O churrasco de domingo não é mais o mesmo. Com o aumento no preço da carne bovina, os brasileiros estão repensando o cardápio e sendo obrigados a fazer substituições – ovos e carne suína já lideram a preferência. O custo pesou tanto no bolso que o país deve registrar o menor consumo de carne vermelha por pessoa em 26 anos.
De acordo com estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a queda na quantidade será de 14% neste ano em comparação a 2019, antes da pandemia. É o menor registro desde o início da série histórica em 1996, que teve seu ponto máximo em 2006, quando cada brasileiro consumiu, em média, 42,8 quilos de carne bovina.
Em 2020, o consumo caiu para 29,3 quilos por habitante e, neste ano, deve ser ainda menor. O aumento no preço da carne é explicado pela alta do dólar (que encarece o milho e a soja usados na alimentação dos animais) e pelo aumento nas exportações, responsável pela redução da oferta de carnes no país.
Nem mesmo a deflação de 0,21% no preço das carnes em setembro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), será suficiente para reativar o consumo, já que a alta acumulada em 12 meses (até setembro) ainda é de 24,84%.
Opções mais viáveis na mesa dos brasileiros
Mestre em Alimentação e Nutrição, Jhonathan Andrade, professor do curso de nutrição do UniCuritiba, da Ânima Educação, diz que em tempos de inflação, a alternativa é recorrer a opções mais viáveis ao bolso. “Alguns cortes são mais acessíveis, como a paleta e o fígado bovinos, suã (costelinha) de porco ou moela e coração de frango”, diz.
Outra dica do doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos é substituir a carne por ovos em diferentes preparações, evitando as frituras. Proteínas de origem vegetal como lentilha, ervilha, grão de bico, feijões (cavalo, fradinho, carioca, branco) ou cogumelos (Shiitake, Shimeji, Funghi) também são bem-vindas. Nestes casos, alerta o professor, ao consumir proteínas de origem vegetal é necessário incluir no cardápio combinações diferentes com os legumes.
O nutricionista Jhonathan Andrade explica que fazer substituições quando os alimentos sobem de preço é o primeiro passo, mas uma alimentação rica inclui frutas, vegetais, leites, derivados e cereais integrais em qualidade e na quantidade indicada para cada indivíduo.
“A nutrição é importante para o desenvolvimento, crescimento e saúde das pessoas em todas as fases da vida. A alta nos preços, da forma que estamos vendo, envolve outras questões de Segurança Alimentar e Nutricional e a discussão sobre ter alimentos acessíveis de qualidade a todos”, analisa.
Aumenta o consumo de ovos
Isso se dá por uma série de motivos, sendo o principal deles o aumento no preço da carne bovina nos supermercados brasileiros. No entanto, uma tendência ao autocuidado também atingiu a população como um todo em 2021, e isso gera uma busca maior por alimentos proteicos, saudáveis e de fácil acesso, sendo o ovo um deles.
“Além disso, devemos ter em mente que os custos para os produtores também aumentaram. Na criação das galinhas são usadas rações à base de farelo de soja e milho, commodities cotadas em dólar, que encareceu.”
Carne de porco como ‘aliada’ do ‘projeto verão’
Com a alta dos preços da carne bovina e de frango, que ultrapassam os 34% nos últimos 12 meses, segundo o IPCA, a carne suína tem se tornado cada vez mais atrativa ao consumidor e estimulado a produção da suinocultura nacional. O segmento registrou, no segundo trimestre de 2021, o abate de 13,04 milhões de cabeças de suínos, novo recorde da série histórica, iniciada em 1997.
A proteína suína também teve aumento no consumo per capita em 2021. No primeiro semestre do ano os brasileiros consumiram 17,58 kg de carne de porco (contra 16,88 kg em 2020) e 48,62 kg de frango (contra 47,23 kg em 2020).
Além da vantagem financeira durante o momento de instabilidade financeira e de alta inflação, a carne suína tem se destacado por ser um alimento rico em proteínas, ferro, potássio e vitaminas do complexo B e, ao contrário dos mitos populares, essa proteína também pode ser uma aliada do “Projeto Verão”, em processos de emagrecimento.
“A carne suína possui reconhecido valor nutricional e sensorial, sendo, por isso, uma das proteínas mais consumidas no mundo e a mais utilizada para a fabricação de produtos derivados. Ao contrário do que muitos pensam, ela combina, e muito, com uma dieta saudável e rica em vitaminas”, afirma a nutricionista Mariana Etchepare.
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos e professora do curso de Nutrição da Universidade Positivo, ela recomenda, de preferência, que o consumidor opte por cortes mais magros como o filé mignon, lombo, bisteca e pernil, preparados grelhados ou assados.
“De uma forma geral, para mantermos uma alimentação equilibrada o ideal é consumir a carne suína com preparações básicas do nosso dia a dia, o famoso arroz e feijão acompanhado de vegetais e hortaliças, sempre dando preferência por alimentos in natura ou minimamente processados”, destaca.
Para o gerente industrial da Alegra, Valdomiro Santuches, a variedade de cortes suínos traz a possibilidade de consumir a proteína com baixo teor de gordura. Segundo ele, a carne suína, inclusive, tem ganhado muita visibilidade pois o preconceito tem perdido força, ainda mais que a suinocultura brasileira tem grande preocupação com o bem-estar e com o cuidado nutricional dos animais. É um alimento seguro, saboroso, de fácil preparo e que combina com a mesa dos brasileiros”, acrescenta.
Alimentos inflamatórios devem ser evitados
Segundo o professor, a alimentação inadequada pode levar à obesidade e causar doenças como a síndrome metabólica. “É importante manter o equilíbrio. Nenhum alimento sozinho é causador de doenças: a questão está na quantidade, qualidade dos alimentos e em outros hábitos de vida. O que não se pode é substituir a boa alimentação por uma dieta baseada apenas em alimentos ricos em gorduras saturadas, como biscoitos recheados, sorvete, snacks de milho”, exemplifica.
Alimentos gordurosos, embutidos, enlatados, refrigerantes, bebidas alcóolicas e alimentos ricos em açúcar refinado estão na lista de itens que merecem atenção dos consumidores. Isso porque são considerados inflamatórios, ligados ao “estresse oxidativo” do organismo e ao surgimento de algumas doenças crônicas não transmissíveis, como colesterol alto, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.
Ainda que alguns estudos associem o consumo de carne vermelha ao câncer de estômago e intestino, o professor do UniCuritiba, Jhonathan Andrade, lembra que um alimento sozinho não é capaz de causar a doença.
“O câncer é multifatorial, mas o que podemos é relacionar a obesidade com o surgimento da doença. O excesso de gordura na carne vermelha favorece o aumento do peso, que pode ser um causador do câncer. O ideal é controlar o peso e manter uma alimentação equilibrada”, ensina.
De acordo com a a nutricionista Mariana Etchepare., uma alimentação “eclética” também é o segredo não apenas de um corpo mais magro, mas também mais saudável e longevo. Em se tratando de “Projeto Verão”, também é importante manter-se hidratado. A prática de atividade física com profissionais da área também é altamente recomendada”, finaliza a nutricionista.
Com Assessorias