O ônus econômico e social do câncer de colo de útero no Brasil é significativo. Este estudo reitera o apelo urgente por políticas públicas assertivas para mitigar as disparidades, ampliando a cobertura da imunização anti-HPV e do rastreamento. Com a detecção precoce, a demanda por cuidados paliativos diminuirá e permitirá a otimização da alocação de recursos para oferecer aos pacientes brasileiros o melhor tratamento oncológico”, diz um dos trechos do estudo.
Nos dados analisados, o percentual das pacientes que precisaram passar por quimioterapia aumenta de acordo com o estágio em que o câncer é identificado, assim como a frequência de internações e visitas ambulatoriais por mês. O estudo reforça o tamanho do problema para o país, onde o diagnóstico em estágio avançados ocorre em 60% dos casos, segundo os pesquisadores.
Estágio do câncer no momento do diagnóstico | Necessidade de quimioterapia | Internações por mês | Visitas ambulatoriais por mês |
1 | 47,1% | 0,05 | 0,54 |
2 | 77% | 0,07 | 0,63 |
3 | 82,5% | 0,09 | 0,75 |
4 | 85% | 0,11 | 0,96 |
Outro ponto levantado é o das disparidades sociais e econômicas relacionadas à doença. Até 80% das mortes ocorrem em países de baixa e média renda, como o Brasil. Segundo o estudo, a maioria dos diagnósticos deste tipo de câncer abrange mulheres não brancas, com baixa escolaridade, que dependem do SUS.
Como apenas uma minoria dos casos de câncer de colo de útero tem diagnóstico precoce no Brasil, este estudo destaca o alto ônus econômico para o setor de saúde pública, especialmente considerando os atrasos no diagnóstico. Portanto, reforça a necessidade urgente de direcionar mais esforços para a prevenção e o rastreamento, à medida que avançamos em direção às metas de eliminação do câncer de colo de útero”, diz um dos trechos do estudo, ao avaliar os resultados.
Piora dos casos na pandemia
O levantamento destaca o impacto da pandemia de Covid-19 no tratamento do câncer de colo do útero no SUS. A proporção de pacientes que realizaram apenas cirurgia foi de 25,8% em 2020, enquanto esse percentual era de 39,2% entre 2014 e 2019.
Além disso, houve redução de cerca de 25% nos procedimentos de radioterapia, com ou sem cirurgia ou quimioterapia, em todos os estágios. Já a quimioterapia isolada aumentou em 22,6% em média para todos os estágios.
A análise é de que houve lacunas no tratamento, que foram causadas pelo colapso hospitalar durante a pandemia. E que esse cenário pode ter impacto significativo na saúde das pacientes. As consequências a longo prazo ainda estão sendo determinadas.
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Prevenção com vacina disponível no SUS
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que aproximadamente 19 mulheres morrem diariamente no Brasil em decorrência do câncer de colo do útero, e para 2025, são esperados 17 mil novos casos. Os pesquisadores reforçam que cerca de 99% dos casos de câncer de colo de útero ocorrem por infecções persistentes do Papilomavírus Humano, o HPV.
Portanto, a prevenção deve ser feita por meio da vacinação contra o vírus; exames de rotina, para o rastreio da infecção e de suas lesões; e tratamento das lesões pré-cancerígenas. A imunização contra o HPV é a principal forma de prevenção do câncer de colo de útero e também está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde, por meio da vacina quadrivalente. Ela protege contra os tipos do vírus mais associados ao câncer e é indicada para adolescentes de 9 a 14 anos
Também é estendida a pessoas de 9 a 45 anos nas seguintes condições:
- diagnosticados com HIV/Aids;
- em tratamento de quimioterapia e/ou radioterapia;
- transplantados de órgãos sólidos ou de medula óssea;
- vítimas de abuso sexual;
- diagnosticados com imunodeficiência primária ou erro inato da imunidade;
- em uso de profilaxia pré-exposição contra o HIV (PrEP) entre 15 e 45 anos.
Farmacêutica que financiou estudo quer vender vacina de R$ 1,5 mil para o SUS
Já na rede privada, a vacina nonavalente está disponível para pessoas entre 9 e 45 anos, mas o alto custo inviabiliza o acesso de boa parte da população – o imunizante Gardasil 9 (nonavalente), fabricada pela farmacêutica que financiou o estudo, chega a custar mais de R$ 1.500 a dose.
A MSD argumenta que a nonavalente – como o próprio nome indica – protege contra nove tipos de HPV e, se disponível no SUS, poderia reduzir ainda mais os casos de câncer de colo de útero e outras doenças relacionadas ao vírus no Brasil. A empresa iniciou estudos de custo-efetividade para apresentar ao Ministério da Saúde.
O objetivo é demonstrar que a vacina nonavalente, apesar de mais cara, pode trazer benefícios a longo prazo, o que poderia gerar economia para o SUS. O Ministério da Saúde analisa a incorporação da vacina nonavalente, mas ainda não há previsão para sua inclusão no Plano Nacional de Imunizações (PNI).
O câncer de colo do útero é uma doença prevenível por meio de vacinação contra o HPV, realização de exames preventivos e tratamento adequado de lesões pré-cancerígenas, e esses dados reforçam a necessidade de estratégias abrangentes de prevenção e conscientização em todas as idades”, defende a empresa.
Alta prevalência da infecção em duas fases da vida da mulher
Um estudo global de meta-análise realizado em cinco continentes com mais de 1 milhão de mulheres com resultados citológicos normais trouxe à tona dados significativos e alarmantes sobre a prevalência do HPV, sugerindo que a infecção por esse vírus apresenta picos significativos em duas fases distintas da vida das mulheres: antes dos 25 anos e após os 45 anos de idade.
De acordo com a meta-análise, a prevalência global do HPV entre as participantes do estudo foi de 11,7%, com variações significativas conforme a região geográfica e a faixa etária. No primeiro pico de infecção pelo HPV em mulheres, as jovens de até 25 anos de idade apresentaram uma taxa de infecção de 24%.
A prevalência do HPV tem uma queda nas mulheres de meia-idade, e volta a aumentar em mulheres acima dos 45 anos de idade, quando a prevalência pode chegar a 10%. Esse segundo pico pode ser atribuído a diversos fatores, incluindo a diminuição da imunidade com a idade e a falta de triagens regulares, como o Papanicolau, que são essenciais para a detecção precoce de alterações cervicais relacionadas ao HPV.
Essa informação desafia a crença comum de que o risco diminui com a idade, sublinhando a importância do rastreamento contínuo e da conscientização sobre o HPV mesmo em idades mais avançadas. O combate ao HPV é um desafio contínuo, e a conscientização e a educação são peças-chave para proteger a saúde das mulheres em todas as etapas da vida”, destaca.
Da Agência Brasil e MSD Brasil