A morte da cantora Preta Gil, aos 50 anos, após uma incansável luta contra o câncer colorretal, colocou o tema em evidência e chamou a atenção da população, que ainda tem muitas dúvidas sobre a doença, que engloba tumores do intestino grosso e do reto, sendo o quarto tipo mais frequente no Brasil, atrás apenas dos cânceres de pele, de mama e de próstata. 

Embora seja bastante prevalente, o câncer colorretal – também conhecido como câncer de intestino grosso – ainda é motivo de muitas dúvidas que acabam criando crenças que não correspondem à realidade sobre a doença e podem inclusive atrapalhar o diagnóstico e manejo.

Pensando nisso, o Portal Vida e Ação selecionou conteúdos de renomados especialistas brasileiros, recebidos em nossa Redação, para esclarecer os principais pontos sobre esse tipo de tumor. Afinal, quem tem intestino preso tem mais risco de desenvolver câncer colorretal? Comer carne vermelha e carne processada em excesso pode levar à doença? Fazer colonoscopia regularmente pode prevenir o câncer de intestino?

6 mitos e verdades sobre o câncer colorretal

Por Gabriel Zanardo, oncologista clínico da Oncomed-MT

1. Alimentação adequada pode ajudar a prevenir o câncer de intestino

✅ Verdade. Uma alimentação saudável tem papel essencial na prevenção do câncer colorretal. O consumo de fibras, presentes em frutas, vegetais, cereais integrais e leguminosas, ajuda a regular o funcionamento intestinal e reduzir a exposição da mucosa do intestino a substâncias carcinogênicas. Além disso, é fundamental evitar alimentos ultraprocessados, embutidos e carnes processadas. A moderação no consumo de álcool e o não tabagismo também são fatores importantes para diminuir as chances de desenvolver o câncer de intestino.

2. O câncer de intestino pode ser hereditário

✅ Verdade. Apenas 10% dos casos de câncer colorretal são de origem hereditária. Embora a maioria dos cânceres colorretais não tenha relação com fatores hereditários, algumas síndromes aumentam consideravelmente o risco da doença. Dentre elas, a Síndrome de Lynch é a mais conhecida, sendo associada a mutações genéticas que predispõem os pacientes ao desenvolvimento de câncer intestinal. Pessoas com histórico familiar de câncer colorretal devem procurar orientação médica para um acompanhamento mais rigoroso, que inclua rastreamento precoce e exames genéticos.

3. A colonoscopia é um exame muito doloroso

❌ Mito. O exame é realizado sob sedação, garantindo que o paciente não sinta dor ou desconforto durante o procedimento. O máximo que pode ocorrer após a colonoscopia é um leve inchaço abdominal devido ao ar inserido para a visualização do intestino, mas essa sensação passa rapidamente. O exame é considerado seguro e essencial para a prevenção e diagnóstico precoce.

4. Fazer colonoscopia regularmente pode prevenir o câncer de intestino

✅ Verdade. A colonoscopia é uma ferramenta fundamental na detecção precoce e na prevenção da doença. Durante o exame, é possível identificar pólipos intestinais – formações benignas que podem evoluir para câncer ao longo do tempo – e removê-los antes que se tornem malignos. A recomendação atual é que pessoas sem fatores de risco comecem a fazer a colonoscopia a partir dos 45 anos, a cada cinco anos.

5. O uso de aspirina pode ajudar a prevenir o câncer de intestino

✅ Verdade, mas com ressalvas. Alguns estudos em fases iniciais indicam que o uso contínuo de aspirina em baixas doses pode ter um efeito protetor contra o câncer colorretal, especialmente para pessoas com predisposição genética. O medicamento age reduzindo inflamações, o que pode inibir as formações de pólipos.

No entanto, seu uso indiscriminado não é recomendado e não pode ser utilizada com essa finalidade, pois a aspirina pode causar efeitos colaterais graves, como sangramentos gastrointestinais e perfuração do estômago. O uso da aspirina como estratégia de prevenção deve ser avaliado por um médico, que considerará os riscos e benefícios para cada paciente.

6. Apenas quem tem sintomas deve fazer exames preventivos

❌ Mito. O câncer colorretal é uma doença silenciosa em suas fases iniciais, ou seja, pode não apresentar sintomas. Quando os sinais aparecem – como sangue nas fezes, alteração persistente do hábito intestinal (diarreia ou prisão de ventre), perda de peso sem explicação e dores abdominais, a doença pode estar mais avançada. Por isso, a realização de exames preventivos, como a colonoscopia, é essencial para o diagnóstico precoce do câncer. A recomendação é que todas as pessoas, mesmo sem sintomas, realizem o exame a cada 5 anos. Já aqueles que apresentarem sintomas persistentes devem fazer a colonoscopia, independentemente da idade.

8 principais mitos e verdades sobre a doença

Por Artur Ferreira, oncologista

1. Homens estão mais propensos a ter câncer colorretal.

VERDADE. A diferença não é tão grande (por isso não motiva diferenças nas diretrizes de rastreamento da doença de acordo com o sexo), mas existe. Em termos absolutos e em nível mundial, indivíduos do sexo masculino são mais propensos a ter câncer colorretal. A estimativa mundial para o ano de 2020 apontou cerca de 1,9 milhão de novos casos, cerca de 1,1 milhão de casos novos em homens e 800 mil casos novos em mulheres.

2. Comer carne vermelha e carne processada em excesso pode levar ao câncer colorretal.

VERDADE. Dietas ricas em carne vermelha e em carnes processadas estão associadas a um maior risco de surgimento do câncer colorretal, conforme ratificado em relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) de 2015. Em números, entende-se por consumo excessivo desses tipos de alimentos o que passe de 100 gramas por dia de carne vermelha e de 50 gramas por dia de carne processada. O ideal é que o consumo desse tipo de alimento seja limitado no máximo a duas vezes por semana e, nas outras refeições, substituído por carnes brancas, ovos, derivados de soja e outras fontes de proteína.

3. Quem tem intestino preso tem mais risco de desenvolver câncer colorretal.

DEPENDE. Em teoria, pode-se observar um risco aumentado do câncer colorretal em pacientes com intestino preso (constipação), pois tempos prolongados de trânsito do intestino podem aumentar o tempo de exposição da parede intestinal às substâncias que estimulam o surgimento do câncer presentes nas fezes (carcinógenos).

Além disso, a constipação altera a flora bacteriana local, e pesquisas recentes sugerem que infecções intestinais por bactérias específicas podem aumentar o risco de tumores colorretais. Porém, deve ficar claro que intestino preso não é um fator clássico de risco e os resultados acerca desta relação são conflitantes. Merecem mais importância, neste contexto: idade, obesidade, sedentarismo, dietas ricas em carne vermelha e pobres em vegetais/fibras, diabetes e tabagismo.

4. O câncer colorretal sempre apresenta sintomas – logo, se não houver dor na região, não é necessário se preocupar.

MITO. Isso é válido não apenas para os tumores colorretais, mas também para todos os tipos de tumores de forma geral: a ausência de sintomas não significa ausência de doença. Inclusive é importante destacar que nas fases iniciais, os tumores não costumam gerar sintomas e, quando presentes, eles podem ser confundidos com um mal estar passageiro, como uma dor abdominal inespecífica, perda de peso sem motivo aparente ou alguma mudança no padrão de evacuação. Por isso, é importante estar atento aos check-ups de rotina e respeitar as indicações de rastreamento orientadas pela equipe médica.

5. Algumas doenças inflamatórias podem aumentar o risco de câncer colorretal.

VERDADE. Entre os fatores relacionados ao surgimento de tumores colorretais, as doenças inflamatórias intestinais são causas bem conhecidas e associadas ao aumento do risco. Nos casos de retocolite grave e extensa, por exemplo, o risco de desenvolvimento de câncer colorretal pode ser 5 a 15 vezes maior em relação à população geral.

6. Se um pólipo for detectado, é certeza de que o câncer logo aparecerá.

MITO. É fato que a maioria dos tumores colorretais surge a partir da transformação maligna de pólipos intestinais, mas apenas uma pequena parcela desses pólipos progredirá para tumores. Por esse motivo, quando um pólipo é detectado no exame de colonoscopia, deve ser removido e analisado por um patologista.

7. Todas as pessoas que têm câncer colorretal precisam usar bolsa de colostomia.

MITO. A colostomia (situação em que o intestino se exterioriza através de um orificio na parede do abdome para a eliminação das fezes) é uma estratégia utilizada apenas em alguns casos de câncer colorretal – por exemplo: após urgências médicas, como obstruções ou perfurações intestinais, cirurgias de emergência ou tumores localizados no canal anal ou na parte mais baixa do reto.

Com a evolução das técnicas cirúrgicas e a otimização dos cuidados ao paciente, a probabilidade de uma pessoa necessitar de colostomia reduziu drasticamente. Quando necessário, o procedimento é realizado com o intuito de permitir a eliminação das fezes para uma bolsa coletora de forma temporária ou permanente, a depender do caso.

A colostomia temporária é indicada quando a doença que acomete o cólon pode ser tratada e há expectativa de reconstrução do trânsito intestinal em um futuro próximo. Já a colostomia definitiva é realizada quando o problema que bloqueia o trajeto intestinal não pode ser corrigido ou quando o tratamento cirúrgico envolve a remoção do ânus ou porção final do reto, tornando inviável a reconstrução do trânsito intestinal.

8. É possível prevenir sempre.

MITO. Dentre os fatores de risco do câncer colorretal, como dito anteriormente, é possível observar uma relação com os hábitos alimentares e de vida, além de condições prévias de saúde. Como forma de prevenção, o oncologista reforça que é necessário seguir algumas orientações.

Deve-se investir em uma dieta rica em fibras e uma menor ingesta de carnes vermelhas e  processadas, praticar atividades físicas, evitar bebidas alcoólicas e tabagismo e, manter ativo fisicamente e com peso adequado. Além disso, é importante investigar se o paciente possui doenças inflamatórias intestinais crônicas, como a doença de Crohn ou colite ulcerativa e, se presentes, tratá-las. A observação de todos esses pontos certamente reduz em muito o risco, porém não o elimina por completo “, finaliza Artur Ferreira.

Com Assessorias

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