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Pará: um caso importado (paciente vinda das Ilhas Fiji), confirmado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro;
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Mato Grosso do Sul: três casos que seguem em investigação para confirmar a origem da transmissão, processados pelo Instituto Adolfo Lutz (SP).
Apesar dos registros, o Ministério da Saúde ressalta que “o subclado K corresponde a uma variação genética da Influenza A (H3N2) e não se trata de um vírus novo”. Segundo a pasta, na América do Sul, ainda não há uma tendência de crescimento explosivo como a observada nos Estados Unidos, Europa e Ásia. (Veja mais na nota oficial).
A notícia levanta dúvidas: estamos diante de um novo surto? A vacina atual funciona? Afinal, precisamos nos preocupar? Abaixo, detalhamos como essa descoberta aconteceu, quem foi a paciente e por que, apesar do alerta, o cenário atual ainda pede atenção, mas não pânico.
Até onde vai o risco?
Linhagem do influenza A (H3N2) é identificada pela primeira vez no país
O primeiro caso no Brasil foi identificado em Belém (PA) no dia 12 de dezembro. Confira os detalhes:
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Origem: A paciente é uma mulher adulta, estrangeira, vinda das Ilhas Fiji. A detecção ocorreu graças ao monitoramento de viajantes, uma estratégia fundamental para evitar que novos vírus se espalhem sem controle pelo país.
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Transmissão: Até o momento, os órgãos de saúde confirmam que não há transmissão local (entre pessoas que não viajaram) da variante K no Brasil. Ou seja, o vírus foi identificado no ponto de entrada, sem evidências de que tenha passado para outras pessoas na comunidade.
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Cenário atual: O aumento de casos de gripe registrado recentemente em alguns estados brasileiros ainda é causado pelo clado J.2.3, e não pela nova variante K.
- Sintomas: A gripe é causada pelo vírus influenza, sendo o tipo A o mais frequentemente associado a surtos e a quadros de maior gravidade. Os sintomas do subclado K são os já conhecidos da doença, como febre, dor no corpo, tosse e cansaço, com atenção para sinais de agravamento, como falta de ar e piora rápida do quadro.
- Vacinação: A vacinação ofertada anualmente em todo o país é a principal forma de evitar casos graves e hospitalizações. Também são recomendadas medidas como o uso de máscara por pessoas com sintomas, higienização das mãos e ventilação adequada dos ambientes.
Há motivo para alarme?
Até o momento não há evidências de que essa variante esteja relacionada a maior gravidade dos casos. O que se observa é uma circulação mais intensa e antecipada em relação ao padrão esperado no hemisfério norte, o que resulta, consequentemente, em um aumento do número de internações”, diz o Ministério da Saúde.
De acordo com os especialistas da Fiocruz, a detecção da variante K é uma prova de que o sistema de vigilância brasileiro é robusto e sensível, conseguindo identificar novos patógenos assim que eles entram no país.
A atividade da influenza na Europa iniciou mais cedo, e a variante K representou quase metade dos casos entre maio e novembro de 2025. Porém, não houve mudança significativa na gravidade clínica, internações ou óbitos”, destaca a equipe da Fiocruz.
O rastro da descoberta: do Pará à Fiocruz no Rio
A identificação da “Gripe K” não é imediata e exige tecnologia de ponta. Entenda o caminho percorrido pela amostra:
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Coleta: O material foi colhido em Belém no dia 26 de novembro.
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Análise inicial: O Laboratório Central do Estado do Pará (Lacen-PA) identificou que se tratava de um vírus Influenza A (H3N2).
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Sequenciamento genético: Para saber a “assinatura” exata do vírus, a amostra foi enviada ao Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro. Lá, o Laboratório de Vírus Respiratórios — referência internacional para a OMS — realizou o sequenciamento genético, confirmando que se tratava do subclado K (também chamado de J.2.4.1).
A diretora técnica do Lacen-PA, Valnete Andrade, destaca a importância desse fluxo e diz que a a detecção precoce demonstra a força da nossa rede de controle:
A vigilância de patógenos que podem se propagar a partir de viajantes é uma ferramenta estratégica para a prevenção em saúde. Esse monitoramento contribui para a detecção oportuna de vírus emergentes e para a adoção de medidas que evitem a disseminação no país”, explica Valnete.
Nova variante X casos atuais no Brasil
É importante não confundir o aumento de gripes que ocorre em alguns estados brasileiros com a chegada da variante K. A virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório do IOC/Fiocruz, explica que os surtos atuais têm outra origem:
Estamos observando um pico secundário de influenza H3 neste final de ano, mas o clado associado a esse aumento não é o K. O que tem circulado aqui é o clado J.2.3”, afirma a especialista.
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Existe risco de surto agora?
Apesar da confirmação, os especialistas afirmam que não há motivo para pânico imediato. Até o momento, o caso é considerado isolado (importado) e não há evidências de transmissão entre brasileiros.
A virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), esclarece que o aumento de casos de gripe registrado recentemente em alguns estados brasileiros não é causado pela variante K:
Estamos observando um pico secundário de influenza H3 neste final de ano, mas o clado associado a esse aumento não é o K. O que tem circulado aqui é o clado J.2.3”, afirma a pesquisadora.
A vacina atual protege contra a variante K?
A boa notícia é que a ciência já se antecipou. A vacina contra a gripe é atualizada periodicamente para acompanhar as mutações do vírus e a composição recomendada pela OMS para 2026 já foi atualizada e inclui cepas preparadas para combater o subclado K.
Mesmo para quem ainda não tomou a dose da última campanha, a recomendação é clara: vacine-se. A imunização reduz drasticamente o risco de complicações, hospitalizações e mortes, mesmo quando o vírus sofre pequenas mutações.
A pesquisadora Paola Resende, da Fiocruz, destaca que a gravidade da doença costuma estar ligada a fatores de risco e à falta de imunização:
Conseguimos identificar precocemente a introdução do subclado K. Do ponto de vista da vigilância, esse achado mostra a sensibilidade do nosso sistema. É fundamental se vacinar. Mesmo para quem não se vacinou durante a última campanha, vale ir até o posto e solicitar a imunização”, orienta Paola.
Influenza A faz disparar casos de síndrome respiratória grave na Região Norte
A chegada da nova variante do vírus da gripe ao Brasil — a Gripe K — coincide com um momento crítico para a saúde pública na Região Norte. Segundo o mais recente Boletim InfoGripe, divulgado pela Fiocruz nesta quinta-feira (18/12), os estados do Acre, Amazonas, Pará e Tocantins registram uma alta preocupante nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), impulsionada principalmente pela Influenza A.
Capitais como Rio Branco, Manaus, Belém, Palmas e Macapá já operam em níveis de risco alto devido ao aumento das hospitalizações, como mostra a última edição de 2025 do Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgada nesta quinta-feira (18/12). A análise é referente à Semana Epidemiológica (SE) 50, período de 7 a 13 de dezembro.
O que é a SRAG e por que ela preocupa?
A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) ocorre quando uma infecção respiratória (como a gripe ou Covid-19) se agrava a ponto de causar dificuldade para respirar, queda na oxigenação e necessidade de internação.
No cenário atual, a Influenza A é a grande vilã entre adultos e idosos no Norte. Já no Amazonas, o alerta se estende aos bebês: o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) começou a atingir fortemente crianças de até dois anos.
Vacinação na região Norte é prioridade
Diferente de outras regiões, a campanha de vacinação contra a gripe está começando agora no Norte, justamente para frear esse avanço. A pesquisadora Tatiana Portella, do Boletim InfoGripe, reforça a urgência do imunizante:
É fundamental que as pessoas dos grupos de risco dessa região se vacinem o quanto antes, para ficarem protegidas contra casos graves e óbitos causados pelo vírus”, alerta a especialista da Fiocruz.
Retrato dos vírus no Brasil em 2025
O relatório da Fiocruz funciona como um “termômetro” da saúde nacional. Em 2025, já foram notificados mais de 224 mil casos de SRAG. Veja quais vírus estão circulando mais:
Principais causas de hospitalização:
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Rinovírus (42,4%): Principal causa entre crianças e adolescentes até 14 anos.
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Influenza A (21,5%): Responsável pela maior parte das internações de adultos e idosos no Norte e Nordeste.
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Covid-19 (11,6%): Embora em níveis baixos, ainda é uma das causas frequentes de internação em idosos.
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VSR (5%): Afeta principalmente bebês.
Principais causas de óbitos:
Infelizmente, a gripe e a Covid-19 continuam sendo fatais para os grupos mais vulneráveis. Entre as mortes com resultado laboratorial positivo este ano:
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Influenza A: 48,2% das mortes.
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Covid-19: 24,4% das mortes.
Resumo por região: onde o vírus está crescendo?
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Norte: Crescimento consolidado em AC, AM, PA e TO.
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Nordeste: Início de aumento na Bahia, Maranhão e Piauí.
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Sul: Alta em Santa Catarina.
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Sudeste: Retomada de crescimento no Espírito Santo, enquanto outros estados mostram leve queda.
Como se proteger
As recomendações de prevenção seguem as diretrizes clássicas de saúde pública:
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Vacinação: Manter o esquema vacinal em dia é a forma mais eficaz de evitar casos graves e internações.
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Lave as mãos com frequência ou use álcool em gel.
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Use máscara se apresentar sintomas gripais como tosse, coriza ou febre.
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Evite locais fechados e sem ventilação se estiver doente.
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Busque atendimento médico caso os sintomas persistam ou haja febre alta.
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Atenção aos Sinais: Em caso de febre persistente, procure atendimento médico imediatamente.
Com informações da Agência Brasil, Fiocruz e Ministério da Saúde





