Quem nunca sofreu com dor nas costas? Seja em uma situação pontual ou de forma mais frequente, esta é, sem dúvidas, um dos tipos mais comuns de dores físicas. Oito em cada 10 pessoas no mundo vão sofrer, pelo menos uma vez na vida, com algum tipo de desconforto ou dor na  região lombar durante a sua vida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população mundial já sofreu ou terá problema de coluna em algum momento da vida.

Neste Dia Mundial da Coluna Vertebral (16/10), especialista apontam que os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam a estimativa da OMS. De acordo com médicos, a queixa de lombalgia ou de dor cervical é a segunda mais comum nos consultórios especializados e fica atrás apenas da dor de cabeça.

Especialmente durante a pandemia de Covid-19, a expressão “dor nas costas” bateu recorde de buscas no Google. Esse aumento na procura por alguma referência em tratamento ou dicas de cuidados foi atribuído às consequências das medidas preventivas, home office e isolamento social em tempos de pandemia.

Com relação ao aspecto econômico e social, a doença crônica de coluna é a principal causa de anos perdidos de trabalho por incapacidade física, com grandes perdas de qualidade de vida, com impacto social relevante. Trata-se da terceira causa de aposentadoria por invalidez. Segundo o Ministério do Trabalho o problema já é o segundo maior motivo de afastamento dos empregos e tem atingido pessoas de todas as idades, inclusive os mais jovens.

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) analisaram os aspectos epidemiológicos da doença crônica de coluna no Brasil e encontraram uma prevalência de 18,5% da população, sendo maior em mulheres, com idade média de início dos sintomas aos 35 anos e estabilização por volta dos 50 anos, porém com aumento da severidade das limitações físicas nas idades mais avançadas.

É realmente relevante o volume de casos e destaca que problemas na coluna podem ter um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas, como aponta o ortopedista Maurício Martelletto, membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e há mais de 15 anos na área de cirurgia da coluna vertebral, sendo membro efetivo da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC).

“A coluna vertebral é uma estrutura fundamental do corpo humano, responsável por oferecer suporte e proteção ao sistema nervoso central. Além disso, a coluna vertebral desempenha um papel crucial na postura, equilíbrio e mobilidade”, destaca o especialista.

Fisioterapeutas explicam a fisiologia da dor nas costas

Os cuidados e atenção à coluna vertebral nunca foram foco da população, e que esse segmento do corpo humano sempre necessitou de atenção e acompanhamento profissional, como alertam as fisioterapeutas Fernanda M. Cercal Eduardo e Thayse Zerger Gonçalves Dias, respectivamente, coordenadora e tutora do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Internacional Uninter.

Elas explicam que a coluna vertebral é constituída por 33 vértebras divididas em quatro segmentos vertebrais que formam as curvaturas fisiológicas que permitem toda funcionalidade estrutural para as atividades de vida diária do indivíduo. Alguns desses segmentos, apesar de serem intercalados por cartilagens resistentes, permitem os movimentos de deslizamento intersegmentares que somados tornam a mobilidade ampla em todos os sentidos do tronco, dessa forma podemos dobrar a coluna para frente, para trás, para os dois lados e também executar movimentos de torção.

“A região mais baixa da coluna, a qual chamamos coluna lombar, por possuir essa ampla mobilidade intersegmentar é uma das regiões mais afetadas em termos de lesão e a dor nessa região é considerado o principal problema de saúde funcional nos países ocidentais industrializados”, explicam as fisioterapeutas.

A dor lombar, também conhecida como lombalgia, localizada na parte mais baixa da coluna, entre as últimas costelas e acima dos glúteos, pode comprometer o bem-estar e o rendimento das atividades de trabalhadores que são acometidos pela patologia. As dores nas costas podem ser agudas, que é a mais comum e pode ocorrer após um exercício físico intenso, má postura ou carregamento de peso e a dor crônica pode persistir por mais de 12 semanas e sua origem é inflamação de algum nervo da coluna.

Envelhecimento, estresse e sedentarismo são as principais causas

Os relatos de dores nas costas aumentaram ainda mais durante a pandemia devido à adoção do trabalho remoto – que, em muitos casos, negligenciou medidas ergonômicas (as pessoas passaram a trabalhar em seus sofás, mesa de jantar, ou camas, por exemplo) – à redução das atividades físicas, ao agravamento de doenças emocionais decorrentes do isolamento social ou até ao abandono de algum tratamento ortopédico em andamento por receio de ir ao consultório.

Dores na coluna podem surgir por diversas razões, entre elas, má postura, lesões, esforço excessivo, menopausa, envelhecimento, obesidade além das condições médicas, como a hérnia de disco, escoliose, artrose, osteoporose, fibromialgia, dor lombar crônica, traumas. Segundo o médico, o incômodo que acomete tantas pessoas pode ser tratado com repouso, fisioterapia chegando até a necessidade de uma cirurgia.

“O envelhecimento da população e o ritmo de vida estressante da atualidade, associados à má postura durante o dia, somados à falta de exercícios físicos regulares ou inadequados, o uso excessivo de celulares, tabagismo e a falta de alimentação regrada, representam os principais responsáveis pelo aumento da prevalência de doenças da coluna vertebral “, observa Paulo Ramos, especialista em cirurgia de coluna dos hospitais Samaritano Barra e Vitória, da rede Americas no Rio de Janeiro.

O especialista reforça que a forma incorreta de elevação postural, tanto no ambiente de trabalho quanto nos momentos de folga pode gerar dor muscular incialmente, e evoluir com uma sobrecarrega das articulações vertebrais e lesões nos discos.

 “Após a pandemia, as pessoas passaram a trabalhar mais de casa e seguem em situações sem a devida ergonomia adequada, persistindo em se acomodar de modo, muitas vezes, improvisado, o que aumentou bastante a procura por atendimento médico, por conta de dores na coluna”, observa.

Riscos da obesidade para a coluna vertebral

Na medicina, há debates intensos sobre os impactos causados pela obesidade no corpo humano. Você com certeza já ouviu falar sobre as relações entre ela e o desenvolvimento da diabetes tipo 2, aumento de triglicérides, do colesterol, da pressão alta e o surgimento de doenças cardiovasculares. A obesidade grave, por exemplo, também é facilmente associada às complicações articulares em pés, joelhos e quadril, regiões que sustentam o peso de nosso corpo. Entretanto, pouco se fala, atualmente, sobre os possíveis danos para a coluna vertebral.

Marcelo Valadares, médico neurocirurgião da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Hospital Albert Einstein, alerta: “Estudos das últimas décadas, realizados principalmente em países com altos índices de obesidade, como é o caso dos Estados Unidos, mostraram que o excesso de peso pode afetar diretamente o alinhamento da coluna“.

“O abdômen volumoso, em especial, desloca o eixo do corpo para frente. Nossa coluna é desenhada com curvaturas que permitem a distribuição equilibrada da massa corporal em relação ao esqueleto e à gravidade. Em uma pessoa muito obesa, esse equilíbrio se perde, e os mecanismos compensatórios – que mantêm uma pessoa de pé – vêm do trabalho dos músculos que vão tracionar (e isso é inconsciente e/ou automático) a coluna para tentar mantê-la na posição correta, causando maior fadiga muscular. A fadiga muscular leva à dor”, afirma Valadares.

O neurocirurgião explica que os discos intervertebrais – pequenos “colchões” entre as vértebras – sofrem com pressão enquanto a pessoa está de pé, principalmente, e se desgastam. “A medida em que se desgasta, um disco pode se romper e levar à formação de hérnias, famosas causadoras de ciáticas com quadros dolorosos intensos, e que podem levar, até mesmo, à necessidade de uma cirurgia”, complementa o especialista.

O médico lembra que, se tratadas, as doenças da coluna terão efeito muito importante na qualidade de vida. “Existe um movimento de aceitação do corpo que muitas vezes se confunde com aceitação da obesidade como normal. Talvez esse seja um campo a ser explorado entre o que é normal e o que é saudável, o que é pressão estética e o que é importante para sua saúde”, finaliza.

O sobrepeso também pode ter ligação com a dor lombar. Porém, segundo o Dr. Marcelo Valadares, de uma forma menos pronunciada. “Certamente não existem tantas alterações físicas, em especial do alinhamento corporal, nem as complicações causadas por outras doenças clínicas. A correlação com a falta de preparo físico, que é mais comum neste grupo, está ligada à dor lombar do que o próprio peso”, diz.

O tratamento indicado para pessoas obesas com lesões de coluna é muito parecido com o de pessoas não obesas. O importante é saber se existem outras doenças associadas ou limitações clínicas, segundo o Dr. Valadares, que demandem cuidados extras no processo de reabilitação. “Talvez o paciente tenha dificuldade e o processo de recuperação leve mais tempo que o normal. Se o paciente precisar de cirurgia, existe um risco maior”, pontua.

Sinais de alerta para uma avaliação médica  

O especialista recomenda que precisam estar atentos todos aqueles que apresentarem dor crônica na coluna, ou seja, com mais de três meses de sintomas contínuos, e, principalmente, quando tiverem alterações de sensibilidade ou força nos braços ou pernas, perda de peso ou febre. Esses são sinais de alerta que indicam a necessidade de avaliação médica.

“Na grande maioria dos casos a reeducação física, com a implementação de reforço muscular direcionado e controle do peso corporal, eventualmente associados a medicamentos, alivia os sintomas e possibilita retorno ao trabalho”, observa.

Segundo o ortopedista Maurício Martelletto, é extremamente importante estarmos atentos sobre a necessidade de prevenir o desgaste e o envelhecimento da coluna. “Avaliações preventivas e ações terapêuticas são atitudes que devem fazer parte da rotina das pessoas, independentemente da idade delas. Afinal, a coluna é igual a pele, se não cuidarmos dela, ela acaba envelhecendo antes do tempo”, finaliza o ortopedista.

Saiba mais sobre o problema

Cesar Augusto Calonego, fisioterapeuta e professor do curso de Fisioterapia da Faculdade Santa Marcelina, esclarece algumas informações importantes sobre o tema:

Quais são os principais sintomas?

Quando a dor é localizada apenas na região da coluna lombar ela é chamada de lombalgia. Quando esta dor é proveniente da região lombar e se irradia para o membro inferior chamamos de lombociatalgia.

Os sintomas relacionados vão desde dores localizadas ou irradiadas, formigamento nos membros inferiores (pernas), no caso de lombociatalgias, até a perda de força muscular, perda da mobilidade do tronco e em casos mais graves podem levar a perda de movimento, dependendo do tipo de lesão.

Existe uma idade que a dor lombar começa a aparecer? 

A dor lombar pode acometer pessoas em diversas faixas etárias, inclusive crianças, porém é mais comum em pessoas com idade adulta (20 a 55 anos). Em indivíduos idosos, quase metade da população já relatou dores lombares. Como trata-se de uma sintomatologia, temos várias doenças que podem levar as dores nesta região.

É comum os problemas relacionados a própria coluna, como as hérnias de disco, alterações posturais, artrose de coluna serem um dos principais fatores de desencadeamento da lombalgia, porém várias doenças podem gerar dores na região, tais como tumores, câncer acometendo útero, próstata, fraturas, cálculos renais, causas ginecológicas, doenças reumáticas, entre outros. Por isso, é importante saber a causa da dor e torna-se fundamental um bom diagnóstico.

Dor lombar tem cura?

Como já dito, a cura da dor lombar está relacionada ao tratamento da causa e dependendo da situação é possível falar em cura. A persistência dessas dores por mais de três meses é considerada a cronificação do problema e acomete de 6 a 8 % dos pacientes. Estes pacientes crônicos respondem por 85% dos custos com as dores lombares.

Como é feito o diagnóstico para identificar a patologia?

Com relação a diagnostico, o mesmo será feito por meio de uma consulta onde deve ser realizado um bom exame físico do paciente e por meio de exames de imagem para verificar as possíveis alterações. O comum de exames são RX, tomografia e ressonância magnética, porém dependendo da causa do problema o médico pode solicitar exames laboratoriais como exame de sangue, urina, entre outros.

 

Com Assessorias

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