A morte da atriz sul-coreana Kang Seo-ha, de 31 anos, no último dia 13 de julho, chama atenção para o aumento de casos de câncer abaixo dos 40 anos. Conhecida por atuar em k-dramas como Heart Surgeons – Cirurgiões Cardíacos e First Love Again, Kang havia sido diagnosticada há pelo menos um ano com um câncer de estômago em estágio IV.
Em todo o mundo, cerca de 1,3 milhão de pessoas entre 15 e 39 anos foram diagnosticadas com câncer em 2022, de acordo com as estatísticas mais recentes disponíveis da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer. Os tipos mais comuns nessa faixa etária foram o câncer de mama, de tireoide, cervical, de testículo, de ovário, cânceres no sangue (leucemias e linfomas) e colorretal, de acordo com os dados da agência. As estatísticas globais, regionais e nacionais sobre o câncer em pessoas com idades entre os 15 e 39 anos estão disponíveis aqui.
Embora o controle da doença a longo prazo ou a cura sejam o objetivo, concluir o tratamento não significa necessariamente que a experiência de um jovem com o câncer tenha terminado. Isso significa que muitos pacientes adolescentes ou jovens adultos com câncer acabam vivendo por muitos anos, tendo que conviver com os desafios da sobrevivência ao câncer por décadas,” diz Allison Rosenthal, hematologista e oncologista da Mayo Clinic em Phoenix.
Hematologista enfrentou leucemia quando cursava Medicina
A experiência de Allison Rosenthal ao enfrentar um diagnóstico de leucemia enquanto estava na faculdade de medicina a inspirou a seguir uma carreira no combate ao câncer. Isso também lhe deu uma visão mais profunda sobre os aspectos da vida com câncer para pessoas com menos de 40 anos.
Atualmente, a Dra. Rosenthal está entre os líderes de uma iniciativa do Centro Oncológico Integral da Mayo Clinic para ajudar jovens adultos e adolescentes mais velhos a receber os cuidados e apoio adequados à sua faixa etária. “Tenho uma grande paixão e motivação para cuidar dos nossos pacientes jovens com câncer,” diz a Dra. Rosenthal. “Essas são algumas das pessoas que mais precisam de apoio após o tratamento.”
Os avanços nos tratamentos contra o câncer tornaram muitos dos tipos mais comuns entre os jovens altamente tratáveis e, muitas vezes, curáveis, afirma a Dra. Rosenthal. Neste alerta do especialista, a Dra. Rosenthal compartilha três tópicos que os jovens com câncer costumam querer discutir com suas equipes de saúde.
Além de ser um período de transição do atendimento médico pediátrico para o adulto, o final da adolescência e o início da vida adulta geralmente são momentos de grandes mudanças na vida, o que adiciona desafios ao combate ao câncer.
O programa para adolescentes e jovens adultos com câncer “é baseado na ideia de que centralizar os cuidados nas necessidades únicas desse grupo melhora sua experiência e seus resultados,” explica a Dra. Rosenthal.
Convivência com a doença impacta saúde física e emocional
Neoplasia ainda é diagnosticada tardiamente na maioria dos casos
Além do feedback de cada paciente, o Programa para Adolescentes e Jovens Adultos com Câncer conta com um conselho consultivo de pacientes, cujos participantes compartilham o que é importante para eles. “Temos tentado priorizar nosso trabalho com base no feedback que recebemos dos pacientes que estão passando por essa experiência,” afirma.
Há o impacto emocional que acompanha a experiência com o câncer, e isso pode ser significativo enquanto tentam seguir em frente com suas vidas. E também existem os efeitos físicos e o impacto duradouro dessa vivência.”
A Dra. Rosenthal observou que perguntas sobre estes três tópicos costumam estar na mente de pacientes no final da adolescência e na faixa dos 20 e 30 anos, durante e após o tratamento contra o câncer:
- Comportamentos de bem-estar e exercícios físicos.
“Existem diretrizes e recomendações sobre escolhas de estilo de vida, incluindo a prática de exercícios, mas é um pouco difícil ter acesso a essas informações e se comprometer a segui-las por conta própria,” explica a Dra. Rosenthal.
- Conexão com outros jovens e adolescentes com câncer e apoio extra para que saibam que não estão sozinhos.
“Quando seus colegas seguem em frente, é importante que não se sintam deixados para trás,” explica a Dra. Rosenthal.
- Saúde sexual e relacionamentos.
“Para muitas pessoas, é algo difícil de lidar,” diz a Dra. Rosenthal. “Pode ser desconfortável perguntar sobre isso. É difícil falar com os colegas a respeito. Estamos trabalhando muito para entender o que podemos fazer, de forma proativa, para oferecer o melhor apoio possível.”
A fertilidade pode ser afetada pelo câncer e pelo tratamento, tornando essenciais as conversas sobre preservação da fertilidade.
Cuidados paliativos podem ajudar pessoas mais jovens
Outra prioridade do Programa para Adolescentes e Jovens Adultos com Câncer é o planejamento de cuidados antecipados. Para pessoas mais velhas com câncer avançado, a introdução precoce dos cuidados paliativos costuma ajudá-las a viver mais e com melhor qualidade de vida, observa a Dra. Rosenthal. A mesma abordagem pode beneficiar pacientes mais jovens.
Estamos trabalhando em um projeto de planejamento de cuidados antecipados voltado para jovens com cânceres avançados, com o objetivo de empoderá-los para que eles possam expressar suas vozes enquanto ainda há tempo para isso, e não ter isso tirado deles também,” diz a Dra. Rosenthal. “Eu sei que ainda há muito a ser feito. Resultados a longo prazo, sobrevivência, qualidade de vida — tudo isso é muito importante.”
O programa adota uma abordagem multidisciplinar, envolvendo especialistas em câncer, assistentes sociais, psicólogos da saúde, além de orientadores financeiros e vocacionais.
Temos muita sorte da maioria dos jovens adultos em tratamento contra o câncer evoluírem bem a longo prazo; haverá muitos sobreviventes a longo prazo,” diz a Dra. Rosenthal. “Mas, se não prestarmos atenção aos efeitos colaterais dos tratamentos a longo prazo, à qualidade de vida e ao acompanhamento contínuo da saúde, então não estaremos oferecendo a esses pacientes o cuidado completo que eles realmente merecem.”
Câncer de estômago – principais fatores de risco
Desconsiderando os tumores de pele não melanoma, o câncer de estômago é a quinta neoplasia mais comum. De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados cerca de 21.480 novos casos por ano entre 2023 e 2025, sendo 13.340 em homens e 8.140 em mulheres.
Trata-se de um tumor que, na maioria das vezes, se desenvolve de forma silenciosa, dificultando o diagnóstico precoce. “Muitos pacientes chegam ao consultório com a doença em estágio avançado porque os sintomas iniciais são inespecíficos, como azia, perda de apetite ou sensação de estômago cheio”, explica o oncologista Mauro Donadio. “Por isso, em especial para quem tem fatores de risco, é essencial investigar qualquer sintoma persistente.”
Embora a causa exata do câncer gástrico ainda não seja totalmente conhecida, há diversos fatores que aumentam a probabilidade de seu desenvolvimento. Entre os principais estão o tabagismo, o consumo excessivo de sal e de alimentos processados, a infecção por Helicobacter pylori (bactéria que pode causar inflamações crônicas na mucosa do estômago), a obesidade, o consumo de álcool e o histórico familiar da doença.
Além disso, pessoas que trabalham expostas a produtos químicos, como benzeno, ou que lidam com radiação ionizante, também integram grupos de maior risco”, acrescenta Donadio. Mais raramente, os pacientes podem apresentar mutações hereditárias, como CDH1 da Síndrome de câncer gástrico hereditário, e instabilidade de microssatélites da Síndrome de Lynch.
Sintomas: atenção aos sinais
Nos estágios iniciais, o câncer de estômago pode não causar nenhum sintoma. Quando surgem, os sinais mais comuns incluem:
- Perda de peso inexplicada
- Náuseas constantes
- Sensação de saciedade precoce
- Indigestão frequente
- Dificuldade para engolir
- Inchaço abdominal após as refeições
- Vômitos (com ou sem sangue)
- Fezes muito escuras ou com presença de sangue
É importante lembrar que esses sintomas são comuns a outros problemas benignos, como úlceras e gastrites. Ainda assim, qualquer desconforto persistente deve ser avaliado por um médico.
Como é feito o diagnóstico
O diagnóstico do câncer gástrico é feito por meio de uma biópsia obtida durante a endoscopia digestiva alta. “O exame permite visualizar a mucosa do estômago e colher material para análise laboratorial. Em casos de confirmação da doença, novos exames de imagem são realizados para definir o estágio do tumor”, explica o oncologista da Oncoclínicas.
A depender do caso, o estadiamento pode incluir tomografias, ressonância magnética e até procedimentos cirúrgicos como a laparoscopia diagnóstica.
Tipos e evolução da doença
O tipo mais comum de câncer gástrico é o adenocarcinoma, responsável por cerca de 95% dos casos. Ele pode ser classificado em dois subtipos: intestinal, geralmente associado ao H. pylori e mais frequente em homens acima dos 60 anos, e difuso, que tende a acometer pessoas mais jovens e tem comportamento mais agressivo, muitas vezes associado a mutações genéticas como a do gene CDH1.
“Há também tumores menos comuns, como os linfomas gástricos tipo MALT e os GISTs (tumores estromais gastrointestinais), que têm abordagens terapêuticas específicas”, diz Donadio.
Conforme avança, o câncer pode ultrapassar a parede do estômago, atingir órgãos próximos, como pâncreas e baço, e se disseminar para outros locais do corpo por meio dos gânglios linfáticos ou da corrente sanguínea, configurando metástase.
Tratamento: abordagem multidisciplinar
O tratamento depende da localização, do tipo, do estágio da doença e das condições clínicas do paciente. As principais abordagens incluem:
- Cirurgia: É a principal opção nos casos em que o tumor pode ser removido. Pode envolver gastrectomia parcial ou total e a retirada de linfonodos.
- Quimioterapia: Pode ser feita antes (neoadjuvante) e/ou depois (adjuvante) da cirurgia, ou ainda como forma de controle em casos metastáticos.
- Radioterapia: Usada como tratamento paliativo ou combinada à quimioterapia em situações específicas.
- Terapias-alvo e imunoterapia: Avanços recentes na oncologia têm ampliado o uso dessas terapias, principalmente em casos avançados, com ganho em sobrevida e qualidade de vida.
“Hoje, conseguimos oferecer uma abordagem mais personalizada ao paciente com câncer de estômago. Em casos com expressão de certos biomarcadores, conseguimos usar imunoterapia ou terapias-alvo com bons resultados”, pontua Donadio.
Prevenção: o que pode ser feito?
A adoção de hábitos saudáveis é a melhor forma de reduzir o risco de câncer gástrico. Isso inclui não fumar, evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, manter uma dieta rica em frutas e vegetais, reduzir o sal e alimentos ultraprocessados, além de tratar adequadamente infecções por H. pylori.
Para quem tem histórico familiar ou fatores de risco, o acompanhamento médico e a realização de exames de triagem, como a endoscopia, são medidas fundamentais.
Embora não seja possível evitar todos os casos, podemos reduzir consideravelmente a incidência da doença com medidas preventivas e diagnóstico precoce. Essa é a chave para melhores resultados no tratamento”, finaliza Mauro Donadio.
Com Assessorias