Um estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) apontou um aumento de 90,5% nos casos de depressão entre os brasileiros, desde o início da quarentena. A doença, tida como uma das mais incapacitantes do mundo pela OMS (Organização Mundial de Saúde), é a principal causa de suicídio, seguida pelo transtorno bipolar e abuso de substâncias.
A depressão pode ser resultado de alterações nos neurotransmissores do cérebro (como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina, responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar) ou de fatores como genética, problemas pessoais graves, traumas, abuso de substâncias lícitas e ilícitas, entre outros, gerando um quadro debilitante e difícil de lidar sem ajuda.
Reconhecer que está com depressão é desafiador, especialmente no momento atual, em que muitos sintomas gerados pela pandemia podem se confundir com os de uma doença real”, alerta Elaine Di Sarno, psicóloga, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia pelo IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP).
Abaixo, a psicóloga lista 8 sinais que podem indicar uma possível depressão:
Perda de interesse pelas atividades habituais
“É difícil ter motivação com uma rotina cheia de eventos estressantes como os atuais. No entanto, se a pessoa chega ao ponto de deixar de lado as atividades que sempre gostou de fazer, é um sinal perigoso”. Segundo Elaine, neste período de isolamento, a inatividade e a solidão se tornam um alívio.
Sensação contínua de tristeza
O que difere a tristeza habitual da depressão são a frequência e a intensidade do sintoma. “Se o sentimento persistir por mais de 15 dias seguidos, é possível que o quadro esteja além de uma breve melancolia”, afirma Elaine Di Sarno.
Alterações bruscas de humor
Irritação constante por motivos banais, mudanças súbitas de humor e até reações agressivas merecem atenção. “O indivíduo com depressão se aborrece à toa e sempre encontra motivos para se irritar e reclamar”.
Alterações no apetite e no sono
Dormir demais (ou quase nada) e comer muito (ou perder o apetite) são quadros sintomáticos comuns na pessoa com depressão. “As oscilações são muito grandes. O indivíduo pode passar várias noites em claro ou chegar a dormir 12 horas seguidas e, mesmo quando acorda, não tem a menor disposição para levantar. Na alimentação, a pessoa que come muito mais do que deve, está usando a comida como válvula de escape para aliviar a ansiedade. Já outras, perdem completamente o apetite, chegando a ter enjoos só de sentir o cheiro de comida”, pontua a psicóloga.
Falta de vaidade e higiene
Uma das características da depressão é a perda da vontade de cuidar de si mesmo. A pessoa costuma estar com a higiene corporal comprometida (chegando a ficar uma semana sem tomar banho); roupas sujas, rasgadas ou desalinhadas; mau cheiro; cabelos despenteados, sujos e visivelmente maltratados; barba por fazer (em homens) ou falta de depilação (em mulheres); dentes estragados ou unhas sujas e compridas.
Dores no corpo
Além dos sinais psicológicos, a depressão ataca, indiretamente, o corpo, que reflete a angústia generalizada em dores ou disfunções como tensão acumulada nos músculos, ombros e pescoço; cólica, diarreia ou azia; pressão no peito ou dores de cabeça. Segundo Elaine Di Sarno, por ter relação indireta com a doença, muitos ignoram os sintomas físicos, quando, na verdade, eles podem ajudar no diagnóstico.
Dificuldade de realizar tarefas cotidianas
A sensação de cabeça vazia e a dificuldade de se concentrar são típicos de uma pessoa com depressão. Muitas vezes, os pensamentos se tornam tão confusos que dificultam a tomada de decisões, mesmo aquelas mais simples e cotidianas. “Como consequência, tudo se torna um esforço imenso, e a pessoa acaba postergando suas tarefas e responsabilidades, deixando-a ainda mais angustiada”.
Baixa autoestima
Outro sinal de alerta da depressão é a sensação de incapacidade, impotência e fragilidade. De acordo com Elaine, é comum a pessoa se sentir menos importante, achar que ninguém se importa com ela e que tudo que acontece de ruim é sua culpa. “A vida começa a ficar chata, cansativa e até sem sentido. Quando chega a este ponto, pode começar a vir os pensamentos suicidas”.
Vale lembrar que a depressão é, sim, uma doença grave, que deve ser tratada antes que se torne crônica. “Portanto, antes de fazer um julgamento sem conhecimento de causa, busque informação e esclareça as dúvidas com um especialista. Perceber estas mudanças no próprio comportamento é um processo importante para identificar rapidamente se você está entrando em depressão”, alerta Elaine Di Sarno.