O câncer de colo de útero é uma das principais causas de mortalidade entre mulheres no Brasil e no mundo. Por aqui, ocupa a terceira posição entre as neoplasias mais incidentes na população feminina, atrás dos tumores de mama e colorretal (sem contar o câncer de pele não melanoma).

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 17.010 novos casos no país a cada ano, entre 2023 e 2024. Somente no Rio de Janeiro, mais de 1,5 mil mulheres serão diagnosticadas em 2025

A doença é causada por uma infecção persistente, provocada pelo Papilomavírus Humano (HPV),  que é altamente comum e transmitido, na maioria dos casos, por via sexual.  De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),  80% das mulheres serão infectadas pelo HPV em algum momento da vida.

Embora a maioria das contaminações seja eliminada espontaneamente pelo sistema imunológico, algumas cepas desse vírus, especialmente os tipos 16 e 18 , estão diretamente associadas ao desenvolvimento de lesões precursora do câncer de colo de útero.

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A melhor maneira de prevenir o HPV ainda é a vacinação

Apesar da gravidade, o tipo mais comum de CCU  é altamente prevenível e tratável quando identificado em estágios iniciais. A chave está na informação, no acesso a exames regulares e na vacinação contra o HPV.

Disponível no Brasil desde 2014 pelo Sistema Único de Saúde (SUS), esse imunizante é gratuito para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Recentemente, a faixa etária foi ampliada para pessoas de até 45 anos em situações específicas, como pessoas com HIV.

Segundo Fernanda Nunes, ginecologista da clínica Atma Soma, existem dois tipos de imunização contra o HPV: a quadrivalente, que pode ter uma eficácia de até 70% em relação ao câncer de colo de útero, e a nonavalente, mais nova vacina do HPV, lançada em 2023, que pode ter uma eficácia de até 90%.

A melhor maneira de prevenção do contágio pelo HPV ainda é a vacinação. Desde 2014, a imunização é oferecida nas unidades públicas de saúde, e as doses são indicadas a meninas e meninos de 9 a 14 anos e a homens e mulheres imunossuprimidos até 45 anos.

Apesar do acesso facilitado, houve queda da cobertura vacinal contra o HPV nos últimos anos, segundo o Ministério da Saúde. Em 2019, 87,08% das meninas brasileiras entre 9 e 14 anos de idade receberam a primeira dose. Em 2022, a cobertura caiu para 75,81%. Entre os meninos, houve redução de 61,55%, em 2019, para 52,16%, em 2022.

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40% das mulheres não realizam o exame Papanicolau com regularidade

O exame Papanicolau, também conhecido como citologia oncótica, é outro pilar fundamental na prevenção e no diagnóstico precoce dessa neoplasia, sendo recomendado para mulheres entre 25 e 64 anos. Ele detecta alterações nas células do colo do útero antes que elas se tornem cancerígenas. Vale reforçar que mesmo as mulheres vacinadas devem fazer o exame preventivo periodicamente.

A recomendação é que mulheres sexualmente ativas realizem esse acompanhamento a cada três anos, após dois exames anuais consecutivos normais e sem alterações”, afirma a especialista. “A pesquisa do HPV também pode ser associada ao Papa – com ambos os resultados normais, o intervalo entre os exames permanece em três anos”.

No entanto, a adesão também enfrenta desafios. Dados do Inca mostram que cerca de 40% das mulheres brasileiras não realizam o Papanicolau regularmente, muitas vezes por falta de acesso, informação ou por medo do procedimento.  Fernanda Nunes aponta que, no SUS, algumas pacientes podem não ter a opção de escolher o profissional que realizará a coleta do Papanicolau. “

Muitas preferem que o exame seja feito por uma médica do sexo feminino, e, na ausência dessa possibilidade, acabam evitando o procedimento, o que pode se tornar uma barreira para a realização do exame”.

Para a ginecologista, esse acompanhamento é fundamental para o diagnóstico precoce e para a prevenção do câncer de colo do útero, contribuindo para salvar vidas e promover a saúde feminina. “Além disso, levar informação, ampliar o acesso à vacina contra o HPV e fortalecer campanhas de conscientização, como Janeiro Verde, são passos igualmente essenciais para reduzir a incidência e a mortalidade por essa doença”, finaliza.

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Você sabia que nem todas as mulheres que têm contato com esse vírus vão desenvolver tumores? E que essa é uma neoplasia possível de ser prevenida, inclusive através de vacina?  Para esclarecer algumas das principais dúvidas relacionadas à doença, a oncologista Andreia Melo, do Rio de Janeiro, responde a cinco frases frequentes em relação à doença, explicando o que é mito e o que é verdade.

Câncer de colo de útero não tem prevenção.

Mito. Essa é uma das neoplasias que podem ser prevenidas. A maior parte dos tumores epiteliais do colo do útero tem relação com a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV), e existe uma vacinação contra o vírus, um cuidado primário e muito eficaz. Existe ainda a possibilidade de fazer rastreio e diagnóstico precoce dessa doença,  por meio da  colpocitologia oncótica, que é o exame periódico, também conhecido como papanicolau.

E, mais recentemente, o governo tem discutido a incorporação do teste molecular para detecção do HPV. Em caso positivo e, dependendo do subtipo verificado, a mulher será encaminhada para um exame chamado colposcopia, por meio do qual é possível verificar determinados tipos de áreas suspeitas.

O material coletado passa por biópsia e, conforme o diagnóstico, o tratamento pode ser  relativamente simples, com procedimentos que trazem pouca morbidade e alta chance de resolução. Mas, se for constatado câncer, ela será encaminhada ao tratamento adequado.

Qualquer mulher sexualmente ativa pode ter HPV.

Verdade. Independentemente da orientação sexual. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 80% da população sexualmente ativa em algum momento já teve contato com o HPV. E, mesmo após uma infecção, a imunização é necessária, pois pode ajudar mulheres e homens contra outros subtipos do vírus. A vacina é capaz de reduzir em até 80% as chances de retorno da infecção, segundo uma revisão da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Mulheres sexualmente ativas com até 45 anos podem se beneficiar do imunizante contra o HPV, já que muitas têm resultado negativo para o vírus ou são positivas para apenas um subtipo.

Toda mulher com HPV terá câncer do colo do útero.

Mito. Mais de 80% da população sexualmente ativa já teve contato com o vírus, e a maior parte dessas infecções pelo HPV são autolimitadas, ou seja, são resolvidas sem manifestações importantes. No entanto, em alguns casos a infecção pode se tornar persistente e levar ao desenvolvimento de neoplasias. Existem vários subtipos do vírus, mais de 100, incluindo os classificados como de baixo risco para o desenvolvimento de tumores. Esses possuem mais relação com os condilomas, também conhecidos como verrugas na região genital. Os de alto risco, principalmente os subtipos 16 e 18, são os que têm maior relação com o surgimento de neoplasias relacionadas ao HPV. E não é apenas câncer de colo de útero, há outros, como os de vagina, vulva, canal anal, orofaringe e pênis.

Preservativos impedem a transmissão do HPV.

Parcialmente verdade. O uso de preservativo é muito importante, previne a maior parte das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), mas não impede totalmente a infecção pelo HPV, pois o vírus pode estar presente em áreas não protegidas pela camisinha, como a vulva e a região perineal pubiana.

Quem toma vacina contra o HPV não precisa usar camisinha.

Mito. Quem toma vacina precisa, sim, usar camisinha, já que ela protege contra a maioria das ISTs. Além disso, o imunizante não abrange todos os subtipos do vírus do HPV existentes, mas oferece proteção aos principais associados ao câncer de colo de útero. Por isso, mesmo vacinado, é necessário manter o uso dos preservativos nas relações sexuais, realizar as consultas periódicas e os exames regulares, como o Papanicolau

Com Assessorias

 

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