Aos 100 anos, um renascimento. Em 5 de fevereiro, a aposentada carioca Maria Otalia sofreu uma queda em casa. Foi levada pelo Samu ao Hospital Municipal Albert Schweitzer (HMAS), em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, onde descobriu que havia quebrado o fêmur. Recebeu indicação para cirurgia de emergência — um procedimento de alto risco, tendo em vista a idade da paciente.

A cirurgia foi realizada no último dia 8 de fevereiro, sem nenhuma intercorrência. Dona Maria Otalia, que nunca tinha passado por uma operação, se recuperou com a resistência e o carisma que só mesmo quem já viveu um século. Teve alta apenas cinco dias após a cirurgia, tempo suficiente para conquistar o afeto de todos com sua simpatia e ganhar uma alcunha — entre os profissionais de saúde e outros pacientes, ficou carinhosamente conhecida como a “Vovozinha Centenária”.

Fiquei com tanto medo de perder minha mãe que para mim foi um renascimento. Todos nós da família sempre tivemos muito medo de ela se acidentar, por ser muito ativa e agitada. Quando aconteceu foi um choque, mas o tratamento que ela recebeu no hospital me tranquilizou”, conta Carmem Lúcia, sua filha caçula, de 66 anos.

Em casa, Dona Maria Otália já recebe a visita de uma amiga (Foto: Acervo pessoal)

Cirurgia ortopédica é mais complexa em pacientes idosos

Desde sua admissão na unidade, Dona Maria Otalia teve o acompanhamento conjunto da Clínica Médica e da Ortopedia, que realizaram os exames pré-operatórios no tempo recorde exigido pela idade da paciente. Coordenador médico da Ortopedia do HMAS, Glauco Pontes explica a importância e a complexidade da cirurgia de Dona Maria:

Esse tipo de fratura precisa passar por intervenção cirúrgica de urgência para resolução da dor e movimentação da paciente no próprio leito, evitando assim outras complicações clínicas no tempo em que ela precisa ficar acamada no período pós-operatório e para que consiga retornar às atividades que já realizava o quanto antes. É um tipo de procedimento que geralmente tem perda de muito sangue e precisa de reserva, mas Dona Maria Otalia não precisou de hemotransfusão e nem passou por nenhuma intercorrência. Foi uma cirurgia bem tranquila e executada com excelência”.

Atendimento domiciliar pelo SUS

Duas semanas após a queda, Dona Maria Otalia já faz novos planos. De volta para casa, convalesce na companhia de seus filhos, netos, bisnetos e do tataraneto Lucas, de 4 anos.  “Agora estamos cuidando dela e muito felizes e satisfeitos com todo carinho e atendimento que recebeu. Foi uma vitória muito grande”, vibra a filha Carmen Lúcia.

Nesta quinta-feira (20), já em casa após a alta hospitalar, ela recebeu a visita de uma equipe do Programa de Atendimento Domiciliar ao Idoso (PADI), para revisão da cirurgia e acompanhamento.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS-Rio), o PADI oferece assistência em casa prioritariamente a pessoas com 60 anos ou mais de idade, mas sem restrição de faixa etária. O serviço é destinado a pacientes estáveis, restritos ao leito ou ao domicílio, portadores de doenças que necessitem de cuidados intensificados e sequenciais. Atualmente, realiza o acompanhamento de aproximadamente 1.500 usuários.

O programa está presente nos hospitais municipais do Rio de Janeiro, onde é realizada busca ativa de pacientes que atendam aos critérios para desospitalização. Pessoas que necessitam de atendimento domiciliar mas não estão hospitalizadas também podem solicitar os serviços do PADI na unidade de saúde municipal mais próxima de sua residência.

Risco de fraturas em acidentes domésticos

Acidentes domésticos como oque aconteceu com a Dona Maria Otalia são comuns e podem afetar pessoas de qualquer idade. No entanto, durante o período de envelhecimento, as quedas – em especial as que acontecem dentro de casa – ficam cada vez mais regulares e perigosas.

De acordo com informações do DATASUS, no primeiro bimestre de 2024, foram registrados 17.136 atendimentos hospitalares e 9.658 atendimentos ambulatoriais, envolvendo idosos, na faixa etária de 60 a 110 anos. Ainda que sejam números expressivos, eles não são surpreendentes. Em 2023, por exemplo, houve 106.401 atendimentos hospitalares e 45.684 ambulatoriais.

Diversos fatores podem causar o aumento de quedas entre os idosos, como a fraqueza e perda muscular do corpo, efeitos colaterais de alguns remédios, perda de sensibilidade por distúrbios neurológicos, além de doenças ortopédicas ou prejuízo dos sentidos de visão e audição”, explica o presidente da Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico, Marcelo Tadeu Caiero.

O especialista afirma, ainda, que o trauma, sofrido em decorrência do acidente, pode deixar sequelas dolorosas que necessitam de atenção. “A recuperação de idosos não é simples. Uma fratura geralmente precisa de intervenção cirúrgica ou de períodos prolongados de imobilizações, isso porque, os ossos não são tão saudáveis quanto ossos jovens, além da falta de força muscular nessa idade”, alerta o ortopedista.

Fraturas no fêmur, coluna vertebral e bacia podem diminuir a mobilidade de um idoso, além de necessitar de fisioterapia intensa para a recuperação. Por isso, é importante que pessoas da terceira idade se exercitem com frequência, caminhando ou fazendo musculação, para o fortalecimento das estruturas musculares.

No mês de junho, o dia 24 é marcado como Dia Mundial de Prevenção de Quedas em Idosos, data que foi criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e inclusa no Calendário da Saúde do Ministério da Saúde para alertar sobre os riscos desses acidentes nessa faixa etária.

Prevenção exige abordagem multidisciplinar

Para reduzir a incidência de quedas, especialistas recomendam uma abordagem multidisciplinar. O primeiro passo é ser avaliado clinicamente. “Os idosos devem ter um acompanhamento médico, para que sejam identificadas condições de saúde que podem aumentar o risco de quedas, como problemas cardiovasculares, neurológicos e musculoesqueléticos”, diz Caiero.

Exercícios físicos devem ser inseridos no dia a dia, por isso, os médicos costumam recomendar programas específicos para melhorar a força muscular, fortalecer e trazer mais equilíbrio, reduzindo o risco de quedas. Além da atividade física, também recomenda-se uma dieta balanceada para manter a saúde óssea e muscular, prevenindo fraquezas, que podem ocasionar as quedas.

A remoção de obstáculos, instalação de barras de apoio em banheiros e melhorias na iluminação também são úteis para evitar acidentes domésticos. “Os idosos têm que se adaptar às limitações da idade. Eles devem, além de modificar suas casas, evitar roupas que podem enroscar em seus pés e aderir ao uso de sapatos bem ajustados, com solados antiderrapantes. Há diversas recomendações para que familiares auxiliem a pensar uma casa e rotina mais segura para o idoso”, aconselha o ortopedista.

Cuidados simples podem salvar vidas

Cuidados simples podem salvar vidas e melhorar a qualidade de vida dos idosos. Confira algumas medidas importantes:

– Evitar tapetes soltos;

– As escadas e corredores devem ter corrimão dos dois lados;

– Usar sempre sapatos fechados e com solados de borracha;

– Colocar tapete antiderrapante nos banheiros;

– Evitar andar em áreas com piso molhado;

– Evitar encerar a casa;

– Evitar móveis e objetos espalhados pela casa ou em corredores de circulação;

– Deixar uma luz acesa à noite, caso você se levante;

– Esperar que o ônibus pare completamente para você subir ou descer;

– Colocar o telefone em local acessível;

– Utilizar sempre a faixa de pedestres;

– Se necessário, usar bengalas, muletas ou instrumentos de apoio.

Fonte: SMS/Rio e SBTO

 

 

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