Dezembro Vermelho marca uma grande mobilização nacional na luta contra o vírus HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Segundo dados do Ministério da Saúde, 92% das pessoas em tratamento no Brasil já atingiram estado de indetectável, ou seja, a pessoa não transmite mais o vírus e consegue manter a qualidade de vida sem manifestar o sintomas da Aids. Outra boa notícia é que, nos últimos 10 anos, o país registrou uma queda de 25,5% na mortalidade pela doença.

 

Com isso, o país atingiu duas metas propostas pela OMS para eliminar a infecção pelo HIV como um problema de saúde pública. Foi estabelecido pela OMS que um país deve ter 95% das pessoas infectadas diagnosticadas, 95% sob terapia e, das sob terapia, 95% com vírus não detectado no sangue, o que interrompe a transmissão por via sexual.

O Brasil alcançou mais uma meta de eliminação da aids como problema de saúde pública. Em 2023, o país diagnosticou 96% das pessoas estimadas de serem infectadas por HIV e não sabiam da condição sorológica. Os dados são do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e a aids (Unaids). O percentual é calculado a partir da estimativa de pessoas vivendo com HIV.

Para acabar com a aids como problema de saúde pública, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu metas globais: ter 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas; ter 95% dessas pessoas em tratamento antirretroviral; e, dessas em tratamento, ter 95% em supressão viral, ou seja, com HIV intransmissível. Hoje, em números gerais, o Brasil possui, respectivamente, 96%, 82% e 95% de alcance.

Em 2023, o Ministério da Saúde já havia anunciado o cumprimento da meta de pessoas com carga viral controlada (95%). Agora, novos dados mostram que ano passado o Brasil subiu seis pontos percentuais na meta de diagnóstico das pessoas vivendo com HIV, passando de 90% em 2022 para 96% em 2023. Com isso, é possível afirmar que o Brasil cumpre duas das três metas globais da ONU com dois anos de antecedência.

Tivemos, então, uma grande conquista, com 96% das pessoas diagnosticadas sob terapia e 95% em supressão viral. Agora, precisamos melhorar o diagnostico, pois temos apenas 82% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas”, conta o infectologista Evaldo Stanislau, gerente de Pesquisa Acadêmica da Inspirali.

O médico alerta para o diagnóstico frisando que é um trabalho que passa pela oferta continuada de oportunidade para fazer o teste mas, principalmente, pelo diálogo, pois ainda existe muitos medos e mitos sobre a doença, que é hoje plenamente controlada e compatível com uma vida normal para quem se trata. “Precisamos combater o preconceito que ainda afasta mutas pessoas do diagnóstico e da terapia”, declara.

Expansão da oferta da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP)

Segundo o Ministério da Saúde, o aumento foi registrado devido à expansão da oferta da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), uma vez que para iniciar a profilaxia, é necessário fazer o teste. Com isso, mais pessoas com infecção pelo HIV foram detectadas e incluídas imediatamente em terapia antirretroviral.

O desafio agora é revincular as pessoas que interromperam o tratamento ou foram abandonadas, muitas delas no último governo, bem como disponibilizar o tratamento para todas as pessoas recém diagnosticadas para que tenham melhor qualidade de vida.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, exaltou a meta atingida e lembrou do compromisso do governo federal em priorizar e recuperar esta pauta. “Não foi fácil essa reconstrução. Esse trabalho é resultado do diálogo com a sociedade civil e vários movimentos que, historicamente, também foram responsáveis pela centralidade que a agenda passou a ter como política pública”, observou.

Atualmente, o Brasil disponibiliza o tratamento para HIV e ISTs pelo SUS de forma muito simples. São comprimidos sem efeitos colaterais e com grande eficácia. Também existem formas de prevenção por meio de medicamentos.

Pessoas infectadas que tomam remédio direitinho para HIV podem ter sua carga viral indetectável, de forma controlada, e não transmitem mais o vírus por via sexual. Mas para pessoas que não tem o HIV, mas por alguma razão tenham sido expostas ao risco de estarem infectadas, existem medicações disponibilizadas pelo SUS”, explica o médico.

A profilaxia pré-exposição, do inglês PrEP Prep, para quem se identifica com uma vulnerabilidade maior de uma infecção por HIV, para o caso de pessoas, por exemplo, que não tem um parceiro sexual fixo, tem múltiplos parceiros ou não usam preservativo. E existe a possibilidade de, após até 72 horas de uma exposição de risco, a prevenção pós exposição, ou PEP, também encontrada no posto de saúde, para ficar protegido”, orienta.

Tratamento com nova medicação a cada 6 meses

O mês marcado pela conscientização sobre o tratamento precoce do HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis iniciou também com outra boa notícia em relação a tratamento da doença: O New England Journal of Medicine publicou recentemente a Fase 3 do estudo Purpose-2, em que se utilizou uma medicação injetável para prevenção da infecção pelo HIV, o Lenacapavir. Uma injeção por via subcutânea que deve ser aplicada a cada seis meses.

Foram 61 locais de pesquisa que representassem uma população expressivamente vulnerável ao risco da infecção composta por homens cisgênero ou mulheres transgênero que tenham como ponto comum de risco a prática de sexo anal receptivo sem preservativo. Foram incluídos 3265 participantes distribuídos entre o uso da prevenção como o Lenacapavir ou a medicação oral tradicional (emtricitabina-tenofovir).

A proteção conferida pelo Lenacapavir, além de superior, eliminou os contágios (0,10 infecções a cada 100 pessoas-ano). “Isso representa um feito extraordinário. O uso desta medicação pode representar o fim da transmissão sexual do vírus HIV. E isso merece uma celebração.”, complementa Stanislau.

As notícias são muito boas, mas vem junto também a responsabilidade dos dois lados. Primeiro, da realização do teste e, segundo, de não levar para frente o vírus. “Ninguém deve ter medo de realizar o teste, que deve ser feito pelo menos uma vez ou periodicamente para pessoas sexualmente ativas com múltiplos parceiros. Caso esteja infectado, você começa um tratamento simples que irá preservar não só a sua saúde, mas também evitar de transmitir para outras pessoas. HIV ainda não se cura, mas tem prevenção e controle 100% efetivos”, finaliza.

ISTs curáveis e não virais: o panorama no mundo

A estimativa, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é que mais de um milhão de ISTs curáveis e não virais ocorram diariamente no planeta em indivíduos com idade entre 15 e 49 anos. Em outubro de 2023, dados divulgados pelo MS mostraram que os casos detectados de sífilis por 100 mil habitantes aumentaram em 23%.

Um dos motivos para o crescimento das outras ISTs pode ser também o uso de Profilaxia Pré-Exposição (PREP), o medicamento para ser usado antes da exposição ao vírus por pessoas que não adotam o preservativo como método de prevenção.

De acordo com o boletim 2023 da UNAIDS – programa conjunto das Nações Unidas que tem como objetivo liderar e coordenar a resposta global à epidemia de HIV/AIDS, cerca de 39,9 milhões de pessoas no mundo estavam vivendo com HIV em 2023, sendo 1,3 milhão de pessoas infectadas naquele ano.

Entre eles, 38,6 milhões tinham 15 anos ou mais; 1,4 milhão tinham menos de 15 anos e 53% de todas as pessoas vivendo com HIV eram mulheres e meninas. Cerca de 5,4 milhões de pessoas não sabiam que estavam vivendo com HIV em 2023. Desde 2010, as novas infecções por HIV por ano diminuíram 39%, de 2,1 milhões para 1,3 milhão em 2023. No entanto, essa redução está muito longe da meta de ficar abaixo de 370 mil até 2025.

As mortes relacionadas à AIDS foram reduzidas em 51% desde 2010. Em 2023, cerca de 630 mil pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS em todo o mundo, comparado a 1,3 milhão em 2010. A meta para 2025 é de menos de 250 mil. E apesar do Brasil apresentar, nos últimos dez anos, queda de 25,5% na mortalidade dessa enfermidade, segundo o governo, cerca de 30 pessoas ainda morrem por conta dessa condição a cada dia no país.

Diante da maior prevalência mediana entre certos grupos de pessoas – 2,3% maior entre mulheres jovens e meninas de 15 a 24 anos na África Oriental e Austral; 7,7% maior entre homens que fazem sexo com homens; 3% maior entre profissionais do sexo; 5% maior entre pessoas que usam drogas injetáveis; 9,2% maior entre pessoas trans; e 1,3% maior entre pessoas privadas de liberdade, a PrEP é uma das formas de prevenção mais recentes do HIV.

O tratamento consiste em tomar determinadas medicações, com prescrição médica, que preparam o organismo a um possível contato com o vírus. Essa profilaxia pode ser feita de duas formas: a diária, que consiste em tomar continuamente os comprimidos, e a sob demanda, que ocorre quando a pessoa toma a PrEP somente numa possibilidade de exposição.

Estigmatização do HIV

Quando o vírus surgiu, há mais de 40 anos, e ocorreu epidemias de Aids em diversas nações, muitos homens que faziam sexo com outros homens eram afetados e a percepção era de que o HIV só era contraído por esse grupo. Esse estigma ainda gera efeitos até hoje.

Assim, muitas pessoas heterossexuais e mulheres, por exemplo, deixam de se prevenir por conta dessa crença. Apesar de representarem um menor número de infecções que os homens, em 2023, dados da UNAIDS apontaram que globalmente, 44% dos novos casos foram de mulheres e meninas de qualquer idade.

Em 13 anos, houve uma queda de 39% dos casos de HIV/AIDS ao redor do mundo, porém na América Latina houve um aumento de 9% de novos casos. Os dados foram apresentados no evento ‘HIV/AIDS: Conhecendo os direitos das pessoas e celebrando os avanços da medicina’ no dia 29 de novembro, pelo médico infectologista e pesquisador FMUSP, Rico Vasconcelos. 

O evento também contou com a participação de especialistas, autoridades e executivos que apresentaram e discutiram temas que englobam o papel da comunidade LGBTI+ e grupos de afinidade, a necessidade da criação de programas de diversidade, tipos de tratamentos, métodos contraceptivos e os principais problemas de acesso, garantia de direitos, e o papel e compromisso assumidos pela sociedade e pelos indivíduos por essa luta.

Com Assessorias

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