Sem tosse persistente, falta de ar ou dor no peito, a auditora de contas públicas Renilda Brito Santos, de 53 anos, descobriu um câncer de pulmão por acaso. “Não tive nenhum sintoma. Foi durante um acompanhamento para hipersensibilidade alérgica que os médicos perceberam uma alteração e recomendaram a biópsia”, contou Renilda.

O exame revelou o tumor maligno e a necessidade imediata da cirurgia. O diagnóstico precoce de um adenocarcinoma, no início deste ano, mudou sua rotina e a levou à cirurgia robótica, procedimento minimamente invasivo que garantiu não apenas a remoção do tumor, mas também uma recuperação rápida e menos dolorosa.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de pulmão é o tipo mais letal entre os tumores malignos no Brasil, responsável por cerca de 30 mil mortes por ano. Os sintomas costumam aparecer tardiamente, o que dificulta o tratamento em estágios iniciais.

Por isso, o diagnóstico precoce faz toda a diferença. “Quando identificamos o tumor em fase inicial, as chances de cura podem superar 80%. Por isso, exames de rotina e acompanhamento médico contínuo são fundamentais, especialmente em pessoas com fatores de risco”, destacou o cirurgião torácico Pedro Leite, que atendeu a paciente no Hospital Mater Dei Salvador (HMDS).

Brasil enfrenta desafio crescente no combate ao câncer de pulmão

Prevenção, diagnóstico precoce e cuidado integrado são essenciais na luta contra o câncer de pulmão — o tipo mais letal entre os tumores malignos no Brasil e um dos tipos com maior incidência. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que, entre 2023 e o início de 2025, foram registrados cerca de 704 mil novos casos de câncer por ano no país.

Excluindo os casos de câncer de pele não melanoma, aproximadamente 483 mil diagnósticos foram de outros tipos de câncer — sendo 32 mil de pulmão, ficando atrás apenas dos tumores de mama, próstata e colorretal em número de ocorrências. Em 2023, a doença representou 7,5% dos casos novos em homens e 6,0% em mulheres.

Dados do INCA indicam cerca de 30 mil mortes por câncer de pulmão a cada ano no país. Na Bahia, foram mais de 1.100 óbitos em 2023, com tendência de alta. Por isso, a campanha Agosto Branco — voltada à prevenção e ao diagnóstico precoce do câncer de pulmão — ganha ainda mais importância.

Para o médico pneumologista Matheus Rabahi, do Hospital Mater Dei Goiânia, os números exigem atenção, já que os sintomas iniciais muitas vezes são ignorados: “Tosse que não melhora, sangue no escarro, falta de ar que piora, dor no peito, rouquidão persistente e perda de peso devem levar a uma consulta médica imediata. Qualquer sintoma respiratório que dure mais de três semanas precisa ser investigado”.

Cirurgia robótica reduz riscos e acelera recuperação

A cirurgia robótica realizada por Renilda foi um sucesso. “Graças a Deus e à competência da equipe, passei bem pela cirurgia e sigo agora em tratamento complementar com quimioterapia e medicação oral”, detalhou a paciente.

A técnica utilizada no caso de Renilda envolve o uso de um robô que amplia a visão do cirurgião e permite movimentos mais precisos. Isso reduz riscos, sangramento, tempo de internação e acelera a recuperação.

Na cirurgia torácica robótica, temos uma visão tridimensional e instrumentos que reproduzem com extrema precisão os movimentos das mãos do cirurgião”, explicou Pedro Leite, que é diretor do Núcleo de Cirurgia Torácica do Instituto Brasileiro de Cirurgia Robótica (IBCR).

A cirurgia robótica tem transformado o cenário do tratamento oncológico pulmonar. Técnicas minimamente invasivas reduzem o tempo de internação, as complicações e melhoram a recuperação dos pacientes.

A robótica permite mais precisão, menor sangramento e melhor preservação do tecido pulmonar saudável. Isso é essencial, especialmente quando lidamos com lesões pequenas detectadas precocemente por exames de imagem ou inteligência artificial”, afirma Pedro Leite.

Isso significa menos dor para o paciente, incisões menores e maior preservação da função pulmonar. É um avanço que já está transformando o tratamento do câncer de pulmão no Brasil e, na Bahia, não tem sido diferente”, completou o especialista.

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Tratamento multidisciplinar

O avanço tecnológico vem sendo acompanhado por uma mudança de modelo de cuidado, com ênfase na integração entre especialidades.  Além da cirurgia, o tratamento do câncer de pulmão exige acompanhamento contínuo de especialistas de diferentes áreas. Pneumologistas, oncologistas, cirurgiões torácicos, fisioterapeutas e radiologistas  costumam atuar em conjunto.

Enquanto o pneumologista monitora a evolução, o oncologista define a terapia medicamentosa, o cirurgião torácico atua nos casos operáveis e especialistas como fisioterapeutas e nutricionistas apoiam na recuperação e bem-estar do paciente.

A abordagem integrada é importante. No Hospital Mater Dei, o paciente é acompanhado por uma equipe multidisciplinar, o que garante segurança em todas as etapas, do diagnóstico ao tratamento complementar”, comentou Pedro Leite.

A abordagem colaborativa inclui métodos minimamente invasivos para o diagnóstico de alterações suspeitas, realizados pela equipe de broncoscopia e da radiologia intervencionista do HMDS.  Renilda já realizou duas sessões de quimioterapia e seguirá com medicação oral por três anos. A rotina de cuidados é parte essencial para reduzir o risco de recidiva.

Histórias como a de Renilda evidenciam a importância do acesso a tecnologias de ponta aliadas ao cuidado humano. Para ela, o acolhimento na unidade hospitalar foi tão marcante quanto a cirurgia em si.

Desde os médicos até a equipe de limpeza, todos me trataram com humanidade, carinho e competência. Isso quebrou o estigma que eu tinha de hospital e me fez enxergar o tratamento com mais leveza”, relatou a paciente.

Alerta para casos avançados em pacientes jovens

Tabagismo ainda é responsável por 85% dos casos de câncer de pulmão

No mês de conscientização sobre a doença, especialistas destacam os riscos do tabagismo, inclusive dos cigarros eletrônicos, e o papel da medicina respiratória, da pneumologia e da cirurgia torácica na melhora do prognóstico.

O avanço do uso de cigarros eletrônicos entre jovens e a permanência do cigarro convencional entre adultos têm preocupado médicos, que já identificam quadros graves e nódulos pulmonares em estágios avançados em pacientes cada vez mais jovens.

O cigarro continua sendo o principal responsável, ligado a cerca de 85% dos casos. Fumar, seja cigarro industrializado, de palha, narguilé ou eletrônico, expõe o pulmão a milhares de substâncias tóxicas e cancerígenas”, alerta o cirurgião torácico Pedro Leite.

Segundo ele, o cigarro eletrônico não é inofensivo. Ele expõe os pulmões a substâncias tóxicas que, embora diferentes das do cigarro tradicional, também causam inflamação, lesões e podem acelerar o surgimento de doenças pulmonares graves”, alerta . “Temos visto pacientes jovens com alterações pulmonares que, há dez anos, eram quase exclusivamente adultos com histórico longo de tabagismo”, completa.

Exame que salva vidas: fumantes devem fazer tomografia de tórax de baixa dose

Nem todo nódulo pulmonar é câncer — a maioria não é. No entanto, nessa população de alto risco, a descoberta de um nódulo deve ser cuidadosamente analisada pela equipe multidisciplinar, pois pode representar uma oportunidade para o diagnóstico precoce. Esse público precisa passar por um verdadeiro “check-up do pulmão” anualmente, o que aumenta significativamente as chances de cura quando o tumor é detectado em estágio inicial.

Os especialistas reforçam que pacientes de maior risco têm indicação de fazer rastreamento para câncer de pulmão. Assim como as mulheres realizam mamografia, ultrassom e exames ginecológicos, todo paciente entre 50 e 80 anos que seja tabagista atual ou tenha parado de fumar há menos de 15 anos deve ser avaliado por um pneumologista.

Essa avaliação permite verificar a saúde respiratória de forma geral, identificar doenças como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e realizar uma tomografia de tórax de baixa dose para rastreamento de câncer de pulmão.

Parar de fumar é o primeiro passo

A discussão ganha força com a proximidade do Dia Nacional de Combate ao Fumo, em 29 de agosto, data que integra o calendário oficial do Ministério da Saúde e mobiliza ações em todo o país. Em 2024, o foco das campanhas foi justamente o vape, cujo uso cresceu 600% entre adolescentes de 13 a 17 anos nos últimos cinco anos, segundo dados da Fiocruz.

O especialista do Hospital Mater Dei Goiânia lembra que abandonar o cigarro traz benefícios rápidos: “O risco começa a cair logo após parar de fumar. Em 15 a 20 anos, o risco se aproxima do de nunca fumantes, embora possa permanecer um pouco maior em ex-fumantes de alta carga”. Apoio psicológico e o uso de adesivos ou gomas de nicotina podem ajudar nessa jornada.

Além de ações educativas e apoio à cessação do tabagismo, a prevenção também passa pela realização de exames. “Com a espirometria, conseguimos avaliar precocemente a função pulmonar e acompanhar o impacto de fatores como o cigarro, a poluição e doenças respiratórias crônicas”, explica a coordenadora do serviço de pneumologia do HMDS, Fernanda Aguiar. “É uma ferramenta importante para prevenção e também para o pré-operatório em casos de cirurgia torácica”, acrescenta Pedro Leite.

O médico também alerta que fatores ambientais e ocupacionais podem aumentar o risco, como poluição, radônio, sílica, amianto, fumaça de fogão a lenha sem ventilação e exposição a solventes químicos. “Profissionais da construção, mineração e química precisam de atenção redobrada”, reforça.

O câncer de pulmão geralmente é identificado apenas em estágio avançado. No Brasil, apenas cerca de 15% dos casos são detectados em estágios iniciais potencialmente curáveis. “Um paciente de 62 anos relatou tosse contínua por seis meses, pensando que fosse bronquite. Quando finalmente procurou ajuda, o câncer já estava em fase avançada”, conta Matheus.

A tomografia de baixa dose surge como um exame eficaz e preventivo. Estudos internacionais mostram que o rastreamento anual com tomografia de baixa dose reduz em cerca de 20% as mortes por câncer de pulmão em pessoas de alto risco.

No Brasil, o exame é recomendado para pessoas fumantes com 50 anos ou mais, ou que tenham parado de fumar há até 15 anos. É indicado para quem não apresenta sintomas e poderia receber tratamento curativo se o câncer for detectado. O exame é rápido, indolor e utiliza pouca radiação.

 O câncer de pulmão é, muitas vezes, silencioso nos estágios iniciais. Por isso, é fundamental que pessoas com fatores de risco façam acompanhamento regular. Um nódulo detectado a tempo pode significar cura total com cirurgia minimamente invasiva”, reforça Fernanda Aguiar.

Avanços no tratamento

Quanto aos avanços no tratamento, Rabahi destaca que hoje há exames de imagem de alta precisão, broncoscopia avançada, biópsias guiadas e testes genéticos do tumor para definir a melhor terapia.

Existem imunoterapia e medicamentos personalizados que melhoraram a sobrevida e a qualidade de vida, mesmo nos casos mais avançados. Atendi uma paciente cujo tumor foi detectado precocemente em um rastreamento; ela fez cirurgia e está curada”, explica.

Neste Agosto Branco, a mensagem dos especialistas é direta: prevenir é possível, diagnosticar cedo é essencial e tratar com precisão é cada vez mais viável. A luta contra o câncer de pulmão exige informação, acesso a exames, tecnologia e trabalho em equipe.

O câncer de pulmão pode ser prevenido na maioria dos casos. Parar de fumar, evitar substâncias nocivas e realizar exames de rastreamento em grupos de risco salvam vidas. Cuidar do pulmão é cuidar do futuro!”, conclui.

Câncer de pulmão em números

* 30 mil mortes/ano no Brasil (Inca, 2024).

* 1.100 óbitos registrados na Bahia em 2023.

* É o tipo de câncer mais letal entre os tumores malignos.

* Apenas 15% dos casos são diagnosticados em estágio inicial.

Principais fatores de risco

* Tabagismo (responsável por 85% dos casos).

* Exposição ao amianto, poluição e agentes químicos.

* Histórico familiar da doença.

* Em estudo: aumento da utilização do cigarro eletrônico.

Sinais de alerta:

* Tosse persistente ou com sangue.

* Falta de ar e dor no peito.

* Rouquidão sem causa aparente.

* Perda de peso involuntária.

Tratamentos disponíveis:

* Cirurgia torácica (convencional, videotoracoscopia ou robótica).

*  Quimioterapia

*  Radioterapia

*  Terapias-alvo e imunoterapia em casos específicos.

Com Assessorias

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