Médica e grávida de gêmeos, Carolina Aparecida Melo de Costa, de 37 anos, recebeu o diagnóstico de diabetes gestacional na 28ª semana e, como ela diz, receber o apoio do marido, dos pais e o direcionamento preciso da equipe médica fizeram toda a diferença.
Levei um susto quando recebi o resultado positivo após um exame de glicose glicada. Porém, o apoio da família e dos especialistas que estavam me acompanhando, foi fundamental para passar por essa fase”.
A Dra Carolina entra para uma estatística que preocupa especialistas em saúde materna nos últimos anos: o aumento nos casos de diabetes gestacional. Essa condição ocorre quando o corpo da mulher grávida não consegue produzir insulina suficiente para lidar com as necessidades adicionais impostas pela gravidez.
Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) apontam que cerca de 18% das mulheres grávidas são afetadas pela diabetes gestacional. Globalmente, de acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF), a doença afeta aproximadamente 15% das gestantes, resultando em cerca de 18 milhões de nascimentos por ano.
Esta condição pode levar a complicações tanto para a mãe quanto para o bebê, incluindo o risco de parto prematuro, macrossomia – quando o bebê nasce com peso excessivo – e uma maior probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro.
De acordo com Márcio Sakita, ginecologista e obstetra do Hospital Vitória Anália Franco. o diagnóstico de diabetes gestacional está mais preciso e frequente, graças ao aprimoramento das técnicas de triagem e monitoramento pré-natal.
As mulheres são submetidas ao teste de tolerância à glicose, aumentando a detecção precoce da condição. Mesmo assim, a maioria dos casos de diabetes gestacional é assintomática. fato que nos preocupa. Entretanto, os exames são realizados com mais frequência”, alerta.
O alerta é fundamental especialmente nesta semana dedicada ao Dia Nacional da Diabetes, data de conscientização fixada em 26 de junho pelo Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Obesidade, sedentarismo e alimentos industrializados são fatores de risco
Rosane Kupfer, chefe do Serviço de Diabetes do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (Iede), referência na rede estadual para o tratamento da doença no Rio de Janeiro, esclarece que o número de diagnósticos de diabetes vem crescendo por uma série de fatores, dentre eles, o sedentarismo, a obesidade e a ingestão de alimentos industrializados.
Existe uma armadilha no mundo hoje sobre o estilo de vida em que os alimentos de maior acesso são de baixa qualidade. Em geral, os produtos mais baratos são ricos em carboidratos, mais acessíveis do que as proteínas e os vegetais, comprometendo uma dieta mais balanceada”, explicou.
A médica Carolina também ficou preocupada e redobrou os cuidados alimentares, já que não houve a necessidade de introduzir medicamentos. “Eu fiz um controle rigoroso de alimentação, estava sempre com a tabela de valores dos alimentos e precisava medir a glicose. Foram momentos difíceis, mas pensava que era uma fase e que iria passar”, disse.
Para as mulheres que passam por essa situação, Carolina recomenda seguir as orientações médicas e pensar no futuro do bebê. “Além dos cuidados médicos, na hora que sentir vontade de comer algo que poderá ser prejudicial, pense na saúde e no futuro do seu filho que, com certeza, você conseguirá passar por essa fase também”, finaliza.
Gravidez tardia também é alerta
A alimentação inadequada, aliada à falta de atividade física, é um determinante crítico, segundo Marcio Sakita, Ele também alerta para os riscos da gravidez tardia.
Esses hábitos aliados à idade – tanto em relação às mulheres que engravidam muito jovens como àquelas que ficam grávidas mais tarde – influenciam diretamente na resistência à insulina, um fator chave no desenvolvimento do diabetes gestacional”, complementa.
O tratamento eficaz do diabetes gestacional inclui mudanças na dieta, controle do peso, atividade física regular e, em alguns casos, a necessidade do uso de medicamentos. Portanto, especialistas enfatizam a importância da prevenção e do manejo adequado do diabetes gestacional.
É recomendado que mulheres mantenham um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada e prática regular de exercícios físicos. Durante a gravidez, é essencial seguir as orientações médicas, realizar os exames pré-natais de forma adequada e monitorar rigorosamente os níveis de glicose no sangue”, destaca.
Hospitais no Pará e no Rio esclarecem e tratam diabetes gestacional
Um desafio para os profissionais de saúde que atuam na área é esclarecer as pessoas sobre os riscos da diabetes gestacional, ainda pouco conhecidos pela maioria das gestantes. Um trabalho educativo é feito em unidades de saúde que atendem gestantes. É o caso do Hospital Regional do Sudeste do Pará “Dr. Geraldo Veloso” (HRSP).
Marília Souza, moradora de Marabá (PA), está grávida de oito semanas e foi encaminhada para exame laboratorial no hospital. Lá, assistiu a palestras sobre prevenção do diabetes, com ênfase no Diabetes Mellitus gestacional. A iniciativa informou pacientes e a sociedade sobre a importância do diagnóstico precoce e do controle adequado da doença.
Compreendi melhor os riscos da Diabetes gestacional e a necessidade de manter um controle rigoroso da minha saúde durante a gravidez. Agora, estou mais bem-informada e preparada para seguir as orientações médicas, cuidando adequadamente de mim e do meu bebê”, disse Marília.
Já Roberto Silva, encaminhado para consulta ortopédica no hospital e participou da palestra, ressaltou a importância das orientações recebidas. “Minha esposa está grávida de 12 semanas. Tudo que aprendi hoje sobre os riscos da Diabetes gestacional será fundamental para orientá-la da melhor forma possível”, explicou.
A ação realizada nesta sexta-feira (28), em alusão ao Dia Nacional do Diabetes (26/6), foi organizada pelo Setor de Humanização da unidade do Governo do Pará, administrada pelo Instituto de Saúde Social e Ambiental da Amazônia (ISSAA), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
Nutricionista alerta sobre atenção aos sintomas
Nutricionista especializada em Diabetes, Aline Assunção abordou nas palestras a importância da prevenção do diabetes mellitus gestacional, uma condição que surge durante a gravidez devido à resistência à insulina, hormônio crucial na regulação dos níveis de açúcar no sangue.
Os sintomas da diabetes gestacional incluem aumento da sede, frequência urinária elevada, fadiga excessiva e visão turva. No entanto, muitas mulheres podem não apresentar sintomas claros, tornando o diagnóstico precoce ainda mais essencial”, destacou Aline Assunção.
A profissional também ressaltou que a diabetes gestacional pode levar a complicações sérias, como pré-eclâmpsia, parto prematuro e riscos à saúde do bebê, como hipoglicemia e excesso de peso ao nascer.
As mulheres devem realizar o pré-natal corretamente, incluindo os exames de rotina para monitorar os níveis de glicose no sangue. Além disso, adotar uma dieta equilibrada, rica em fibras e pobre em açúcares simples, junto com a prática regular de atividade física, pode reduzir significativamente o risco de desenvolver diabetes gestacional”, enfatizou a especialista.
O Regional de Marabá mantém o Projeto “Saúde em Foco”, que visa disseminar informações sobre saúde e bem-estar à sociedade. As palestras e orientações foram oferecidas nas recepções da instituição, alcançando usuários que compareceram para consultas médicas, exames laboratoriais e de imagens.
Os serviços na unidade são 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A unidade é referência em procedimentos de média e alta complexidade, e conta com 135 leitos, sendo 97 de internação clínica, e 38 Unidades de Terapia Intensiva (UTI) – Adulto, Pediátrica e Neonatal.
Em dois anos, mais de 20 mil atendimentos pelo SUS no Rio
Diabetes gestacional e outros tipos mais raros doença são tratados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio de Janeiro. O Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (Iede) já realizou mais de 20 mil atendimentos ambulatoriais foram feitos nos últimos dois anos, sendo 60% para diabetes tipo 2 e 40% para o tipo 1.
Na unidade da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) também existe uma Unidade do Pé Diabético (UPD), que realiza cerca de 450 atendimentos por mês, entre consultas individuais, orientação de exercícios e massoterapia.
O Instituto recebe pacientes de todo o estado, com consultas marcadas pela Central Estadual de Regulação (CER). A porta de entrada para solicitação de tratamento dos pacientes é a atenção primária, ou seja, postos de saúde e clínicas da família dos municípios.
A unidade conta com uma equipe multidisciplinar que inclui endocrinologistas, oftalmologistas, nefrologistas, ortopedistas, dermatologistas, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros e educadores físicos.
O Iede também realiza exames de hemoglobina glicada, dosagem de hormônio para a tireoide, perfil lipídico (colesterol e triglicerídeo), hepatograma (exame do fígado), albumina urinária (avalia a função do rim) e hemograma.
Saiba mais sobre a diabetes gestacional
O diabetes é uma doença crônica na qual o corpo não produz insulina ou não consegue empregar adequadamente a insulina que produz. A insulina é um hormônio que controla a quantidade de glicose no sangue. O corpo precisa de insulina para utilizar a glicose, que obtemos por meio dos alimentos, como fonte de energia.
Quando a pessoa tem diabetes, no entanto, o organismo não fabrica insulina e não consegue utilizar a glicose adequadamente. O nível de glicose no sangue fica alto, considerado hiperglicemia. Se esse quadro permanecer por longos períodos, poderá haver danos em órgãos, vasos sanguíneos e nervos.
Existem dois tipos principais de diabetes. O diabetes tipo 1 é quando o sistema imunológico do corpo ataca e destrói as células que produzem insulina. Já o diabetes tipo 2 é quando o corpo não produz insulina suficiente ou as células do corpo não reagem à insulina. O tipo 2 é mais comum do que o tipo 1 e é associado ao sobrepeso, obesidade e sedentarismo.
Os principais sintomas do tipo 1 são vontade de urinar diversas vezes; fome frequente; sede constante; perda de peso; fraqueza; fadiga; nervosismo; mudanças de humor; náusea; vômito.
Os principais sintomas do tipo 2, por sua vez, são infecções frequentes; alteração visual (visão embaçada); dificuldade na cicatrização de feridas; formigamento nos pés; furúnculos.
O Diabetes tipo 2 pode não dar sintomas nos primeiros anos e por isso é importante fazer sua prevenção com um estilo de vida saudável e programar exames anuais, principalmente, após os 40 anos de idade ou se tiver fatores de risco, até mesmo antes.
Com Assessorias