O Ministério da Saúde está finalizando novas orientações de assistência aos pacientes com Covid-19. O objetivo é iniciar o tratamento antes do seu agravamento e necessidade de utilização de UTI (Unidades de Terapia Intensiva). Assim, o documento abrangerá o atendimento aos casos leves, sendo descritas as propostas de disponibilidade de medicamentos, equipamentos e estruturas, e profissionais capacitados. As orientações buscam dar suporte aos profissionais de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) e acesso aos usuários mais vulneráveis às melhores práticas que estão sendo aplicadas no Brasil e no mundo”, afirmou o Ministério da Saúde.

Hoje, médicos têm que assumir riscos

Até o momento, vale o protocolo para uso da cloroquina em casos da doença que foi publicado em 1º de abril de 2020 que  autoriza o uso do remédio, mas desde que médico e paciente assumam juntos os riscos de efeitos colaterais, seguindo parecer técnico do Conselho Federal de Medicina. O documento relatava que distúrbios vasculares e retinopatia estavam entre os efeitos colaterais. Também afirmava que era “estreita” a janela terapêutica (margem entre a dose terapêutica e dose tóxica) e que “o seu uso deve, portanto, estar sujeito a regras estritas, e automedicação é contra-indicada.”

Mesmo com ressalvas, o protocolo previa o uso em duas situações: “pacientes hospitalizados com formas graves da Covid-19” e em “casos críticos da Covid-19”. A dosagem indicada mudava em cada condição, mas o tratamento indicado permanecia limitado ao máximo de cinco dias. O protocolo também fazia recomendação de que deveria ser mantido o monitoramento do funcionamento do coração por meio de eletrocardiograma.

Campanha ostensiva liderada por Bolsonaro

Assim como seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, Teich também é contra a a ampliação do protocolo, hoje aplicado somente em casos graves da doença. O agora ex-ministro reforçou que o medicamento tem efeitos colaterais, especialmente para o coração, e chegou a dizer que o uso de cloroquina em casos leves poderia levar ao aumento de hospitalizações por causa de problemas cardíacos.

Desde o início da pandemia – que chegou a chamar de “gripezinha” -,  Bolsonaro tem feito campanha explícita pela adoção em larga escala do medicamento, mesmo contrariando todas as evidências científicas. Mas até os Estados Unidos já retiraram a recomendação do uso de altas doses de cloroquina para o tratamento da doença fora de hospitais.

Em nota divulgada em seu site no dia 20 de março, quando os supostos benefícios da cloroquina começaram a ser aventados no Brasil, a Bayer, produtora do medicamento, informou que “lideranças da empresa estão em contato direto com as autoridades nacionais para definirem juntas a melhor maneira de a empresa apoiar o país no controle do Covid-19.” Em sua campanha ostensiva a favor da cloroquina, estaria o presidente agindo como “garoto propaganda” da multinacional?

Possível substituta de Teich defende uso

Cotada para assumir o Ministério da Saúde, a oncologista e imunologista Nise Yamaguchi, integrante do gabinete federal de combate à crise do novo coronavírus no país,  já defendeu o uso da hidroxicloroquina, da azitromicina e do zinco do segundo ao quinto dia do início dos sintomas e em pessoas que têm risco moderado para agravamento. “Isso faria com que se anulasse a quantidade de vírus e traria a possibilidade para o indivíduo melhorar”, disse à CNN no dia 8.

Segundo ela, o isolamento social é insuficiente para conter o avanço da Covid-19. “No caso do Brasil, o vírus já entrou dentro das casas. Então, o mero isolamento social tem sido absolutamente insuficiente. Temos que ter um tratamento eficiente”, afirmou. Por isso, acredita, é preciso ter um tratamento precoce, porque isso reduziria a evolução dos pacientes para quadros mais graves, “diminuindo a necessidade de internações nas UTIs [Unidades de Terapia Intensiva] e mortes”.

Médica dos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, em São Paulo, Nise citou também o estudo que ocorreu em Manaus e que foi em parte suspenso depois de uma análise verificar que houve maior número de mortes entre pacientes de Covid-19 submetidos a doses altas da cloroquina do que entre os tratados com uma dose menor do composto. Segundo ela, o estudo gerou uma ideia de que o medicamento acarreta um efeito nocivo sobre o coração.  “Isso não é verdade. Em doses habituais, em pacientes que estejam sob controle, esse medicamento pode ser administrado com segurança”, afirmou.

Mais sobre a cloroquina

A polêmica cloroquina e os perigos da automedicação
Cloroquina pode ser a nova talidomida, diz especialista
Cloroquina para tratar covid-19 pode levar a morte súbita
Bolsonaro aposta em panaceia para vencer pandemia

Estudos recentes não mostram eficácia contra o coronavírus

No início de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a contabilizar que eram feitos estudos em 74 países para tentar entender como funcionava a hidroxicloroquina contra o Sars CoV-2. Resultados mais robustos começaram a sair nas últimas duas semanas.

Três estudos tiveram destaque e mostraram que não houve comprovação de eficácia da substância no tratamento da Covid-19. O primeiro deles foi publicado na revista britânica “The New England Journal of Medicine” e investigou a efetividade do tratamento em pacientes hospitalizados em um hospital de Nova York. De acordo com os autores, não foram encontradas evidências de que a droga tenha reduzido o risco de entubação ou de morte. Participaram 1.446 pessoas.

Outra pesquisa, também feita em Nova York, mostrou mais evidências de que a hidroxicloroquina pode não ser eficaz contra a Covid-19. O estudo avaliou o uso da substância em 25 hospitais da região metropolitana da cidade. Desta vez, foram analisados os dados de 1.438 pacientes com a doença – e os que receberam o medicamento tiveram uma taxa de mortalidade maior.

Por último, divulgado nesta quinta-feira (14) na revista “The BMJ”, cientistas mostraram que não ficou comprovada a eficácia no tratamento da Covid-19 também em pacientes leves a moderados. O total de participantes (150) foi dividido em dois grupos: 75 receberam a hidroxicloroquina, 75 não receberam. A eficiência contra o Sars Cov-2 foi a mesma, sendo que 10% dos pacientes que receberam o remédio apresentaram diarreia e dois desenvolveram efeitos colaterais graves.

Com Agências, G1 e CNN
Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *