O Brasil reduziu as taxas de mortalidade infantil em mais de 60% em três décadas. Em 2023, o país alcançou o menor índice de mortalidade infantil e fetal por causas evitáveis em quase três décadas, conforme dados preliminares do Ministério da Saúde divulgados em 2024. Foram registradas 20,2 mil mortes, número que representa o mais baixo desde 1996, quando houve 53,1 mil óbitos – uma diferença de 62% a menos.
O Brasil registrou, em 2024, o menor número de óbitos fetais e infantis. Foram 35.450 óbitos, uma redução significativa em comparação aos 37.952 de 2023 e aos 38.540 de 2022. Segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e compilados pela ONA (Organização Nacional de Acreditação), essa queda de 8,02%, de 2022 a 2024, na mortalidade infantil mostra que o País tem avançado na proteção das crianças.
A redução dos óbitos infantis (de 0 a 4 anos) é resultado de esforços coordenados do sistema de saúde, incluindo campanhas de vacinação, acesso ao pré-natal, incentivo ao aleitamento materno e acompanhamento pediátrico. Essas ações comprovadamente promovem a saúde, previnem complicações e salvam vidas.
As principais causas de óbitos em crianças são síndrome da morte súbita na infância, fatores maternos (características da mãe como idade e estilo de vida) e perinatais (eventos que possam ocorrer durante a gravidez, parto e pós-parto), asfixia, infecções, desnutrição, anemias nutricionais, doenças imunizáveis, malformações congênitas, e causas externas — muitas vezes podem ser evitadas com uma assistência adequada, fortalecimento da atenção básica e cuidados hospitalares de qualidade.
A maioria dessas mortes foi causada por hipertensão (como pré-eclâmpsia e eclâmpsia), hemorragias, infecções e complicações no parto, que poderiam ser evitadas caso tivessem atendimento rápido e cuidados adequados desde o pré-natal. As mortes consideradas evitáveis são aquelas que poderiam ter sido prevenidas com medidas como vacinação, acompanhamento adequado durante a gestação e o parto, além de cuidados eficazes ao recém-nascido e diagnósticos precisos.
A falta de assistência qualificada durante a gestação e o parto também acabam afetando diretamente a sobrevivência e a saúde dos recém-nascidos. Muitas crianças perdem a vida ou enfrentam complicações graves, porque suas mães não tiveram acesso a um acompanhamento ou não receberam atendimento assertivo em situações de risco.
No mundo, dados recentes da OMS revelam que ocorram cerca de 287 mil mortes maternas por ano, a maioria concentrada em países de baixa e média renda. Infelizmente, a mortalidade materna enfrenta desafios e não está no caminho certo para atingir a meta 3.1 do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O foco é alcançar uma taxa global de mortalidade materna abaixo de 70 por 100.00 nascidos vivos até 2030.
Também em 2024, o país registrou 1.187 óbitos maternos ocorridos durante a gestação, no parto ou até 42 dias após o nascimento do bebê. No ano passado, a região Sudeste registrou 394 óbitos maternos, dos quais 92 ocorreram no Rio de Janeiro.
Este cenário é um indicador da fragilidade dos sistemas de saúde e da necessidade urgente de investimentos em cuidados, com protocolos e procedimentos implementados e acessíveis para proporcionar mais segurança às vidas das mães e bebês.
Segundo a gerente de Operações da ONA, Gilvane Lolato, a maioria das mortes maternas são evitáveis. “O cuidado começa no primeiro atendimento da gestação até o pós-parto e cada etapa exige atenção qualificada e protocolos bem definidos. É importante esclarecer que a saúde da mulher e do recém-nascido estão profundamente conectadas e ambos necessitam de acompanhamento de qualidade, preciso e assertivo, principalmente, se a mãe apresentar qualquer anormalidade ou situação de risco durante sua gestação. Quando a instituição adota padrões claros e seguros, o cuidado deixa de depender do improviso e passa a ser confiável, eficaz, humano e salva-vidas”.
Campanha nacional com foco em segurança de recém-nascidos e crianças
Este ano, a OMS traz em sua campanha para o Dia Mundial da Segurança do Paciente, celebrado no dia 17 de setembro, os cuidados seguros para os recém-nascidos e crianças, reforçando a importância de prevenir riscos evitáveis desde o início da gestação. Em comemoração à data e seguindo o tema proposto pela OMS, a Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sibraso) lança uma campanha nacional com foco na segurança de recém-nascidos e crianças.
A campanha pretende conscientizar profissionais de saúde, pacientes e familiares sobre os riscos evitáveis no atendimento pediátrico, promovendo a prevenção de eventos adversos, como erros de medicação e infecções relacionadas à assistência à saúde. Serão disponibilizados webinars, lives e podcasts no site oficial da SOBRASP, abordando boas práticas e estratégias de segurança voltadas ao cuidado à saúde do público infantil.
A SOBRASP reconhece que a segurança do paciente para o recém-nascido e a criança deve ser abordada de forma integral, desde o pré-natal até a adolescência, respeitando as particularidades de cada fase do desenvolvimento humano”, destaca Priscila Amaral, membro do núcleo de pediatria da entidade.
Ainda segundo a especialista, a campanha reforça o compromisso da SOBRASP em difundir conhecimento técnico, atuar junto a órgãos governamentais e colaborar com outras sociedades científicas para promover melhorias contínuas no cuidado em saúde e na segurança dos pacientes.
Campanha Mundial da OMS
A Campanha Mundial da OMS está estruturada em pilares essenciais para a segurança dos pacientes pediátricos. Entre os principais eixos de atuação estão:
- nascimento seguro e cuidados pós-natais,
 - administração segura de medicamentos,
 - segurança no diagnóstico,
 - imunização segura,
 - prevenção de infecções e
 - reconhecimento precoce da deterioração clínica.
 
Esses pilares visam fortalecer práticas assistenciais e reduzir riscos que afetam diretamente a saúde de recém-nascidos e crianças em diferentes contextos de cuidado.
Nascimento seguro: Um dos pilares da campanha é o nascimento seguro, que envolve uma assistência pré-natal de qualidade e com amplo acesso às gestantes. Durante esse período, são realizadas ações fundamentais de promoção da saúde, rastreamento de doenças, além de orientações sobre autocuidado, nutrição e vacinação, reforçadas nas consultas de rotina.
A especialista Priscila Amaral, do núcleo de pediatria da SOBRASP, destaca ainda a importância do período pós-natal, que vai do nascimento até as seis semanas de vida do bebê. “É um momento crítico não apenas para os recém-nascidos, mas também para as mulheres, pais, cuidadores e familiares, exigindo atenção especial dos serviços de saúde”, ressalta.
Erros de medicação ainda são frequentes em pediatria e neonatologia
A administração segura de medicamentos é uma das maiores preocupações quando se trata de segurança do paciente pediátrico. Entre os erros mais comuns estão: doses incorretas, omissão de medicamentos e uso inadequado da via de administração, como falhas no uso oral, injetável ou respiratório. A grafia ilegível de prescrições também é apontada como um fator que contribui para essas falhas.
Um estudo realizado, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre fevereiro e junho de 2024, identificou 511 eventos adversos, sendo 68,1% relacionados a erros na administração de medicamentos. Desses, 65,4% envolviam falhas no intervalo de administração, com maior incidência no uso de antimicrobianos, sedativos e analgésicos.
Para reduzir esses riscos, a SOBRASP reforça a adoção de medidas como: sistemas de prescrição eletrônica, quando disponível; aumento do número de enfermeiros por paciente; prática da dupla checagem; identificação correta do paciente e capacitação contínua das equipes.
Precisamos refletir sobre a responsabilidade inerente à prescrição, preparo e administração de medicamentos. É essencial criar um ambiente adequado que promova a prática da ‘medicação segura’”, afirma Priscila Amaral.
Principais eventos adversos evitáveis durante internação e/ou UTI
Entre os eventos adversos mais frequentes e evitáveis em recém-nascidos e crianças internados, especialmente em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), destacam-se: uso inadequado de dispositivos de ventilação nasal implicando na necessidade de intubação traqueal; problemas relacionados ao uso do clamp umbilical — dispositivo usado para prender o cordão umbilical e interromper o fluxo sanguíneo da placenta para o bebê logo após o parto; complicações com conectores de cateteres venosos; dobras na cânula traqueal; e lesões de pele causadas pelo uso de clorexidina alcoólica em neonatos prematuros extremos.
Segurança diagnóstica: Erros de diagnóstico podem ocorrer em até 1 a cada 14 pacientes hospitalizados (cerca de 7%), segundo um estudo realizado em um centro nos Estados Unidos, publicado no periódico BMJ Quality & Safety. A pesquisa aponta que, em países de alta renda, mais da metade dos profissionais de saúde relatam cometer erros de diagnóstico pelo menos uma ou duas vezes por mês. Já em países de baixa e média renda, os desafios são ainda maiores, devido ao acesso limitado a exames diagnósticos, à escassez de profissionais especializados e à fragilidade dos sistemas de registro clínico.
A OMS incentiva a adoção de estratégias para reduzir erros diagnósticos por meio de diversas intervenções. Entre as principais recomendações estão a garantia de que os profissionais de saúde tenham acesso ao histórico completo do paciente, a realização de exames clínicos detalhados, a ampliação do acesso a testes diagnósticos, além da implementação de métodos para monitorar e aprender com os erros cometidos. A OMS também destaca a importância da adoção de soluções tecnológicas como caminho eficaz para minimizar os equívocos no diagnóstico”, afirma a entidade.
Imunização segura – O Brasil ainda enfrenta dificuldades para vacinar adequadamente as crianças. Segundo o Anuário Vacina BR 2023, nenhum estado brasileiro atingiu a meta de cobertura para as quatro principais vacinas aplicadas até o primeiro ano de vida: pentavalente, poliomielite, pneumocócica e tríplice viral.
No caso de tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, apenas quatro estados alcançaram a cobertura recomendada de 95%. A redução na cobertura vacinal é preocupante e vem ocorrendo de forma contínua: em 2013, dez estados atingiram a meta para pelo menos três das quatro vacinas.
Como evitar transmissões de infecções
A higienização das mãos é a forma mais simples e eficaz de prevenir a transmissão de infecções em ambientes hospitalares, afirma Priscila Amaral, do núcleo de pediatria da SOBRASP. A limpeza pode ser feita com água e sabão ou por fricção com álcool 70%, e é recomendada para profissionais de saúde, visitantes e pacientes. Para aumentar a eficácia da higienização, é importante que adornos como anéis, pulseiras e relógios sejam retirados, além da manutenção das unhas curtas e limpas.
No caso de recém-nascidos e crianças maiores internados em Unidades de Terapia Intensiva, que utilizam dispositivos invasivos como cateteres vasculares centrais, ventilação mecânica e cateteres urinários, é necessário que sejam seguidos protocolos rigorosos para inserção e manutenção desses equipamentos para prevenir infecções e reduzir complicações.
Deterioração clínica – A sepse, definida como uma disfunção orgânica ameaçadora à vida secundária à resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção, representa uma condição grave e potencialmente fatal.
A resposta do organismo inclui alterações na temperatura, pressão arterial, frequência cardíaca, contagem de glóbulos brancos e ritmo respiratório. Sem tratamento adequado, a sepse pode levar à parada cardíaca e à falência múltipla dos órgãos, resultando em óbito”, finaliza Priscila.
Fonte: Sobrasp
								
			
                    

                    


