A crise do metanol, que já registra 24 casos confirmados de intoxicação e pelo menos cinco mortes, deflagrou um amplo cerco à produção, distribuição e venda de bebidas alcóolicas falsificadas ou adulteradas em todo o Brasil. A indústria de bebidas já sente os efeitos, com registro de forte queda nas vendas nas últimas semanas, especialmente de produtos destilados, onde a presença do metanol é mais associada.
Quem acaba de entrar nesse combate é o Conselho Federal de Química (CFQ), que iniciou uma ação integrada de fiscalização nacional voltada às indústrias de bebidas alcoólicas em todo o país. A iniciativa, conduzida pela Comissão de Fiscalização do CFQ (CFISC), tem como objetivo verificar a regularidade do exercício profissional e a atuação dos responsáveis técnicos da área da Química nos processos produtivos e de controle de qualidade dessas bebidas.
Mais do que uma ação de fiscalização, trata-se de uma iniciativa preventiva, que busca também orientar e conscientizar a sociedade sobre os riscos do consumo de produtos adulterados. É um chamado à responsabilidade, à segurança e ao protagonismo dos profissionais da Química diante de desafios que impactam diretamente a saúde e o bem-estar da população”, afirmou o presidente do CFQ, José de Ribamar Oliveira Filho.
A entidade enviou um comunicado aos presidentes do em articulação com os Conselhos Regionais de Química (CRQs), solicitando o apoio e a atuação conjunta das equipes regionais de fiscalização.  O documento destaca a importância da ação preventiva, voltada à verificação da regularidade do exercício profissional e da atuação dos responsáveis técnicos da área da Química nas etapas de produção e controle de qualidade das bebidas alcoólicas.
De acordo com a entidade, a força-tarefa está em conformidade com a Lei nº 2.800/1956, o Decreto nº 85.877/1981 e as Resoluções Normativas do CFQ, que determinam a obrigatoriedade de registro e responsabilidade técnica para empresas que desenvolvem atividades químicas.
A presença do profissional da Química é essencial para garantir que cada etapa de produção e controle siga rigorosos padrões técnicos e legais. Essa força-tarefa é uma demonstração de como a fiscalização profissional protege a sociedade e assegura a qualidade dos produtos consumidos pelos brasileiros”, afirmou o presidente do CFQ.

Responsabilidade técnica e à proteção da vida humana

Durante o 25º Congresso Brasileiro de Engenharia Química (COBEQ 2025), o primeiro-secretário do CFQ, Jonas Comin, lembrou que engenheiros e químicos são fundamentais na identificação de contaminantes em bebidas e alimentos, atuando em cooperação com órgãos de vigilância e fiscalização.
Ao abordar os recentes casos de intoxicação causados pelo consumo de bebidas adulteradas com metanol, ele destacou que o episódio exige atenção e responsabilidade coletiva, especialmente no que diz respeito à atuação preventiva do Sistema CFQ/CRQs e reforçou que a ação em curso tem caráter educativo e fiscalizatório.
Comin relacionou a operação determinada pelo CFQ à importância da segurança de processos, destacando a responsabilidade técnica e à proteção da vida humana. Segundo ele, a segurança operacional é um compromisso técnico e ético dos profissionais da Química.
Com essa atuação coordenada, o Sistema CFQ/CRQs reafirma seu papel como guardião da boa prática química, promovendo a proteção da sociedade, a valorização das empresas idôneas e a segurança dos consumidores em todo o território nacional”.

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Doses de metanol acima de 4ml já podem causar cegueira

O Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo confirmou nesta quarta-feira (8) que o metanol encontrado nas garrafas contaminadas examinadas foi adicionado, pois sua concentração é anormal e não configura produto de destilação natural. 
De acordo com o Conselho Regional de Química da 8ª Região/Sergipe (CRQ VIII), doses a partir de 4ml de metanol já podem causar danos como a cegueira, e doses acima de 20ml tem risco de causar morte.

O processo de destilação tende a gerar tipos diferentes de álcoois, sendo o metanol um dos leves, que tendem a ficar na parte de cima do volume, seja ele um tonel artesanal, de madeira, ou um industrial de centenas de litros. Essa “cabeça”, como é chamada, tem de ser separada, um processo que os químicos e engenheiros químicos acompanham e coordenam.

A separação é feita por meio da temperatura, pois o metanol tem ponto de ebulição de 64,7 graus Celsius (ºC), ao passo que o do etanol é 78,4°C. A concentração abaixo de 0,25ml para cada 100ml de volume é aceita pelos órgãos técnicos pois não representa risco para o consumidor.

O Conselho explicou que em destilarias profissionais, devidamente operadas por profissionais credenciados pelos CRQs [Conselhos Regionais de Química), esta fração inicial é descartada, uma vez que concentra os álcoois mais leves e tóxicos.

No entanto, em produções artesanais ou clandestinas, esse controle muitas vezes não é feito adequadamente, resultando em maior concentração de metanol na bebida final”, explicou em nota técnica.

Da Agência Brasil e CFQ

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