Em entrevista recente, a atriz Juliana Didone revela os momentos de horror, vividos no parto de sua primeira filha. A gaúcha descreve o trauma, cinco anos após o nascimento da única filha e expõe a violência obstétrica que deixou marcas emocionais profundas. A bela informou que a equipe forçou um parto natural, mesmo após mais de 36 horas de trabalho intenso para que a filha viesse ao mundo.
Uma violência real que, infelizmente, pode ocorrer com frequência, mas nem todos os casos ocorridos são divulgados. Seja por falta de informação e conhecimento para entender que sofreu uma violência obstétrica, ou mesmo, por medo de represálias. Mas fato é que, situações como essa geram inúmeros transtornos físicos e psicológicos em suas vítimas.
Em média, 30% dos partos traumáticos, trazem a prevalência de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT). Que não se resume apenas às lesões físicas, temos muitos relatos de dores subjetivas, relacionadas à inadequação na assistência médica durante os procedimentos.
A violência obstétrica é um tipo de violência de gênero, praticada durante o cuidado obstétrico profissional, caracterizada pelo desrespeito, abusos e maus-tratos durante a gestação e/ou no momento do parto, de forma psicológica, verbal ou física e, consequentemente, torna um dos momentos mais importantes na vida de uma mulher em um momento traumático e devastador.
Compreende desde ter o direito de um acompanhante na hora do parto negado, falta de esclarecimentos sobre o procedimento, até intervenções invasivas desnecessárias, como também comentários constrangedores, ofensas, humilhações, xingamentos e negligência.
Impactos na saúde mental
Naturalmente, o parto traz grandes alterações físicas, hormonais, psíquicas, a mulher se vê diante de uma transformação dos seus papéis sociais e suas relações. Por consequência, existem possibilidades do aparecimento de um quadro de tristeza ou surgimento de transtornos psiquiátricos que interfere no vínculo afetivo saudável entre a mãe e bebê, que é potencializado no caso de violência obstétrica.
Mas quais são os impactos dessa violência para a saúde mental de uma mulher que vive um momento tão delicado como o nascimento de um filho? As consequências da violência obstétrica vão além dos danos imediatos, o trauma reflete seriamente na saúde da mulher, pois, é vivenciado em um momento decisivo em vários aspectos da vida e na saúde, física e mental, tanto do bebê como da mãe.
O constrangimento é o primeiro sentimento que as mulheres enfrentam após a violência. A angústia é intensificada e podem desenvolver e potencializar uma sensação de inferioridade, medo e insegurança, através da humilhação, reforçando sentimentos de incapacidade, inadequação e impotência relacionada ao corpo. Outro ponto extremamente relevante é que, tanta dor e sofrimento podem desencadear o medo de uma nova gestação por causa da experiência vivida.
Aliás, essa é uma das principais queixas da mulher que sofreu esse tipo de violência. Em geral, a grande maioria aponta indícios de depressão pós-parto. Fato é que, as vivências experimentadas desse momento fazem parte dos sentimentos, pensamentos e das relações das mulheres no processo de construção do significado da maternidade, por isso, é preciso considerar o impacto que o trauma provoca em cada mulher.
Portanto, assim como Juliana Didone revelou seu drama, é preciso que as mulheres tenham consciência das circunstâncias desse trauma e verbalizem, denunciem e busquem ajuda de um profissional de saúde mental para que possam fortalecer o seu emocional a ponto de não ferir e prejudicar o desenvolvimento saudável da maternidade e do cuidado com o recém-nascido.
Os casos alertam para a real necessidade de denunciar e expor as agressões físicas e psicológicas, além de uma urgente demanda do preparo das equipes obstétricas para preservar e promover um trato humanizado neste momento sublime da mulher, minimizando assim, o sofrimento e promovendo a qualidade de vida e respeito, tanto para ela quanto para o recém-nascido, além de punir, severamente os responsáveis por tanta dor e violência.