Presentes em volta da árvore, decoração especial com muitas luzes, a representação do presépio, a mesa farta e a família e os amigos reunidos para comemorar. Dezembro é uma época que torna presente muitos sentimentos em todos nós, pois, segundo a psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, Elaine Coelho, o Natal está tão enraizado culturalmente em nossa vida, que é quase impossível ficar indiferente.

O último mês do ano gera expectativas nas pessoas, as quais refletem sobre as suas experiências, acertos e erros. É o momento de fazer um balanço e tirar os planos do papel, pensar sobre o que não deu certo e mudar as rotas que não levaram ao objetivo. Tudo conspira para que as mudanças sejam positivas porque espera-se que nos próximos 365 dias tudo se renove”, opina a psicóloga.

Outro aspecto que explica a forte ligação que a nossa cultura tem com o Natal é o fato de a data simbolizar a renovação e a vida nova, recordando sentimentos positivos de que tudo vai melhorar no ano que se inicia em breve. O ser humano, no âmbito psicológico, sente-se reconfortado com a ideia de um futuro promissor e próspero.

A psicóloga lembra também que o Natal pode ter significados diferentes a partir das concepções e vivências de cada um, além da fase da vida em que o indivíduo está. O Natal, com toda a magia do Papai Noel, tem um simbolismo para a criança, que não será o mesmo para quem está entrando na vida adulta e precisa preparar a ceia com as próprias mãos, por exemplo; ou ainda para o pai, mãe ou avós que estão inserindo a tradição natalina na família para um filho ou neto. O importante é que cada um reflita e assimile esse período, recriando novos significados.

Há quem não goste do Natal. E está tudo bem!

Todo mundo deve se curvar às tradições natalinas? A resposta é: não! Assim como “o Grinch”, personagem conhecido na literatura e no cinema, que odeia o Natal e faz de tudo para que ninguém celebre a data, há aquelas pessoas que passam bem longe das comemorações.

Para a docente da Anhanguera, isso pode estar relacionado com alguma situação dolorosa vivida no passado, como a falta de um ente querido que movimentava essa época do ano e era responsável por reunir a família; por não ter recebido presentes enquanto criança, por conta das condições financeiras; ou ainda devido algum evento marcante, como o fim de um relacionamento ou a perda de um emprego que tenha acontecido em dezembro.

E como o espírito natalino envolve boas vibrações, quem não gosta do Natal não deve ser julgado, mas entendido. “Respeitar quem não tem o mesmo apreço pela data é importante para que todos se sintam acolhidos e possam se abrir para ressignificar o Natal e o que ele representa de forma individual”, finaliza a coordenadora.

Por que o Natal intensifica tristeza, nostalgia e sensação de inadequação?

Como lembranças idealizadas e comparações podem transformar o momento em sofrimento emocional .

O fim do ano costuma ser associado à alegria, encontros e celebrações. Mas, para muitas pessoas, o Natal também desperta sentimentos de nostalgia, tristeza, frustração e solidão. Segundo o psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina, Marcelo Santos Solidade, isso ocorre porque o imaginário natalino toca diretamente nas memórias mais profundas e afetivas, reativando vivências e comparações que nem sempre são fáceis de lidar.

O especialista explica que o Natal, culturalmente apresentado como símbolo de união e felicidade familiar, dialoga com lembranças da infância, da sensação de segurança e da idealização da “família perfeita”.

As tradições, músicas e imagens natalinas funcionam como tentativas de recuperar um afeto antigo. O problema surge quando comparamos esse ideal com a família real que temos hoje”, afirma. Essa diferença entre fantasia e realidade é um dos principais fatores que despertam incômodo, saudade e a nostalgia tão presente nessa época do ano.

Quando a nostalgia vira sofrimento

Solidade destaca que sentir nostalgia é natural e até saudável, pois reconecta o indivíduo à sua história. No entanto, quando o passado se transforma em refúgio absoluto ou em um ideal inalcançável, a tristeza pode assumir contornos mais profundos, aproximando-se da melancolia.

A nostalgia saudável reconhece a perda sem prender o sujeito no passado. Já a melancolia interrompe o fluxo da vida, transforma o passado em um lugar fixo e idealizado, e pode gerar sentimentos de vazio e desvalor”, explica o psicólogo.

Lutos, ausências e a necessidade de ressignificar o Natal

Para quem perdeu pessoas queridas ou está longe da família, tentar repetir rituais antigos como se nada tivesse mudado pode intensificar a dor. O professor reforça que insistir em padrões afetivos do passado tende a gerar sofrimento adicional.

É preciso aceitar a ausência e reinventar novas formas de vivenciar o Natal. Ressignificar é essencial para não ficar preso à lembrança dolorosa daquilo que não está mais ali”, afirma. Criar novos rituais, presenças e  experiências é um caminho possível para um fim de ano mais leve.

A pressão das redes sociais durante as festas

Com o fim do ano, as redes sociais se enchem de imagens que reforçam a ideia de perfeição — mesas fartas, casas iluminadas e famílias sorrindo. Esse ambiente visual, segundo Solidade, intensifica a comparação e o sentimento de inadequação.

O que vemos nas redes sociais deixa de ser apenas imagem e passa a ser percebido como verdade. No Natal, isso reforça antigas fantasias e ativa sentimentos de fracasso diante da própria vida real”, explica. Para ele, esse “jogo de espelhos” entre o ideal exibido e a realidade vivida é um dos principais gatilhos emocionais do período.

Construindo um Natal emocionalmente possível

Não há regras rígidas para viver um fim de ano mais saudável, mas o psicólogo ressalta a importância de abandonar modelos prontos de felicidade. A saída está em criar novas formas de viver o Natal e não em tentar encaixar-se em uma imagem perfeita. “O sofrimento nasce da tentativa de caber em um ideal. Quando deixamos de perseguir a fantasia da família margarina e aceitamos o real, abrimos espaço para um Natal mais verdadeiro, menos imposto e mais nosso”, conclui Solidade

Com assessorias

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *