No ano em que o Brasil sedia a COP30, maior encontro global sobre o clima, pesquisa inédita revela que mais de 80% da população está preocupada ou muito preocupada com os efeitos das mudanças climáticas em bebês e crianças de 0 a 6 anos. Os dados são do estudo “Panorama da Primeira Infância: o impacto da crise climática”, encomendado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal ao Datafolha e corroboram outro estudo, divulgado na semana passada pela Fiocruz, sobre os impactos do clima extremo na infância, em plena semana dedicada ao Dia das Crianças (12 de outubro).

Ao serem questionados sobre como as mudanças climáticas podem impactar as crianças na primeira infância, os entrevistados destacam problemas de saúde como o principal risco: 7 em cada 10 (71%) acreditam que o clima afetará a saúde das crianças, destacando as doenças respiratórias; 39% preveem um maior risco de desastres (como enchentes, secas e queimadas) e 32% indicam a dificuldade em acessar água limpa e comida.

A ciência confirma esse cenário. As crianças na primeira infância são biologicamente mais vulneráveis a eventos climáticos adversos. Dados recentes divulgados pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), em junho desse ano, revelam que crianças nascidas hoje enfrentarão, ao longo da vida, 6,8 vezes mais ondas de calor do que seus avós. Em 2024, a Sociedade Brasileira de Pediatria revelou que doenças ligadas à poluição do ar já provocam cerca de 465 mortes por dia de crianças menores de 5 anos.

O Panorama da Primeira Infância mostra, ainda, que 15% acreditam que as mudanças climáticas estimularão maior consciência ambiental nas novas gerações e apenas 6% confiam que a sociedade encontrará soluções para reduzir os danos.

Ver que a população reconhece o risco que as crianças enfrentam já é uma vitória — significa que entendemos quem está na linha de frente da crise e que há urgência em agir. As crianças na primeira infância são as menos culpadas pela emergência climática e, ainda assim, é o público mais afetados. Essa injustiça exige que cada medida tomada considere a vulnerabilidade de quem depende da proteção dos adultos”, afirma Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

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Políticas públicas de mitigação

Para amenizar esses impactos, políticas climáticas devem considerar, de forma prioritária, a proteção dos direitos de bebês e crianças, com foco na equidade, em medidas preventivas e em respostas rápidas às suas necessidades específicas.
O relatório “A primeira infância no centro do enfrentamento da crise climática”, produzido pelo NCPI, reúne um conjunto de recomendações que incluem:

  • fortalecer a atenção primária à saúde;
  • modernizar o saneamento básico;
  • promover a agroecologia e a agricultura familiar integrada a programas de transferência de renda;
  • criar espaços seguros para acolhimento infantil em situações de deslocamento;
  • reforçar o cuidado com a saúde mental infantil;
  • priorizar reassentamento digno para famílias afetadas;
  • instalar zonas climatizadas em creches e escolas — já que bairros densos podem ser até 5°C mais quentes e muitas escolas não têm áreas verdes;
  • capacitar educadores;
  • promover a escuta e participação das crianças nas ações de prevenção.

A proteção à criança, desde a primeira infância, precisa entrar na agenda climática. Já não podemos mais falar desses assuntos de forma separada. É urgente que as políticas públicas sejam construídas levando em consideração todos os impactos aos quais esse grupo está exposto. Não dá mais para esperar. É responsabilidade de todos garantir que bebês e crianças pequenas tenham prioridade absoluta — em saúde, educação e proteção — diante da crise que já atinge suas vidas”, finaliza Luz.

Metodologia

A pesquisa foi realizada entre os dias 8 e 10 de abril de 2025, com uma amostra nacional de 2.206 pessoas, sendo 822 responsáveis por crianças de 0 a 6 anos, que foram ouvidas em entrevistas presenciais em pontos de fluxo populacional. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para a amostra geral e 3 pontos percentuais para o grupo de responsáveis por crianças.

Em agosto, uma primeira parte da pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida” foi lançado com foco na percepção da sociedade sobre a primeira infância uso de telas e disciplinas punitivas.

 

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