“O manicômio era um lugar terrível. Era proibido falar, eles vigiavam. Felizmente, esse lugar de atendimento em saúde mental tem mudado. Agora, a gente entra em sintonia novamente com o sentido daquilo que nós poderíamos ter perdido, que é a nossa unidade, nosso sentimento, nosso afeto.” A fala de Milton Freire, ex-interno em um hospital psiquiátrico e atualmente usuário de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), reflete a importância da luta antimanicomial, que na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) é representada pela Frente Parlamentar em Defesa da Reforma Psiquiátrica.
Para incentivar a atuação política voltada para o fortalecimento da saúde mental humanizada, o grupo lançou nesta sexta-feira (10/08) a Plataforma Eleitoral Antimanicomial. O documento reúne propostas como a ampliação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), a melhoria de espaços como os CAPS e as Unidades de Acolhimento (UA) e a garantia ao passe livre no transporte público para usuários desses serviços.
A redação do documento contou com a participação popular, através de uma plataforma na internet. A primeira parte do texto introduz os pontos centrais da plataforma, como a defesa de políticas públicas para a saúde mental baseadas nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Já a segunda detalha temas importantes para pessoas recém-envolvidas na luta antimanicomial, como a substituição dos hospitais psiquiátricos e a mobilização contra o preconceito sofrido por usuários desses serviços.
Segundo o professor Eduardo Vasconcelos, cocriador da plataforma, o documento se dirige a todos os candidatos ao Legislativo e ao Executivo que desejarem atuar pela humanização do tratamento psiquiátrico. “O objetivo é divulgar a nossa luta e, mais tarde, servir como um guia de ação para esses candidatos que forem efetivamente eleitos”, explica.
A importância do tratamento humanizado é reforçada por Iracema Polidoro, presidente da Associação de Saúde Mental Juliano Moreira (Apacojum). Durante vinte anos, ela conviveu com as dificuldades enfrentadas por sua tia, diagnosticada com esquizofrenia e internada na antiga Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. “Eu conheci o hospício em 1978 e aquilo era um campo de concentração, não um hospital. O paciente ficava jogado. O carinho e o respeito à pessoa fazem toda a diferença no acompanhamento”, relata.
Para o presidente da Frente, deputado Flávio Serafini (PSol), o lançamento da plataforma representa um avanço na articulação política em prol da qualidade do tratamento da saúde mental no Brasil. “Vimos a necessidade de dar formato a pontos importantes para que a gente consolide esse modelo de saúde mental que respeite os direitos humanos. Foi um processo coletivo que conseguiu ser um ponto de encontro entre diferentes movimentos”, celebra.
Fonte: Alerj