicinal, explorando também os símbolos culturais e rituais que permeiam o universo canábico.

O elenco de entrevistados conta com mais de 30 participantes e é repleto de vozes representativas, como Sidarta Ribeiro, neurocientista e consultor da série. Segundo ele, a maconha pode trazer benefícios cognitivos para pessoas idosas, enquanto é desaconselhada para adolescentes que ainda não desenvolveram um ‘repertório mental’, podendo, nesses casos, levar até mesmo a dificuldades de aprendizagem, concentração e memorização.

Maconha ajuda na memória, diz Nelson Motta, aos 80 anos

Famosos que fazem uso de maconha de modo recreativo, como o jornalista e compositor Nelson Motta, de 80 anos, adepto de cannabis há mais de cinco décadas, e o  humorista e ator Gregório Duvivier. No primeiro episódio do documentário, Motta conta que, ao contrário do que muitos pensam, a maconha o ajuda a manter a memória ativa.

Com formato acessível e dinâmico, ‘A História de uma Planta’ busca promover um debate necessário sobre a cannabis, desmistificando tabus e trazendo à tona o potencial de uma nova relação com essa planta milenar. Apresenta, também, um panorama sobre a possível legalização da cannabis, com exemplos bem-sucedidos ao redor do mundo e reflexões sobre o papel do Brasil nesse contexto.

Entre os entrevistados, também estão a escritora e socióloga Juliana Borges; e a ativista indígena Cintia Guajajara. Além disso, a série conta com a última participação filmada do intelectual e ativista político Nêgo Bispo. A série que estreou no dia 15 de dezembro no GNT e será disponibilizada posteriormente no Globoplay. A produção de cinco episódios é assinada pela Feel Filmes, em co-produção com o GNT. Confira o trailer.

 

Uma necessária discussão sobre a cannabis no Brasil

Autor do livro ‘O Sol na Cabeça’ e figura de destaque da literatura brasileira, o diretor da série Geovani Martins diz que a obra surge do desejo de provocar uma discussão panorâmica sobre a cannabis na sociedade brasileira a partir de uma visão afrocentrada, com equipe e elenco majoritariamente negros, compondo essa nova visão sobre a cannabis tanto na frente quanto por trás das câmeras.

Sempre nos incomodou que o grupo étnico racial mais afetado pela proibição da planta tenha tão pouca representatividade no discurso público. Por isso, trouxemos especialistas negros das mais diversas áreas para compor nosso corpo de entrevistados”, afirma.

A  série é o primeiro trabalho de Geovani na direção, ao lado da Nina Kopko, que foi diretora assistente em A Vida Invisível, dirigido por Karim Aïnouz em 2019. Ela conta que o desejo da série era compartilhar as pesquisas sobre a planta cannabis com o maior número de pessoas possível.

Para desmistificar o assunto, levantar importantes questões sociais em debate e levar conhecimento para quem estiver aberto ou curioso. E esse desejo vem de uma relação bem pessoal, a partir da nossa observação com familiares e pessoas próximas que, quando tomaram conhecimento, conseguiram vencer seus receios e tabus, e puderam então se beneficiar do uso terapêutico da maconha”, diz Nina.

Geovani e Nina ainda colaboram no roteiro, ao lado dos roteiristas Rafael Souza-Ribeiro, Heitor Lorega e Alan Miranda. Com produção de Ric Vidal e direção de fotografia de Rodrigo Machado, a série também conta com pesquisa de conteúdo liderada por Suzane Jardim e Gabriel Mendes, direção de arte e animação de Diogo Hayashi, e narração feita pela atriz Bárbara Santos.  A trilha sonora original foi desenvolvida pelo grupo Metá Metá, trio formado por Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França.

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