Mattheus Furtado Mertins, de 11 anos, descobriu que tinha diabetes tipo 1 aos 10 anos. Na época, imaginava que era a única criança no mundo com a doença. “Eu me senti sozinho, triste e sempre me perguntava por que aconteceu isso comigo. Os meus pais sempre foram muito amigos, atenciosos e participativos, e me deram força. Eles estudavam sobre a diabetes, os tratamentos”, relata.
Atualmente, quando vê alguma entrevista, filmes ou séries que falam sobre a doença ou que têm algum personagem, principalmente do tipo 1, se sente representado e feliz. “Porque é uma forma da gente se sentir incluído e levar informação para aquelas pessoas que não sabem o que é a doença ou não convivem com alguém com diabetes tipo 1”, explica.
Mattheus decidiu criar um perfil na rede social, onde relata sobre sua experiência e educação sobre diabetes. “Estou muito feliz com minhas novas amizades e em ajudar outras crianças/adolescentes e famílias. Essa foi a forma que encontrei de ajudar aos recém diagnosticados a perceberem que ter diabetes não é o fim do mundo e que a gente consegue ser crianças ou adolescentes iguais aos outros”, conta.
Série na Netflix reforça representatividade dos pacientes mirins
Não é só nas redes sociais que histórias de superação de crianças e adolescentes diabéticos vêm ganhando espaço. A série de TV “The Baby-Sitters Club”, que estreou recentemente na Netflix, é um sucesso de produção por trazer, entre outros temas, a representatividade em uma personagem jovem com diabetes tipo 1.
A produção conta a história de cinco adolescentes amigas que decidem criar sua própria agência de babás, e precisam lidar com os desafios de administrar um empreendimento durante uma época tão conturbada da vida. Uma das jovens, Stacey, interpretada pela atriz Shay Rudolph, possui diabetes e desencadeia um papel fundamental de representatividade na série.
E, ao contrário do que imaginava Matheus, não são poucos de sua geração que convivem com a doença. Segundo dados do Atlas Diabetes, divulgado pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), na América Latina, 127,2 mil jovens convivem com o diabetes, e o país com mais registros é o Brasil: 95,5 mil casos. Cerca de 98,2 mil crianças e adolescentes com menos de 15 anos são diagnosticados com diabetes tipo 1 a cada ano – o número sobe para 128,9 mil quando a faixa etária se estende até os 20 anos.
Cultura pop ajuda a alertar pais, diz endocrinologista
Nos últimos tempos, a cultura pop vem exercendo um papel fundamental na mediação de discussões de doenças que acometem adolescentes, como por exemplo, a questão da ansiedade e depressão na série “Thirteen Reasons Why”, o autismo na produção de “Atypical” e transtornos alimentares no filme “To The Bone”. Essas produções desencadeiam a curiosidade do público e consequentemente os debates nas redes sociais.
Com a série “The Baby-Sitters Club” não foi diferente. A produção que reforça a importância de falar sobre o diagnóstico do diabetes ainda na adolescência ganhou repercussão por representar a realidade de milhares de jovens que convivem com essa realidade.
A representatividade de personagens na cultura pop é fundamental para os adolescentes acreditarem que não há nenhum problema em falar sobre a doença. No caso desta produção, é um alerta para pais e jovens também, por levar conhecimento e mostrar a importância do tratamento para melhorar a qualidade de vida”, afirma a médica endocrinologista Mariana Pereira, consultora da Roche Diabetes Care.
Sobre a doença
O diabetes é caracterizado pela produção insuficiente ou má absorção de insulina, hormônio que regula a glicose no sangue. Há dois tipos mais comuns de diabetes: o tipo 1 aparece geralmente na infância ou adolescência, possui início rápido, seus sintomas são mais evidentes (muita sede, muita fome e perda de peso), e requer tratamento com insulina; e o tipo 2 é normalmente diagnosticado em adultos, apresenta poucos sintomas e está associado a obesidade, sedentarismo e fatores hereditários, sendo geralmente tratado com medicamento oral.